Sociedade | 07-02-2024 12:00

Victor Sobral viveu drama internado um mês e meio nas urgências do SNS

Victor Sobral viveu drama internado um mês e meio nas urgências do SNS
Victor Sobral conta que os 45 dias em que esteve internado no Hospital Distrital de Santarém foram um pesadelo

Victor Sobral, natural da Carregueira, foi uma das vítimas do acidente de viação que provocou três feridos em Outubro de 2023 junto ao Kartódromo de Almeirim. A O MIRANTE conta que passou uma das piores experiências da sua vida no Serviço Nacional de Saúde, onde esteve internado cerca de mês e meio.

Victor Sobral estava longe de imaginar o pesadelo que ia passar durante os cerca de 45 dias que esteve internado ao cuidado do Serviço Nacional de Saúde nomeadamente no Hospital Distrital de Santarém. Natural da Carregueira, foi uma das três vítimas de um acidente entre dois veículos, um deles um buggy, numa tarde de Outubro de 2023, na estrada entre Almeirim e Fazendas de Almeirim, junto ao kartódromo. A sua filha foi outra das vítimas, mas acabou por ter ferimentos menos graves do que o pai.
A O MIRANTE conta na primeira pessoa aquilo que diz ter sido uma das “piores experiências da sua vida” no Serviço de Ortopedia do HDS e que o levou a escrever uma carta aberta dirigida ao director clínico da instituição. Victor Sobral foi diagnosticado com lesões fundamentais, fractura exposta da tíbia, lesões várias no perónio da perna direita e fractura do úmero do braço esquerdo. Foi sujeito a três cirurgias, duas delas realizadas no bloco operatório de Santarém. “O que pretendo não é colocar em causa a competência clínica e técnica das diferentes equipas que lidera, mas dar nota do caos que impera no serviço e das falhas básicas no que, ao acompanhamento, organização e falta de noção do necessário humanismo diz respeito”, afirma.
Victor Sobral refere que, depois de ter passado as primeiras 24 horas no serviço de urgência do Hospital de Santa Maria, chegou a Santarém e ninguém conseguiu identificar o seu processo nos serviços, apesar da informação da equipa de bombeiros de que viria para transferência directa entre ortopedias, tendo sido encaminhado para triagem. Foi depois encaminhado para um espaço com mais três doentes, onde todos foram deixados à sua sorte durante várias horas, refere. “Não tínhamos forma de chamar ninguém, de garantir as nossas necessidades fisiológicas, nem ninguém que nos fornecesse um básico copo de água. No meu caso, a maca terá ficado com inclinação desfavorável à minha condição de fractura. Mantive-me acordado garantindo que não escorregava pela maca”, explica.
Feita a admissão, Victor Sobral foi internado no serviço de ortopedia tendo, segundo conta, passado a noite, juntamente com outros utentes, com um calor insuportável nos quartos, “fazia com que eu e o meu colega de quarto transpirássemos durante toda a noite. O calor que se fez sentir nos dias seguintes levava a que com frequência solicitasse água para beber. Ora não havia copos na enfermaria para fornecer um copo de água aos doentes. No meu caso foi utilizada a chávena do café da manhã para garantir que tinha forma de beber água. Acresce a todo este início catastrófico de internamento o facto de só ter conhecido o médico responsável pelo meu caso quatro dias depois do internamento e porque mais uma vez reclamei”, acrescenta. “Desumano, inaceitável e o espelho da forma como são tratados os doentes neste serviço. Pode parecer a descrição de um qualquer acontecimento num hospital de um país de terceiro mundo, mas não. Trata-se da forma como funciona o serviço de Ortopedia do Hospital Distrital de Santarém”, vinca.
Victor Sobral passou várias semanas no serviço de Ortopedia, onde diz existir falta organização, falta de método, falta de empenho de muitos profissionais presentes, falta de vontade, falta de escrutínio, “o que naturalmente faz com que falte profissionalismo”. Para Victor Sobral “não se valoriza a necessidade de acompanhamento ao doente, falhando na gestão do seu tempo hospitalar, nem se cumprem as informações que ao mesmo se prestam”. No entanto, deixa uma nota positiva. “Os auxiliares e enfermeiros que, abandonados no serviço, se reinventam e procuram apesar de tudo fazer o seu melhor”, finaliza.
O MIRANTE contactou o Hospital Distrital de Santarém com um pedido de esclarecimentos, mas até ao fecho desta edição não recebeu qualquer resposta.

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