José Pires: “Temos liberdade para falar, mas a liberdade não nos mata a fome”
O MIRANTE não acompanha a campanha eleitoral para as legislativas por razões que se prendem com a falta de actualização da lei eleitoral; até ao dia da reflexão só falaremos de eleições nos casos em que o Homem morder o cão. No entanto estamos ligados. Todas as nossas notícias reflectem o dia-a-dia das pessoas e das instituições da região. Este jornal vai para as bancas a três dias das eleições e é o nosso contributo para darmos voz a quem ajuda a gerir o território e já sabe que vai eleger políticos de quem nada pode esperar ao nível da coesão territorial porque o Sistema aparentemente não o permite.
Viver neste país e nesta região é um desafio e o presidente do Grupo de Dadores de Sangue de Vialonga, José Pires, é céptico: “Não sou pessimista mas isto não vai melhorar no nosso tempo, talvez no tempo dos meus netos”, nota. O dirigente associativo diz que 50 anos depois da revolução de Abril o país e a região não melhoraram. “Não mudou praticamente nada. Podemos falar livremente hoje em dia, sim, mas a liberdade não nos mata a fome. Antigamente havia indústrias do Carregado até Lisboa e fechou tudo. Agora estão a construir logística, para distribuir os produtos fabricados lá fora. Não é com armazéns que se desenvolve o país e a economia, é com agricultura e fábricas”, defende.
O estado actual da Saúde preocupa-o, sobretudo por estar ligado a um grupo de dadores de sangue que dá o seu melhor para ajudar o próximo. “Andamos nós a trabalhar por amor à camisola e depois quando precisamos de uma consulta temos de esperar meses, para não dizer anos. Não somos recompensados pelo que fazemos. O estado actual da Saúde é uma desconsideração para com os utentes”, critica. Não sabe como mudaria o cenário mas não tem dúvidas que Portugal está a caminhar para um beco sem saída. “Basta ver o que aconteceu com o Governo e o que aconteceu na Madeira. Tanta coisa com a corrupção e afinal ficou tudo em águas de bacalhau. Esta Justiça envergonha-me”, critica.
Para o dirigente, a falta de um “Governo em condições da esquerda à direita” nos últimos 50 anos é responsável por um atraso de desenvolvimento que custa a ignorar. “Eles são bons quando estão cá fora, quando se apanham no poleiro não querem saber do povo”, lamenta José Pires, para quem a quantidade elevada de manifestações só serve para fazer o protesto perder força. “Veja-se as manifestações em França e noutros países, aí são a sério. Cá são manifestações a brincar. O povo português é calmo e sereno”, lamenta.