Sociedade | 08-03-2024 23:15

“Os animais foram os meus amigos durante a clandestinidade”

“Os animais foram os meus amigos durante a clandestinidade”

Tertúlia “Filhas de Abril”, organizada pela Câmara de Alpiarça, juntou mulheres que foram filhas e esposas de presos políticos durante a ditadura. No pólo enoturístico da Casa-Museu dos Patudos contaram as suas memórias desses tempos e das marcas que ficaram para a vida. Sessão decorreu ao final da tarde desta sexta-feira, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.

O pai de Herculana Velez era funcionário do Partido Comunista Português (PCP), que lutava por melhores condições salariais e melhorar as condições de vida do povo, entrou para a clandestinidade com a esposa e a filha, na altura com dois anos. Herculana Velez viveu na clandestinidade até aos oito anos e das memórias que guarda desses tempos foi de viver isolada e não ter amigos. A família andava sempre de terra em terra, sobretudo durante a noite, e nem tinham mobílias porque poderiam ter que sair do lugar em que estavam a qualquer momento.

Os seus companheiros e amigos foram um coelho, um pintassilgo e um pinto. “Os animais foram os meus amigos porque não podia dar-me com outras crianças. Naquele tempo as crianças brincavam na rua e eu nem sequer podia ir para a janela para eles não me verem e não me convidarem para ir brincar com eles. Nessas alturas a minha mãe chamava-me para irmos brincar para o quintal”, recorda.

Herculana Velez foi uma das participantes na tertúlia “Filhas de Abril”, que decorreu ao final da tarde desta sexta-feira, 8 de Março, no pólo enoturístico da Casa-Museu dos Patudos. Durante o encontro algumas filhas e mulheres de antigos presos políticos, que lutaram com a ditadura, contaram as suas experiências do tempo em que não havia liberdade, nem se podia ouvir música ou haver determinados livros em casa.

A presidente da Câmara de Alpiarça, Sónia Sanfona (PS), aproveitou a sessão para, no Dia Internacional da Mulher, afirmar que as mulheres são diferentes e que essa diferença é complementar e essencial à sociedade. “Direitos que fomos adquirindo não os podemos perder porque se isso acontecer dificilmente os voltamos a conquistar. A mulher é o esteio da sociedade. Tem uma força e capacidade de sacrifício e as coisas funcionam muito com base na natureza da mulher”, sublinhou.

* Notícia completa na edição semanal impressa de O MIRANTE.

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