Justiça deixa mãe de Vila Franca de Xira em desespero para reaver guarda dos filhos
A vida de Paula Mourão não tem sido fácil. Depois de ser vítima de violência doméstica viu os seus filhos serem-lhe retirados enquanto esteve internada no hospital. Desde então tem estado em luta para reaver a guarda dos dois menores.
Há dois anos que o silêncio reina nos quartos da casa de Paula Filipa Mourão, em Vila Franca de Xira, onde os seus dois filhos costumavam habitar e brincar. A aflição na voz da mãe ouve-se enquanto partilha com O MIRANTE o desespero de estar há dois anos a tentar recuperar a guarda das crianças, sem sucesso.
As camas estão feitas e os brinquedos dispostos nos quartos à espera que as crianças regressem. A vida de Paula Mourão, de 28 anos, tem sido pautada pelo sacrifício. Foi criada no norte do país pelos seus avós e veio aos 14 anos viver com a mãe em Vila Franca de Xira numa casa de renda apoiada pelo município junto às piscinas da cidade, onde ainda hoje reside. A vizinhança diz ao nosso jornal que Paula Mourão é uma pessoa estimada no bairro.
Além de uma relação problemática de sete anos, em que foi vítima de violência doméstica, acumulou dois trabalhos para conseguir ganhar o suficiente para dar a melhor vida possível aos seus dois filhos: L. de 5 anos e M. de 4 anos. O excesso de trabalho e a pressão da relação deterioraram o estado de saúde mental de Paula Mourão, que sofreu um distúrbio bipolar e foi internada compulsivamente numa unidade psiquiátrica durante dez dias. Nesse período, como as crianças não podiam ficar com o pai, foram encaminhadas pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Vila Franca de Xira para uma unidade de acolhimento em Lisboa e depois para o centro de acolhimento temporário da Fundação CEBI de Alverca. “Estive internada e sempre me foram dizendo que quando ficasse bem os meninos me seriam entregues novamente. Dois anos depois nada disso aconteceu”, lamenta.
Por ordem do Tribunal de Família e Menores a guarda das crianças foi entregue a acolhimento de familiares de Paula Mourão. “Ando numa luta constante para ter os meus filhos, especialmente numa altura em que estou equilibrada financeira e psicologicamente. Tenho casa e todas as condições para os ter de volta. No fim do ano um juiz de família e menores decidiu prorrogar durante mais seis meses a estadia dos menores junto da família de acolhimento. Mas não há motivo aparente para essa prorrogação. Quando fui ouvida pelo juiz nem tive oportunidade de falar nem tão pouco a minha advogada”, lamenta.
Paula Mourão trabalha num supermercado do Carregado onde está efectiva há um ano, está medicada e a ser acompanhada no hospital. As perícias médicas que mostra a O MIRANTE indicam que consegue exercer as funções parentais. O último relatório médico, emitido a 29 de Dezembro de 2023, revela que se encontra estável e motivada para continuar os tratamentos e acrescenta não haver indícios de consumos aditivos. “Mostrou preocupação com os filhos e a vontade de voltar a ter uma vida em conjunto”, lê-se.
O desespero da mãe acentua-se a cada dia que passa. “Sinto-me injustiçada pelo tribunal e pela Segurança Social. Não são capazes de ver o lado de uma mãe que ficou doente mas que já está a recuperar. Só falta ter os meus filhos de volta comigo para ter uma vida feliz”, lamenta. O MIRANTE questionou a Segurança Social sobre este assunto mas não recebeu resposta até à data de fecho desta edição.