José Duarte: o empresário agrícola que se tornou um lobo do mar
José Duarte era empresário agrícola, em Coruche, onde nasceu e vive, quando vendeu a empresa e aceitou o desafio de um amigo para levar um veleiro novo de uma ilha das Caraíbas até à Grécia.
Não pensou duas vezes e, 15 anos depois dessa primeira aventura marítima, é capitão de veleiros. Viaja por todo o mundo e garante não trocar o silêncio do mar por nada. Já fez sete travessias do oceano Atlântico e 20 no mar Mediterrâneo. Atravessar o oceano Pacífico, conhecer o Pólo Sul e o Estreito de Magalhães são os seus próximos objectivos.
José Duarte, 55 anos, é um aventureiro e não pensou duas vezes quando o convidaram para levar um veleiro das Caraíbas até à Grécia. Foi a sua primeira viagem marítima, então como aprendiz. Nunca tinha entrado num veleiro. Viajou de avião até Tortola, nas Caraíbas, e saiu com a sua equipa em direcção às Bermudas. Poucas milhas antes de chegarem aos Açores apanharam uma tempestade enorme. “O mar cresceu muito. Não conseguíamos cortar para entrar nos Açores. Tivemos que continuar a descer em paralelo com a tempestade”, recorda o capitão de veleiros a O MIRANTE.
Para piorar a situação receberam, nessa altura, um alerta de um navio de guerra francês - que estava numa acção de busca e salvamento - que nos pediu para ajudarmos a procurar uma balsa que se tinha afundado perto do local onde estavam. “Ficamos todos muito tristes porque não conseguimos encontrar os tripulantes do veleiro. Além disso, como não conseguíamos chegar ao porto nos Açores começamos a ficar sem comida. A sorte foi que um membro da tripulação começou a fazer pão porque tínhamos os ingredientes”, conta. Após atracarem nos Açores, numa primeira fase da viagem que durou 15 dias, fizeram escala em Cascais, Gibraltar e Ibiza, até chegarem a Atenas, na Grécia. Uma viagem que no total durou cerca de dois meses.
José Duarte mudou radicalmente de vida aos 40 anos e tornou-se capitão de veleiros. Faz a entrega de novas embarcações – que podem ter entre 13 a 20 metros - em todo o mundo. É natural de Coruche, onde vive, e era empresário agrícola quando se divorciou, aos 40 anos, e vendeu a empresa. A sua vida de marinheiro começou há 15 anos como primeiro imediato, sendo capitão há cerca de cinco anos. A paixão pelo mar vem de criança, quando passava o Verão em Sesimbra. Na adolescência começou a praticar mergulho e desde os dez anos que pratica caça submarina.
“No mar temos que estar sempre alerta”
José Duarte trabalha como freelancer. Os meses de Janeiro e Fevereiro são os mais parados. A partir de Março começam a surgir contratos e são grandes as temporadas que passa longe de casa. A tripulação tem quatro ou cinco elementos, na maioria estrangeiros. Já fez sete travessias no oceano Atlântico e 20 no mar Mediterrâneo. Já esteve na Escócia, Dinamarca, Canadá, Estados Unidos da América, Croácia, Países Baixos, entre muitos outros. Diz que o Golfo da Biscaia [que liga a costa norte de Espanha à costa sudoeste de França] é sempre complicado por causa da meteorologia.
Uma vez demorou cerca de um mês a conseguir sair do porto porque o tempo não o permitia. Noutra viagem subiu a costa do Canadá e seguiu até Liverpool [Inglaterra] numa viagem muito difícil. Outra vez parou numa marina no centro de Amesterdão. Falta-lhe atravessar o oceano Pacífico, mas garante que esse objectivo está para breve. Chile, Pólo Sul e o Estreito de Magalhães são outros destinos que pretende concretizar.
“Todas as viagens são marcantes, ganho experiência. Nunca pensei desistir. O veleiro é frágil. É preciso ter espírito de aventura para fazer estas viagens. Sinto que sou um privilegiado por fazer o que adoro. Nesta profissão não se anda com pressa. Temos mais tempo, a mente fica mais leve. É muito boa a sensação de que o tempo passa devagar. Estar no meio do mar é um mundo completamente diferente daquele a que estamos habituados. No entanto, temos que estar sempre alerta porque pode surgir algum imprevisto ou uma tempestade que não detectamos antes”, explica, em conversa com O MIRANTE na sua casa em Coruche, onde regressa sempre por ser lá que tem a família.
O susto com emigrantes clandestinos fugidos de África
Há cerca de dois anos José Duarte e a sua tripulação apanharam um valente susto a meio da viagem entre as ilhas Canárias e Cabo Verde. No meio do oceano surge uma lancha em direcção ao seu veleiro a grande velocidade. A embarcação que capitaneava navegava à vela. Quando a lancha se aproximou verificou que eram africanos vestidos com camuflados verdes. O capitão achou que iriam ser assaltados. Apesar de falarem mal inglês pediram que José Duarte chamasse a polícia.
“Eram emigrantes clandestinos que fugiam do seu país em África e estavam perdidos no meio do mar. Desenhei-lhes um mapa do local onde estávamos, a cerca de 200 quilómetros das Canárias e a 100 quilómetros da costa africana. Disse-lhes que esperassem pela noite porque seria mais fácil ver a costa das Canárias. Mas eles queriam ser resgatados no mar por isso pediam para chamar a polícia. Não queriam voltar para África. Demos-lhes água e pão. Só não demos cigarros”, conta com um sorriso bem disposto.