Sociedade | 07-03-2024 21:00

Aníbal Vieira: Se calhar ficamos mais 50 anos à espera da decisão do novo aeroporto

Aníbal Vieira: Se calhar ficamos mais 50 anos à espera da decisão do novo aeroporto
Aníbal Vieira, Vigário-geral da Diocese de Santarém

O MIRANTE não acompanha a campanha eleitoral para as legislativas por razões que se prendem com a falta de actualização da lei eleitoral; até ao dia da reflexão só falaremos de eleições nos casos em que o Homem morder o cão. No entanto estamos ligados. Todas as nossas notícias reflectem o dia-a-dia das pessoas e das instituições da região. Este jornal vai para as bancas a três dias das eleições e é o nosso contributo para darmos voz a quem ajuda a gerir o território e já sabe que vai eleger políticos de quem nada pode esperar ao nível da coesão territorial porque o Sistema aparentemente não o permite.

O vigário-geral da Diocese de Santarém considera que a questão do novo aeroporto devia ter sido mais debatida entre os políticos nestes tempos pré-eleitorais, para se perceber com clareza o que cada um pensa sobre o assunto e as várias opções sobre a mesa. “Essa questão devia realmente ser mais debatida. Foi criada uma comissão técnica que a gente ainda não percebeu se era verdadeiramente independente ou se já estava inquinada”, reflecte o padre Aníbal Vieira, que diz não ter dúvidas que “a localização em Santarém contribuiria mais para o desenvolvimento do interior”.
Referindo que os dois maiores partidos comprometeram-se a fazer o estudo sobre as várias opções para o novo aeroporto e que agora parecem não se querer comprometer com nenhuma solução, o sacerdote recorda que um dos candidatos a primeiro-ministro até já teve uma escolha feita – Pedro Nuno Santos, em relação ao Montijo -, que poderá ter que rever. Perante tanta reviravolta neste processo, Aníbal Vieira diz com alguma ironia que “se calhar ficamos mais 50 anos à espera da decisão”.
Quanto às manifestações e greves, reconhece que nem sempre se compreende a justiça de algumas decisões e que há grupos profissionais que se consideram preteridos em relação a outros. Acrescenta que neste ambiente de alguma agitação social a própria comunicação social também dá uma certa ajuda ao tomar mais as dores de uns do que de outros, acabando por não ajudar até as próprias decisões políticas e administrativas.
“Por exemplo, tem-se discutido mais a questão dos professores do que da Educação. Os números da violência no namoro têm vindo a disparar, aumentou o abandono escolar, veio o problema de agressividade entre jovens nas escolas, mesmo de nível sexual, mas o que tem estado mais na ordem do dia é a questão dos professores. Ou seja, o problema de um determinado grupo não está a ser equacionado no todo do processo. E acho que é uma necessidade que o país tem”, salienta Aníbal Vieira.
Sobre os casos de justiça envolvendo políticos, não considera que esteja a haver algum exagero por parte do Ministério Público. “Não sinto isso, mas sinto que a reserva de uma certa privacidade e do princípio da presunção da inocência não têm sido salvaguardados, porque alguém dá informação a meios de comunicação social para acompanhar as buscas”, declara.
O padre Aníbal Vieira entende que esses casos envolvendo políticos fragilizam o regime: “Porque alimentam aqueles que se apresentam como salvadores e conseguem manter uma imagem de salvadores da Pátria, quais dons sebastiões que vêm em manhã de nevoeiro. Isso afecta claramente aquilo que é a democracia”.
Em relação ao que tem faltado ao nosso país para se conseguir desenvolvimento e paz social, declara que somos um povo muito bom a desenrascar, que consegue trabalhar bem num processo definido, mas tem imensa dificuldade a projectar a longo prazo, a planear. E diz que se não se conseguir estabelecer um pacto de regime entre os principais partidos para se fazerem reformas estruturais, “pelo menos que se criasse um conselho de sábios, ao nível quase dos senadores, que pudessem ter uma perspectiva maior de desenvolvimento do país”.

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