Sociedade | 15-01-2024 07:00

Moita Flores julgado por corrupção defende-se com teoria da cabala

Moita Flores julgado por corrupção defende-se com teoria da cabala
Francisco Moita Flores começou a ser julgado por corrupção e branqueamento no tempo em que era presidente da Câmara de Santarém

Francisco Moita Flores começou a ser julgado em Santarém por corrupção e branqueamento, no tempo em que era presidente do município, num caso que envolve a empresa que construiu o parque subterrâneo, a ABB e a empresa do filho.

Em causa está um cheque de 300 mil euros para uma empresa dos filhos. O escritor e ex-inspector da Judiciária diz que é vítima de um esquema e que o caso é uma “perversão judiciária”.

O julgamento de Francisco Moita Flores, acusado de corrupção e branqueamento quando era presidente da Câmara de Santarém, começou com o ex-autarca e escritor a fazer um discurso de duas horas em que por várias vezes desvalorizou a investigação da Polícia Judiciária e chamou depreciativamente aos inspectores da casa a que pertenceu “os rapazes”. E acrescentou que na PJ não há hábitos de leitura. Ao longo da sua intervenção defendeu-se com uma teoria da cabala e dirigindo-se ao colectivo de juízes do Tribunal de Santarém disse que “esses volumes que estão em cima da mesa são lixo”.
Na primeira pergunta feita por um dos advogados levantou-se uma questão de conflito de interesses por parte da inspectora coordenadora da investigação, porque quando ela era jovem a brigada a que pertencia Moita Flores fez uma busca a casa do pai dela. O ex-autarca e antigo inspector da Judiciária disse que conhecia a inspectora Perpétua Cristino no âmbito do caso em que o pai dela e o irmão foram detidos, há muitos anos, mas que agora não a conhece. Foi requerida pelo advogado do empresário Gaspar Barbosa Borges, da ABB Construções, também arguido, a suspensão do julgamento para se avaliar a questão da falta de imparcialidade e conflito de interesses, mas o colectivo de juízes não aceitou e deu um prazo de dez dias para juntarem provas tendo decidido continuar o julgamento.
Moita Flores considerou que primeiro o escolheram como criminoso e depois é que foram à procura das provas para o acusar dando sempre a ideia de que foi tramado pelos actuais autarcas de Santarém, como o presidente Ricardo Gonçalves e o vereador João Leite, a quem chamou um serviçal do presidente e dizendo que ele vai a tribunal mentir como já fez antes no processo. Moita Flores disse que é vítima de uma investigação inquinada com origem numa “perversão judiciária”. Comentando várias vezes situações que não estavam directamente relacionadas com os factos Moita Flores disse que apenas se sente culpado de ter “vindo para Santarém melhorar a cidade”, acrescentando que o fez com o sonho do 25 de Abril.
Francisco Moita Flores foi pronunciado pelos crimes de corrupção e branqueamento tendo a juíza de instrução criminal, Ana Cristina Cardoso, considerado existirem elementos suficientes de que o ex-autarca beneficiou a empresa ABB, que construiu o parque de estacionamento subterrâneo no centro da cidade, e que tirou vantagem disso. A juíza confirmou a tese do Ministério Público de que Moita Flores recebeu 300 mil euros por intermédio de sociedades ligadas ao grupo ABB e ao filho. Moita Flores diz que não era amigo do empresário da ABB, que até nem se davam bem, e que sustentou uma teoria de empréstimos à Introsys, dos seus filhos, para que a empresa se pudesse desenvolver.
O despacho de pronúncia realça que o cheque de 300 mil euros foi emitido em Braga, entrou numa conta da Introsys, do seu filho que também é arguido, na CGD de Almada, de onde saíram 250.813 euros para a sociedade Antinomia – Produções de Vídeo para uma conta do BES no Saldanha (Lisboa). Ana Margarida Fernandes disse estranhar que o valor tenha sido transferido para a Antinomia numa altura em que a Introsys estava em dificuldades financeiras e no mesmo ano em que foram tomadas as decisões que “beneficiaram a ABB”.

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