Luísa Alves montou um negócio em Tomar com mais de meio século de história
Luísa Alves tinha um sonho de criança que concretizou depois de casar com um barbeiro.
Em 1968 abriu um salão de cabeleireiro em Tomar que ainda hoje mantém as portas abertas. A continuidade está assegurada pelo neto, Rui Lopes, que descobriu a vocação para ser barbeiro quando estava à procura de emprego.
Luísa Alves e o marido abriram um salão de cabeleireiro e barbearia em Tomar em 1968 concretizando o sonho de criança da cabeleireira que garante ter tido dias sem mãos a medir com os clientes a fazerem fila à porta. Rui Lopes, neto do casal, é quem dá continuidade ao empreendedorismo e dedicação dos avós depois de descobrir que ser barbeiro lhe estava nos genes.
Desde criança, quando penteava as bonecas, que Luísa Alves, actualmente com 82 anos, sabia que queria ser cabeleireira e que ia ter o seu próprio salão. Ainda assim, e como tudo tem o seu tempo, primeiro vendeu batatas e melão no Mercado Municipal de Tomar para ajudar o pai, na altura com nove anos. Casou aos 17 anos e ainda foi trabalhar para uma padaria, mas quis o destino que ela encontrasse a casa ideal para abrir o seu salão de cabeleireiro, juntamente com o marido que já era barbeiro desde os 16 anos. Em 1968 Luísa Alves abriu o salão no andar de cima da barbearia, na cidade de Tomar, onde tinha uma cabeleireira a trabalhar, enquanto conciliava com a venda de frangos. Sem nenhuma formação foi aprendendo ao ver o marido e a sua ajudante até ao dia em que experimentou cortar o cabelo a uma cliente. “Cortei-lhe o cabelo como a Lady Di, a princesa de Gales, sem qualquer experiência. Foi um risco, mas sorte a minha que a cliente não sabia da minha inexperiência”, recorda, com um sorriso.
Foi a partir desse momento, também potenciado pelo sucesso do seu corte, que decidiu tirar o curso de cabeleireira em Lisboa e começou a ter mais clientela. “Tinha pessoas sentadas pela escada acima à espera para eu lhes cortar o cabelo”, lembra com nostalgia, acrescentando que na altura as clientes optavam mais pelo cabelo curto. “São as modas”, sublinha a O MIRANTE. Luísa Alves diz que sempre pautou pela descrição na sua relação com as clientes. Nunca quis calhandrices no salão e avisava sempre as empregadas que só podiam falar de assuntos que não ferissem a susceptibilidade de quem não estava para ouvir. “Nunca quis chatices no salão. Aqui sempre foi para trabalhar”, vinca. Quando o marido faleceu, em 2000, Luísa Alves deixou o salão de cabeleireiro e passou a dedicar-se à barbearia do marido. Passado mais de meio século ainda há homens que pedem para a cabeleireira lhes cortar o cabelo apesar de já ter deixado de exercer a profissão.
Neto dá continuidade ao legado
Rui Lopes, 44 anos, cresceu no salão dos avós e nunca se negava na altura de pôr mãos à obra. Lembra-se da alegria da avó com as clientes e do barulho da batida da tesoura no pente que o avô fazia enquanto pensava, principalmente nos dias em que as coisas não lhe corriam a gosto. Começou a aprender com a avó em 2017 quando se juntou ao negócio na altura em que estava desempregado e não encontrava trabalho na área em que se formou, Engenharia Civil. Tirou o curso de cabeleireiro em 2018, no Centro de Formação de Tomar, como uma “solução provisória” até conseguir voltar à sua área, mas acabou por descobrir a sua vocação. A relação do neto e da avó já era muito próxima e fortaleceu ainda mais depois do seu regresso à cidade de Tomar para apostar na continuidade do legado da família. Rui Lopes mantém as portas do Salão de Cabeleireira Luísa Alves abertas e ainda atende clientes do tempo em que o avô era vivo. Os temas de conversa são os mesmos: política, trabalho, futebol e, claro, mulheres.