Penas suspensas de prisão para três arguidos no caso do acidente que vitimou Sara Carreira
Tribunal de Santarém julgou o caso da morte da cantora Sara Carreira num acidente na A1, a 5 de Dezembro de 2020.
O Tribunal de Santarém condenou na sexta-feira, 12 de Janeiro, a penas suspensas de prisão os três arguidos acusados de homicídio no caso do acidente que vitimou a cantora Sara Carreira em 5 de Dezembro de 2020. A juíza Marisa Dias Ginja considerou, na leitura da sentença, que para a morte da cantora na auto-estrada 1 (A1) “contribuiu o comportamento de todos estes arguidos”: Paulo Neves, que conduzia uma viatura alcoolizado e abaixo do limite de velocidade; a cantora de Almeirim Cristina Branco, que embateu na viatura de Paulo Neves; e o cantor Ivo Lucas, que conduzia o carro em que viajava Sara Carreira e chocou com o carro da fadista. Os advogados de defesa admitem recorrer da decisão.
O tribunal deu como provados todos os factos de que os arguidos estavam acusados e condenou Paulo Neves a três anos e quatro meses de prisão, uma pena suspensa por três anos sujeita a regime de prova. O actor Ivo Lucas foi condenado a dois anos e quatro meses de prisão, suspensa por dois anos e acompanhada também por regime de prova. Quanto a Cristina Branco, foi condenada a um ano e quatro meses de prisão, uma pena suspensa por igual período. Os três foram ainda condenados à inibição de conduzir - no primeiro caso por dois anos, no caso de Ivo Lucas por um ano e, no que respeita a Cristina Branco, por nove meses. O quarto arguido no processo, Tiago Pacheco, acusado de condução perigosa, foi condenado a uma multa de 150 dias à taxa de sete euros e à inibição de condução durante cinco meses.
Na leitura da sentença, a juíza considerou que Paulo Neves, Ivo Lucas (ambos acusados de homicídio por negligência grosseira) e Cristina Branco (acusada de homicídio por negligência) “contribuíram para o resultado” do acidente por terem assumido condutas como a omissão do dever de prestar cuidados, além de “condução desatenta”, “distração” e até “desleixo”, incumprindo com as regras de circulação rodoviária.
“Foram os três arguidos que, ao omitirem os deveres de cuidados, deram origem à morte da Sara”, afirmou a juíza, acrescentando que o acidente resultou de “Paulo Neves conduzir demasiado devagar e com álcool no sangue, de Cristina Branco não ter mantido a distância necessária e de Ivo Luvas conduzir na via central e em velocidade superior” à permitida por lei.
A magistrada criticou a conduta de Paulo Neves, que apontou como causador do acidente, pela “ausente capacidade de autocrítica” durante o julgamento, não conseguindo “assumir a sua responsabilidade”. Em relação a este condutor, considerou ainda “incompreensível” que apenas tenha sido submetido ao teste de alcoolemia quatro horas após o acidente, “quando a taxa estava já numa curva descendente” – quando se deram as colisões, estaria sob o efeito de uma taxa superior àquela que acusou (1,18 gramas por litro de sangue).
A juíza salientou ter ficado provado que não havia nevoeiro, apenas chuviscos, e que os condutores tinham visibilidade naquele local, pelo que Cristina Branco teria tido tempo de “reduzir a velocidade e evitar a colisão” com o veículo de Paulo Neves. O mesmo referiu em relação a Ivo Lucas, que colidiu com o carro de Cristina Branco depois de oito viaturas terem passado no local sem danos. “Os [quatro] piscas eram perfeitamente visíveis e havia condições para o Ivo desviar o carro”, disse a magistrada.
“O que aconteceu a Cristina Branco e Ivo Lucas pode acontecer a qualquer pessoa”, disse a juíza no final da leitura, advertindo que “quando se pega num veículo impõem-se cuidados extremos”. Dos quatro arguidos, apenas Paulo Neves não assistiu à leitura da sentença proferida no Tribunal Judicial de Santarém.
Tony Carreira insatisfeito com sentença mas não recorre da decisão
O cantor Tony Carreira disse que não vai recorrer da sentença que condenou a penas suspensas três arguidos do caso do acidente que vitimou a filha apesar de estar insatisfeito com a decisão do Tribunal de Santarém. “Na vida real toda a gente vai para casa, ninguém vai preso”, afirmou à saída do Tribunal de Santarém após a leitura da sentença do caso do acidente que provocou a morte de Sara Carreira.
Em declarações aos jornalistas, o cantor acusou os arguidos de adoptarem “uma táctica de advogados” acusando-os de jogar “a carta da amnésia” para dizerem “aquilo que lhes dá mais jeito”. Referindo-se directamente a Paulo Neves, que conduzia sob o efeito de álcool, Tony Carreira admitiu que não entendeu a intenção do Ministério Público em “ilibar uma pessoa que é bêbeda e que ia a 28 km/h”, tal como veio a ser reconhecido no julgamento.
“Para mim é o maior culpado deste filme todo”, afirmou o cantor que, apesar de “não estar satisfeito” com sentença e com o comportamento dos arguidos, revelou que não vai recorrer da decisão. “Hoje vou virar a página, aconteça o que acontecer não volto cá mais. Para ser sincero nem ouvi as penas”, disse Tony Carreira. Sobre o acidente, o cantor reforçou o facto de o tribunal considerar provado que a estrada onde ocorreu o acidente não apresentava problemas de visibilidade e criticou a GNR por ter realizado o teste de alcoolemia ao arguido Paulo Neves quatro horas depois do acidente.