Entrevista de Luís Silva a O MIRANTE dá que falar
Intervenção do vice-presidente da Câmara de Torres Novas, Luís Silva, sobre a urgência do hospital da cidade, em entrevista a O MIRANTE, gerou estupefacção entre os seus opositores políticos que não pouparam críticas.
O socialista, também confrontado pelo presidente da Unidade Local de Saúde, defendeu-se dizendo que a oposição quis fazer uma leitura errada das suas palavras e que nunca pôs em causa a qualidade dos profissionais de saúde.
As declarações do vice-presidente na Câmara de Torres Novas, Luís Silva, em entrevista a O MIRANTE, sobre a urgência básica do hospital da cidade não caíram bem à oposição que, na última reunião do executivo municipal, fez um ataque cerrado ao autarca socialista. O PSD disparou primeiro demonstrando “repúdio” e afirmando que alguém que quer ser candidato à presidência da câmara não pode proferir tamanhas “aberrações”. Também o vereador independente do movimento P’la Nossa Terra, António Rodrigues, se confessou “incomodado” com as palavras de Luís Silva.
Na entrevista ao nosso jornal, quando questionado se foi bem tratado durante o período em que esteve internado no hospital da cidade, onde há serviços que nem sempre funcionam, Luís Silva disse ter sido bem tratado pelos profissionais de saúde, mas lamentou que aquela urgência só sirva para “receitar aspirina”. Acrescentou ainda que quando o estado de saúde é delicado o doente é encaminhado para outro hospital e que, na sua óptica, foi um erro construírem-se três hospitais no Médio Tejo.
Para o vereador social-democrata Tiago Ferreira, tais afirmações “são de uma irresponsabilidade perversa pelo cargo que [Luís Silva] desempenha e pelas palavras e expressões que utiliza”. O vereador entende por isso que “alguém com um cargo político não pode pensar tamanhas aberrações”, ainda que possa ter queixas e possa ambicionar um maior número de valências. O que não se pode fazer, vincou, é pôr em causa a “qualidade e empenho dos profissionais deste serviço fundamental”.
Também o vereador independente, António Rodrigues, quis entrar em acção considerando, em jeito de quem dá uma lição de oratória, que Luís Silva não foi feliz nas declarações que fez a O MIRANTE e que era “mais sensato” ter dito que o hospital tem “fragilidades mas que o poder político tudo fará para as mudar”. O antigo presidente da câmara, que antecedeu o actual, defendeu ainda que Luís Silva se devia retractar publicamente dando a saber que o vice-presidente recebeu uma carta do presidente da Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo, Casimiro Ramos, a propósito das mesmas declarações.
Luís Silva também foi confrontado pelo presidente da ULS
Assim que lhe coube a palavra Luís Silva informou que já tinha respondido ao presidente da ULS e que nunca pôs nem põe em causa “os profissionais do centro hospitalar e do hospital [de Torres Novas] em especial. Estive lá recentemente e sei bem a qualidade dos profissionais que lá estão”, vincou, repudiando qualquer leitura errada que os seus opositores políticos queiram retirar das suas palavras. “Quando fiz referência foi à questão da urgência básica um vez que trata só de pequenas situações porque quando são complexas [os utentes] têm que se dirigir ao Hospital de Abrantes”, acrescentou, sublinhando que o facto de haver três hospitais traz proximidade mas também “constrangimento em termos do funcionamento dos serviços. Isso é reconhecido por toda a gente”.
Em concreto, sobre ter referido que a urgência básica só serve para receitar aspirina, Luís Silva, esclareceu que “obviamente era no sentido figurativo” e que, mais uma vez, “não quis ferir em nada o hospital nem os seus profissionais”.
Vereador do PSD contesta Urbanismo
A mesma entrevista de Luís Silva a O MIRANTE esteve também no centro da discussão da última reunião de câmara, realizada a 14 de Fevereiro, por causa das palavras do interlocutor acerca da postura do PSD quando pediu a sua demissão por causa do alegado caso de corrupção nos serviços de urbanismo, pelos quais Luís Silva é responsável. Considerando que o vice-presidente aborda o caso de “forma ligeira”, o vereador do PSD Tiago Ferreira diz não compreender como é que o pedido de demissão causou mágoa quando Luís Silva é há quase uma década responsável máximo por esse serviço. Além disso, afirmou, no pedido de demissão “nunca esteve em causa qualquer responsabilidade criminal mas responsabilidade política”.
“O que o senhor deveria assumir era a sua total falta de competência na gestão do Urbanismo que causa um sentimento de impotência e de mágoa nos cidadãos perante uma máquina burocrática que arrasta o andamento da generalidade dos processos. A mesma máquina que apresenta soluções rápidas para outros. O pedido de demissão não foi uma política de baixo nível como o vice-presidente lhe chama”, concluiu o social-democrata.
À Margem/Opinião
Ai Jesus que se apaga a luz
A entrevista de Luís Silva a O MIRANTE deu pano para mangas na reunião de câmara porque o vice-presidente meteu o dedo na ferida que ninguém quer ver mas que todos sabem que existe. As urgências do Hospital de Torres Novas não funcionam e a construção de três hospitais na região foi um erro de palmatória que agora é difícil reparar. O presidente da Unidade Local de Saúde do Médio Tejo escreveu a Luís Silva a pedir-lhe contas como se o que ele disse na entrevista fosse mentira. Na próxima semana O MIRANTE publica uma entrevista com o presidente da Ordem dos Médicos, que é Personalidade do Ano Nacional de O MIRANTE, onde é reconhecido mais uma vez o erro da dispersão de recursos na região e o que custa aos doentes andar a saltitar de hospital para hospital. Resumindo: Luís Silva usou um termo mais em jeito de brincadeira para caricaturar as más políticas na saúde na região e o resultado ia sendo pedirem a sua cabeça para a pendurarem na forca. Realmente é preciso cuidado quando se fala em aspirinas numa região em que andam todos a toque de Xanax.