Mulheres que quebram preconceitos em profissões associadas aos homens
Instituto Politécnico de Tomar foi palco do testemunho de mulheres que admitem não gostar de estereótipos e que exercem com orgulho profissões habitualmente associadas a homens. Carla Cardoso trabalha numa oficina, Andreia Mendes é bombeira e Sandra Mesquita é motorista de pesados de passageiros.
Carla Cardoso, 33 anos, veio do Brasil há dois anos com o marido e filhas e é bate-chapas numa oficina em Tomar. Foi uma das mulheres que deu o seu testemunho numa iniciativa realizada no Instituto Politécnico de Tomar, que visou contribuir para a desconstrução de preconceitos e para a igualdade de género nas profissões. Carla Cardoso trabalhou como costureira e na restauração. Em 2021 descobriu um curso gratuito de bate-chapas, tornando-se a segunda mulher a frequentar o curso no Brasil em 10 anos. Quando chegou a Portugal disseram-lhe que as mulheres só trabalhavam em restauração ou em casa, mas Carla Cardoso estava determinada em trabalhar numa oficina e foi pedir emprego a uma empresa de Tomar.
O actual patrão, na altura, disse-lhe que ao longo dos 50 anos de profissão nunca tinha visto uma mulher bate-chapas, mas aceitou que ficasse uma semana em período experimental. Apesar dos colegas estranharem nos primeiros dias, acabaram por se tornar grandes amigos e passaram-lhe ensinamentos que ainda não sabia. “Recuperar carros tornou-se uma paixão”, diz, acrescentando que a profissão também lhe ensinou a não ligar a preconceitos e julgamentos. Manter a feminidade numa profissão onde está sempre rodeada de homens foi também uma das dificuldades que conseguiu ultrapassar com o tempo, assim como impor limites na maneira como alguns homens se dirigem e brincam com ela. “Faça o que gosta independentemente do que os outros dizem”, aconselha.
A paixão pelos bombeiros
Andreia Mendes, 38 anos, é bombeira-sapador na corporação de Bombeiros do Município de Tomar, apesar da profissão ser vista como “masculina” devido aos esforços físicos que envolve, conta. Começou há 20 anos ao inscrever-se na recruta e pertenceu ao primeiro grupo de mulheres a entrar nos Bombeiros de Tomar. Enquanto bombeira voluntária nos primeiros tempos passou muito tempo no quartel, apesar da vontade e energia, devido ao intuito de protecção e à falta de confiança por partes dos colegas. Ao longo do tempo e depois de muita persistência conseguiu demonstrar o seu valor e capacidades. Hoje em dia há mais mulheres bombeiras e existe uma maior aceitação pela sociedade. Em determinadas situações, até é mais benéfico que o socorro seja prestado por uma mulher. Apesar dos desafios, Andreia Mendes sempre teve o desejo de ajudar o próximo, recordando-se de ocorrências que a fizeram sentir realizada como ajudar uma criança a nascer e evitar que uma mulher se suicidasse.
A motorista que foi paraquedista
Sandra Mesquita, 47 anos, é motorista de pesados de passageiros há quase uma década em Tomar. Sempre gostou de brincar com meninos e jogar à bola, mas a sua mãe nunca achou grande piada a isso, ao contrário do irmão mais velho que podia brincar como quisesse porque era homem. A motorista viveu sempre com o lema de “ser livre”, recordando o dia em que disse aos pais que queria ir para a tropa para ser paraquedista, apesar da mãe lhe dizer para estudar. O pai aceitou a decisão por achar tinha de ter responsabilidade pelas próprias escolhas. Foi paraquedista durante uma década, trabalhou numa fábrica de ovos, até se tornar motorista de autocarros. Quando começou ainda existia preconceito por parte das pessoas mais velhas por ser uma mulher, confessa, recordando o dia em que uma passageira rezou a viagem toda por estar a ser conduzida por uma mulher. Apesar de, por vezes, ainda ouvir certos comentários de outros condutores, Sandra Mesquita diz que “temos de aproveitar a vida ao máximo a fazer o que gostamos”.
As mulheres que fazem a diferença
Ao longo do dia, o seminário no Instituto Politécnico de Tomar recebeu vários testemunhos de mulheres, da região e não só, que fazem e fizeram a diferença nas suas áreas de actividade. No painel de oradoras esteve uma geóloga mineira, Ana Maria Antão, uma professora de Matemática no IPT, Ana Nata, uma magistrada do Ministério Público, Joana Marques Vidal, uma oficial da Marinha Portuguesa, Mónica Martins, e uma sondadora mineira, Lucinda Batista.