Sociedade | 30-01-2024 21:00

Às portas de Vila Franca de Xira queima-se o lixo de 1,5 milhões de pessoas

Às portas de Vila Franca de Xira queima-se o lixo de 1,5 milhões de pessoas
Catarina Cristão e Susana Silva, da Valorsul, mostraram a O MIRANTE o trabalho de bastidores que é feito na central de valorização

O MIRANTE visitou a recém-requalificada Central de Valorização Energética da Valorsul na Bobadela. Só há duas centrais deste tipo em Portugal continental. Numa altura em que ainda se ouvem queixas da comunidade de Arcena por causa dos maus cheiros do aterro sanitário a empresa admite que já está em estudo uma localização alternativa a Mato da Cruz.

Depois de três meses a receber o lixo que não pôde ser queimado na Central de Valorização Energética da Valorsul, devido a obras profundas de manutenção desta, o Aterro Sanitário de Mato da Cruz, em Arcena, Alverca do Ribatejo, ficou mais próximo de estar lotado. De tal forma que pode ver a sua vida útil esgotada muito antes do prazo da licença ambiental emitida pela Agência Portuguesa do Ambiente, válida até 2026. A novidade foi avançada pela Valorsul a O MIRANTE, durante uma visita à Central de Valorização Energética da Bobadela, Loures, situada praticamente às portas da Póvoa de Santa Iria, já no concelho de Vila Franca de Xira.
“Como Mato da Cruz esteve durante três meses a receber resíduos da central, significa que o espaço de utilização em aterro foi utilizado e haverá uma redução da sua capacidade. Se não fosse esta paragem provavelmente chegaria até 2026, mas com esta paragem provavelmente não terá mais espaço para depositar resíduos em aterro”, revela Susana Silva, directora de comunicação e sensibilização da Valorsul. A responsável garante que a partir de agora o objectivo é aliviar a deposição de lixo naquele aterro. “Temos noção que Mato da Cruz está em fim de vida”, confirma.
Questionada sobre potenciais alternativas, Susana Silva confirma que esse trabalho já está em curso na empresa mas não revela onde, nem confirma nem desmente que possa vir a ser proposta uma pedreira desactivada no concelho de Vila Franca de Xira para esse fim. “Vão ser envolvidos os municípios para encontrar uma solução. Não sei dizer se será no concelho A, B ou C. A criação de uma nova unidade de valorização de resíduos tem sempre impacto junto da população onde vai ser implementada. Há um regulador e outras entidades que têm de ser envolvidas nesse estudo”, afirma.
Susana Silva nota também que é preciso ter em mente que existem metas ambientais para cumprir e que os resíduos têm de ser tratados, havendo, por isso, pouco tempo até 2030 para cumprir as determinações da União Europeia. “São metas extremamente desafiantes e esse é um tema que está na ordem do dia e a ser alvo de estudo. Muito em breve haverá informações sobre isso”, garante.
Sobre as queixas que ainda se ouvem no concelho de VFX sobre o funcionamento do aterro de Mato da Cruz Susana Silva explica que ainda há trabalhos de normalização a decorrer fruto dos três meses de paragem da central e que estarão concluídos nas próximas semanas, para alívio dos residentes.

Central a todo o vapor

A Central de Valorização Energética da Bobadela tem uma importância vital no tratamento dos lixos produzidos na zona da Grande Lisboa e Oeste e nela trabalham 75 pessoas. Por dia recebe e queima dois mil toneladas de lixo produzidas por 1,5 milhões de habitantes.
Juntamente com Catarina Cristão, técnica de comunicação da Valorsul, a empresa guiou O MIRANTE pela unidade após as obras de requalificação que eram uma necessidade urgente numa central com quase 24 anos de vida. “Tivemos de fazer obras devido a uma avaria numa turbina. Temos noção que esta paragem causou impactos na população e por isso aproveitámos para fazer uma obra que nos dará estabilidade durante muitos mais anos”, explica Susana Silva.
Não fosse queimar-se ali o lixo de 1,5 milhões de pessoas e o aterro sanitário de Mato da Cruz há muito estaria esgotado. O lixo chega em camiões que são pesados à entrada para que se saiba quanto lixo cada concelho está a entregar. Daí os camiões seguem para uma estrutura com três pisos de altura, de um tamanho semelhante a um campo e meio de futebol, onde duas garras gigantes operadas por duas pessoas passam 24 horas a colocar lixo em três fornos gigantes que o queimam a 900 graus. O calor produzido por essa queima transforma a água das caldeiras em vapor que, por sua vez, movimenta uma turbina que tem capacidade para produzir até 600 Gigawatts por ano, energia que é vendida à Rede Eléctrica Nacional. É o suficiente para alimentar uma cidade com 150 mil habitantes. Os gases da queima são tratados e os poluentes nocivos são retirados e misturados com cimento sendo enviados para uma área especial em aterro dedicada a resíduos perigosos. A queima produz as chamadas escórias, que são encaminhadas para Mato da Cruz e separadas. “Chegamos a ver objectos que sobrevivem à queima, como panelas de pressão, seguirem com as escórias e são elas que são depois alvo de triagem e valorizadas em Arcena”, explicam as responsáveis. O material ferroso separado das escórias em Mato da Cruz dava para construir quase 16.500 automóveis. O material que resta pode ser usado como sub-base para estradas ou cobertura de aterros.
“Nunca seria possível fazer esta intervenção mais depressa do que foi feita, foi uma intervenção profunda. Estamos a falar de mais de 300 trabalhadores de várias empresas que estiveram diariamente na central para se conseguir cumprir o prazo de intervenção”, concluem.

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