Santarém não está fora das opções para novo aeroporto mas tem que ultrapassar constrangimentos
A Coordenadora da Comissão Técnica Independente respondeu a quem tem criticado o trabalho da sua equipa e questionado a sua isenção, numa sessão pública sobre o novo aeroporto, realizada na Casa do Campino, em Santarém. E deixou claro que Santarém não está fora das opções se o projecto conseguir resolver os constrangimentos de navegação aérea apontados.
A coordenadora da Comissão Técnica Independente (CTI) que fez a avaliação das possíveis localizações do novo aeroporto de Lisboa não admite a ninguém que ponha em causa a sua competência e credibilidade em relação a essa matéria, bem como as da sua equipa, sublinhando que não tem preferência por nenhuma das opções estratégicas avaliadas, entre as quais estão as de Santarém e do campo de tiro da Força Aérea, no concelho de Benavente. “Apontem um exemplo que possa dar essa indicação!”, afirmou Maria do Rosário Partidário, já perto do final da muito participada sessão pública, realizada em Santarém na manhã de 18 de Janeiro, para apresentação do relatório preliminar da CTI, que indicou Benavente e Vendas Novas como as melhores soluções.
Visivelmente agastada por sentir que tinha sido posta em causa a sua isenção e capacidade técnica, a professora catedrática rejeitou que tenha preferência por alguma solução, nomeadamente a do campo de tiro da Força Aérea, situado maioritariamente na freguesia de Samora Correia, concelho de Benavente. “Não admito que ponham isso em causa!”, exclamou.
“Não mandem para o lixo o trabalho que está feito”
Antes, já o presidente da comissão de acompanhamento da CTI, Carlos Mineiro Aires, havia tocado nesse tema, elogiando o trabalho do grupo liderado por Rosário Partidário e dizendo que ninguém se pode queixar de falta de informação neste processo. “Depois, como é costume em Portugal, entra-se pelo campo da difamação (…) Não posso permitir que belisquem a Comissão Técnica Independente e que atentem contra o carácter das pessoas que a integram”, disse.
O actual presidente do Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes deixou ainda um recado aos decisores políticos, a quem cabe escolher a localização do novo aeroporto: “Por favor, decidam e não mandem para o lixo este trabalho que está feito. Porque foram estudadas todas as opções possíveis, essa discussão acabou em Portugal e não há mais hipóteses de retomar um processo desses”.
Santarém tem constrangimentos de navegação aérea que precisam de solução
Rosário Partidário deixou também claro, de forma peremptória, que a CTI nunca excluiu Santarém, até porque não tem capacidade de decisão. Quem pôs em causa essa opção, disse, foi um parecer da NAV [entidade que assegura o controlo de tráfego aéreo em Portugal], que alude a constrangimentos no espaço aéreo (que implicam limitação no número de voos) devido à proximidade do Aeroporto Humberto Delgado (numa solução Lisboa + Santarém) e da base aérea de Monte Real (Leiria) numa solução de Santarém como HUB intercontinental. Numa operação Lisboa + Santarém seria necessária uma reestruturação do espaço aéreo; enquanto para uma operação de HUB intercontinental em Santarém seria fulcral uma grande cedência de espaço aéreo militar da base de Monte Real. “Esta é a informação técnica com a qual trabalhámos”, explicou a professora Rosário Macário, da CTI.
Esses constrangimentos de navegação aérea levaram os promotores do projecto de Santarém a efectuarem algumas alterações ao plano, que vão apresentar durante a fase de discussão pública do relatório preliminar da CTI, que termina a 26 de Janeiro. “Nós não tirámos Santarém da lista. O que estamos a dizer é que Santarém, por estas razões, é inviável. E se estas razões forem ultrapassadas deixa de ser inviável mas isso não quer dizer que seja a favorita”, reforçou Rosário Partidário, referindo que “cabe ao decisor eleger Santarém se assim o entender”, pois “tem todas as condições para isso”.
A última intervenção de Rosário Partidário foi suscitada em parte pelas palavras do presidente da Câmara de Alcanena, Rui Anastácio, que afirmara que vinha sentindo ao longo do tempo que se consolidava na cabeça da CTI que “um aeroporto na margem norte jamais”. O autarca acrescentou não perceber como se perde esta oportunidade de se implementar uma solução a norte do Tejo, “com uma localização privilegiada, com custos de infraestruturas baixíssimos num país que não tem dinheiro”.