Deixa multinacional para manter drogaria com 120 anos no Cartaxo
A Drogaria Howell Guedes é uma marca na história do Cartaxo. Foi fundada por um engenheiro que esteve nas obras de construção do Aqueduto do Alviela e foi presidente da câmara.
O seu bisneto despediu-se de director comercial de uma multinacional para não deixar cair o negócio na Rua Batalhoz, que faz os óleos “Milagroso” e “Luminoso”, criados no estabelecimento e patenteados.
Frederico Guedes era director comercial na Iepsol quando começou a ver que o seu pai, Frederico Guedes, já não estava com saúde para manter aberta a centenária drogaria da família no Cartaxo. Deixou as funções e assumiu o negócio para dar continuidade a 120 anos de história. A Drogaria Howell Guedes tem o nome do bisavô, engenheiro civil inglês que esteve na construção do aqueduto do Alviela, para levar a água para Lisboa, e presidente da Câmara do Cartaxo entre 1904 e 1912. A data exacta da abertura do estabelecimento em 1904 perdeu-se com a destruição dos documentos num incêndio na câmara em 1970.
Em 2009 Fernando Guedes, que foi enólogo, dizia numa entrevista a O MIRANTE que tinha esperança de que o filho Frederico seguisse os seus passos, à semelhança do que fez aos 22 anos quando o seu pai, dono da Farmácia Guedes e da drogaria, faleceu. Frederico Guedes, de 58 anos, cumpriu o desejo do pai e orgulha-se de ter nascido por cima da drogaria, no prédio que era da bisavó. Cresceu a ajudar o pai no laboratório de análises de vinhos nas traseiras da casa e nas vendas na drogaria. Frederico Guedes, formado em engenharia química, pegou em fórmulas antigas e produziu os óleos “Milagroso” e “Luminoso”. O primeiro para nutrir madeira e o segundo para devolver o brilho ao alumínio, actualmente patenteados e procurados por pessoas de todo o país.
A drogaria na Rua Batalhoz dá primazia a marcas portuguesas. Os cremes Benamôr, as pastas dentífricas Couto e a gama de sabonetes Ach Brito e Confiança sobressaem nos expositores antigos. “A grande vantagem em relação às grandes superfícies é que aqui há um atendimento personalizado, sei exactamente o que precisam e explico como fazer”, realça. Frederico Guedes diz que ainda há “grandes casas” no Cartaxo como a Casa Brincheiro, de tecidos, e a Rui da Custódia, de ferramentas, salientando que “são estas casas que dão vida às terras e mexem com a economia local”.
O agora comerciante diz esperar que no Cartaxo não aconteça o mesmo que em Lisboa, onde as casas mais bonitas têm vindo a fechar. Frederico Guedes recorda quando a Rua Batalhoz tinha dois sentidos, mas não culpa o passado: “os carros circulam no sentido descendente. Este tipo de trânsito resulta em cidades que tenham grandes centros históricos em que as pessoas param o carro longe e vêm a pé visitar”. Frederico Guedes não tem filhos a quem deixar o negócio e acredita que o sobrinho, dono de uma loja de brinquedos, brindes e artigos de Carnaval, quase em frente à drogaria, vai ser o sucessor.
Frederico Guedes era presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária do Cartaxo aquando da explosão provocada por uma fuga de gás, em 1985, ajudando a salvar alguns colegas. Também foi presidente e director do Sport Lisboa e Cartaxo durante vários anos. Os seus dias são agora passados a fazer serão no laboratório, em entregas do “Milagroso” e “Luminoso” por Lisboa e ainda tratamento de vinhos, o que só é possível com a ajuda da irmã Maria Margarida. “Tenho muito orgulho na minha família. Queremos que a nossa casa se mantenha, pelo menos mais 100 anos”, deseja.