Sociedade | 15-01-2024 21:00

Centro de Saúde de Vila Franca de Xira deixou utente sem resposta por falta de enfermeiros

Centro de Saúde de Vila Franca de Xira deixou utente sem resposta por falta de enfermeiros
João Guerra está incrédulo com o que aconteceu com a mulher e deixa um grito de alerta para que sejam introduzidas melhorias no funcionamento do centro de saúde de VFX

Caso aconteceu poucos dias antes do Natal. O marido da utente, ex-piloto da Força Aérea, deixou queixa no livro de reclamações. Nova Unidade Local de Saúde entrou em funcionamento em Janeiro.

Maria Beatriz Guerra, 75 anos, foi operada de urgência no Hospital de Vila Franca de Xira poucos dias antes do Natal e quando agendou atendimento no centro de saúde da cidade para remover os agrafos, parte importante do processo de recuperação, foi deixada sem solução para o seu problema e entregue à sua sorte.
O marido da utente, João Guerra, de 73 anos, ex-piloto da Força Aérea que vivia em Benavente e escolheu mudar-se para Vila Franca de Xira há ano e meio, está incrédulo com a situação e apresentou queixa no livro de reclamações da unidade de saúde. O casal não tem médico de família e recorreu a um médico particular para diagnosticar um quadro de vómitos e diarreias que acabou por levar a uma operação de urgência no hospital da cidade. “Entrámos às 10h30 da manhã nas urgências e às 12h30 já ela estava a ser operada”, elogia João Guerra. O problema, diz, veio depois, quando precisou de retirar os agrafos. “Agendámos o atendimento no centro de saúde e quando chegámos a recepcionista disse-nos que não havia enfermeiros por causa de greve. A minha mulher tinha de tirar os agrafos, perguntei qual era a solução e encolheram-me os ombros, disseram-me para voltar noutra altura. Ficámos à nossa sorte”, lamenta a O MIRANTE.
A unidade de saúde, diz João Guerra, não a encaminhou para qualquer outro centro de saúde da região, deixando a utente sem qualquer resposta para o problema. “Fiquei incrédulo e escrevi uma queixa no livro de reclamações. Não é admissível”, critica. Acabou por ir com a esposa à vizinha clínica Lusoxyra para ali tentar atendimento, ainda que pagando do seu bolso a intervenção. Nesse dia à noite o casal recebeu uma mensagem no telemóvel do centro de saúde informando que se devia dirigir lá no dia seguinte pelas 16h00. “Quando lá voltámos a mesma pessoa diz-me que continuavam sem enfermeiros. Estiveram praticamente 15 dias sem que os enfermeiros pusessem os pés no centro de saúde ao que parece. Não culpo os enfermeiros, culpo quem dirige o centro de saúde. Pedi para falar com a direcção e disseram-me que só em Alverca. Isto é brincar com a saúde”, critica.
Pela segunda vez foi obrigado a voltar à clínica privada para remover os agrafos. “Apesar de ter um cartão da Pátria a agradecer o facto de ter andado a pilotar no Ultramar nem sei para que serve. O que nos aconteceu é algo que deve envergonhar quem gere o centro de saúde”, lamenta João Guerra, que quis contar o seu caso a O MIRANTE para tentar sensibilizar os responsáveis pela gestão do centro de saúde a tomarem medidas que minimizem ou evitem estas situações. “Não deixem as pessoas abandonadas que foi o que fizeram à minha esposa. Quando lá fui, uma outra senhora que lá estava, que não tinha posses para ir a uma clínica, não tinha alternativas nem soluções para fazer um penso. É incrível. Este é um grito de alerta a quem dirige o centro de saúde, pois mesmo com greves deve haver serviços mínimos. Situações graves não podem ser deixadas ao abandono”, lamenta João Guerra, que diz compreender, com situações destas, por que motivo as urgências dos hospitais estão sempre entupidas.
O MIRANTE questionou a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e o Agrupamento de Centros de Saúde sobre este assunto mas não recebeu resposta a tempo da data de fecho desta edição.

Arrancou a nova ULS

No início deste ano entrou em funcionamento a nova Unidade Local de Saúde (ULS) em Vila Franca de Xira, que tem como director executivo Carlos Andrade Costa, que é também administrador do Hospital de Vila Franca de Xira. A ULS, recorde-se, é uma entidade pública de saúde que agrega o hospital e o agrupamento de centros de saúde. O novo modelo visa melhorar a prestação de cuidados de saúde primários, hospitalares e continuados, de forma integrada, à população residente no concelho que não tem médico de família.
“Continuamos a ter uma grande preocupação com a área da saúde e o funcionamento das unidades de saúde. Temos uma enorme falta de médicos que dificulta o acesso das pessoas aos cuidados de saúde. Vamos continuar a acompanhar esta situação que nos preocupa a todos”, afirmou o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, numa das últimas assembleias municipais em que o tema do mau funcionamento dos centros de saúde voltou a ser tema de discussão.

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