A poluição nas ribeiras da Boa Água e de Adofreire que deu muito que falar
As ribeiras da Boa Água e de Adofreire, em Torres Novas, sofreram durante anos com episódios de poluição que provocaram muita contestação por parte da população.
Agora que o problema parece estar resolvido, fomos saber como foi viver com maus cheiros à porta de casa. Responsável por movimento ambientalista diz que pegada deixada por empresa poluidora vai demorar a ser apagada.
Pedro Triguinho, um dos mentores do movimento Basta!, que tem lutado pelo fim da poluição na ribeira da Boa Água, em Torres Novas, considera que os mais de 700 mil euros investidos na remoção de resíduos da antiga fábrica Fabrióleo não chegam para eliminar o rasto deixado pela empresa de óleos vegetais entretanto desactivada. “No final de todos os trabalhos de remoção é necessário realizar uma descontaminação dos solos. Vai ser preciso gastar muito dinheiro. Só sabemos se a natureza regenera se se fizerem muitas análises e isso tem custos muito avultados. O protocolo celebrado com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), no valor de quase 750 mil euros, não vai chegar para apagar o impacto negativo deixado pela empresa”, sublinha a O MIRANTE.
A conversa com Pedro Triguinho, que não se considera um activista ambiental mas antes um homem que luta contra a injustiça, surge na sequência de uma reportagem de O MIRANTE sobre como foi viver junto à ribeira da Boa Água quando esta sofria de constantes episódios de poluição. Depois de muitos anos de reclamações da população os moradores acreditam ter o problema resolvido, versão também atestada por Pedro Triguinho. A poluição na ribeira da Boa Água originou também uma petição ao Parlamento Europeu assinada por quase seis mil cidadãos.
Mau cheiro, água escura, ar irrespirável, peixes e plantas sem vida eram algumas das consequências da poluição na ribeira. Um cenário que durou anos a mais, na opinião de Emília Pereira, residente no Nicho dos Riachos e dona de um café no mesmo local, situado perto da ribeira. “Era um cheiro horroroso, nem dentro de casa conseguíamos respirar. Tínhamos de ter as janelas e portas fechadas”, relata, explicando que o cheiro afectava a qualidade de vida da população e a saúde pública.
A Fabrióleo era vista como a maior fonte poluidora da ribeira. Após o encerramento da empresa as descargas poluidoras continuaram e o cheiro nauseabundo que os moradores sentiam também, segundo explica ao nosso jornal Emília Pereira. A moradora recorda com nostalgia os tempos em que se pescava na ribeira cujos peixes eram depois vendidos porta a porta espetados em paus. “Muitas famílias lavavam a roupa na ribeira quando a água era clarinha”, recorda.
Boicote eleitoral em Adofreire
A ribeira local de Adofreire foi outro caso de poluição contestado pela população que aconteceu durante muitos anos. Actualmente o problema está resolvido depois da instalação de saneamento básico na aldeia de Pedrógão há alguns anos, segundo explicam alguns moradores com quem O MIRANTE conversou. O mau cheiro e a água escura deviam-se aos esgotos que corriam a céu aberto. Alguns moradores recordam o dia em que a população não foi votar numas eleições presidenciais. Cerca de uma centena de eleitores fizeram boicote eleitoral por não haver nenhuma entidade preocupada em resolver o problema. Aconteceu a 14 de Janeiro de 2001 e, apesar de a maioria dos moradores já ter esquecido esse dia, uma moradora conta ao nosso jornal que chegaram a atirar a urna dos votos pela ribanceira abaixo. O protesto não deu resultado e o problema manteve-se até há poucos anos quando instalaram o saneamento básico no Pedrógão.