Agricultores do Ribatejo dizem que estão a ser tratados de forma arrogante e desonesta
Várias centenas de agricultores concentraram-se na quinta-feira, 1 de Fevereiro, num protesto que condicionou o trânsito durante todo o dia na Ponte da Chamusca, depois da recusa da Vila Nova da Barquinha e Entroncamento em autorizarem manifestações nos seus concelhos.
Porta-voz do movimento diz que agricultores ficaram a “arder” com 35% dos apoios à produção.
Várias centenas de agricultores saíram à rua com os seus tractores para reclamar a valorização do sector e condições justas num protesto que bloqueou várias estradas do país, tal como aconteceu junto à Ponte da Chamusca na manhã de quinta-feira, 1 de Fevereiro. Em causa está uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores, que teve início pelas seis da manhã e durou todo o dia. O protesto decorreu um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).
Nuno Mayer, porta-voz do Movimento, afirma que “os agricultores ficaram a arder com 35% dos apoios à produção, ou seja, daquilo que estávamos a contar para manter os preços baixos e poder estar competitivos com o resto da Europa”, sublinhou, criticando que a confederação que “é suposto defender o sector tenha emitido um comunicado em que expressa a posição de não organizar nem participar em acções que condicionem o normal e regular funcionamento do Mercado Único e impeçam a livre circulação de bens agrícolas.
Reagindo ao anúncio do Governo relativo a um pacote de apoio ao rendimento dos agricultores Nuno Mayer garantiu que no Ribatejo e Oeste os agricultores não vão desmobilizar até que as promessas se concretizem. Os agricultores estão reconhecidos que o Ministério da Agricultura tenha entendido a asneira que fez, ao fazer mal os cálculos e tenha voltado atrás”, disse, considerando tratar-se de “um primeiro gesto de boa vontade”. Porém, vincou: “o banco que está à espera que eu pague o adiantamento destas ajudas não vai ter a boa vontade de esperar pelo dinheiro, tal como os fornecedores de sementes, de serviços de adubos”, sublinhou.
José Azóia, agricultor de 36 anos, natural de Casével, explicou a O MIRANTE a necessidade que houve do protesto criar impacto visual e atrair mediatismo. “Estamos fartos de ser tratados como ignorantes, menosprezados, enganados e mesmo traídos. O Ministério da Agricultura não nos tem tratado de forma honesta, sempre de forma desconfiada e arrogante”, lamentou em conversa com o nosso jornal.
Portugueses são mais pacíficos
Rui Vicente reside na Golegã e trabalha no Eco Parque do Relvão, na Carregueira. Esteve várias horas parado no trânsito uma vez que chegou à ponte ainda não eram sete da manhã. Às nove ainda estava parado na fila, sem saber se ia ou não ser prejudicado em relação ao seu dia de trabalho. Ainda assim, considera que os agricultores devem lutar pelos seus direitos porque defende ser um sector pouco valorizado para a importância que tem para a sociedade.
João David é motorista de pesados, trabalha na Batalha e passa na Ponte da Chamusca todos os dias a caminho do Eco Parque do Relvão. Também esteve várias horas parado na travessia. Embora o seu dia de trabalho tenha ficado comprometido João David apoia os manifestantes, salientando que comparativamente com o que estão a fazer em França “os portugueses são muito mais pacíficos”.
Barquinha e Entroncamento não autorizaram manifestações
Os agricultores do Ribatejo e Oeste juntaram-se na Ponte da Chamusca depois da recusa das autarquias do Entroncamento e Vila Nova da Barquinha em autorizarem manifestações nos seus concelhos. “É uma pena porque são câmaras do interior, em que a população é muito rural e vive da agricultura”, disse Nuno Mayer, lamentando igualmente a falta de apoio da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) ao protesto.
Em França os agricultores estão a bloquear várias estradas para denunciar, sobretudo, a queda de rendimentos, as pensões baixas, a complexidade administrativa, a inflação dos padrões e a concorrência estrangeira. O protesto também tem crescido em países como Espanha, Bélgica, Grécia, Alemanha ou Itália.