Sociedade | 21-03-2024 10:00

Sofia é um exemplo a vencer as barreiras da trissomia 21

Sofia é um exemplo a vencer as barreiras da trissomia 21
Sofia Ferreira trabalha há 17 anos como voluntária do Jardim de Infância do Cartaxo

Ter nascido com Síndrome de Down não impediu Sofia Ferreira de ter uma vida activa e fazer o que gosta. Há 17 anos juntou-se ao Jardim de Infância do Cartaxo, onde trabalha com crianças do pré-escolar e é descrita como multifacetada. Um exemplo de como a integração é possível num país onde a percentagem de trabalhadores com deficiência se mantém residual no sector privado.

Sofia Ferreira, natural do Cartaxo, nasceu há 51 anos com trissomia 21, mas não deixou que a doença cromossómica se tornasse uma barreira na sua vida. Há 17 anos, incentivada pelo pai após o falecimento da sua mãe, tornou-se voluntária no Jardim de Infância do Cartaxo (JIC), onde apoia crianças do ensino pré-escolar. Conhece os cantos à casa visto ter trabalhado na creche e ATL da instituição onde a inclusão de pessoas com deficiência faz parte da política de estágios e contratação.
De bata vestida Sofia Ferreira interrompe o trabalho para a conversa com O MIRANTE, a propósito do Dia Internacional da Síndrome de Down, que se assinala a 21 de Março, e que começa sobre como se define: “Como alguém que faz de tudo”. Alegre e comunicativa, apresenta-nos as salas e as educadoras de infância. Conta-nos que trabalha de segunda a sexta-feira das 08h00 às 17h00 e que de manhã não sai de casa sem fazer a cama e beber o seu chá com mel. A viagem para o trabalho é feita no autocarro do jardim-de-infância, que pára junto aos correios da cidade para a recolher e no final do dia de trabalho deixá-la junto à residência onde mora com o irmão.
Uma das tarefas diárias que realiza, é a da contagem das crianças, que depois encaminha para as salas e ajuda a vestir e calçar sempre que necessário. Em troca recebe o carinho e os abraços de cada uma delas. Durante o período das refeições Sofia fica responsável por ir buscar as caixas com o pão e recolher a loiça no final. Os dias agitados contrastam com o seu modo de estar em casa, onde prefere o silêncio e reza, conta, para ganhar energia para o dia seguinte. Gosta de pintar e desenhar e ao sábado tem explicação, onde treina a escrita, a leitura e o cálculo matemático. A sua vontade, afirma com convicção, é poder trabalhar enquanto o corpo e a idade lhe permitirem.

Integrar ensina os mais novos a conviver com a diferença
O irmão de Sofia, Gonçalo Ferreira, elogia o Jardim de Infância do Cartaxo e garante que ambas as partes saem a ganhar com a integração desta voluntária que adora o que faz. Uma visão partilhada pelo director da escola, Pedro Mesquita Lopes, que considera que devia haver mais entidades a seguir o exemplo do JIC no que toca à integração de pessoas com deficiência. Até porque, sublinha, a interacção de pessoas como Sofia com as crianças permite que estas cresçam com a diferença e passem a aceitá-la. Apesar de ser voluntária e assim se querer manter, por opção, Sofia Ferreira é pontual, responsável, cuidadosa e assertiva aos olhos do director. “Ela diz que faz tudo e é mesmo verdade. Tem tido sempre uma integração extraordinária com as crianças e com todos os funcionários”, conclui.

Percentagem de trabalhadores com deficiência no privado é residual

Os dados relativos à taxa de desemprego mostram que em Portugal, em 2020, 20,3% das pessoas com deficiência estavam desempregadas, ultrapassando em 8,5 pontos percentuais a média dos países da União Europeia. O indicador consta do último relatório do Observatório de Deficiência e Direitos Humanos em Portugal (ODDH), publicado em Dezembro de 2023, no qual se lê que a taxa de desemprego foi ligeiramente superior nas mulheres com deficiência (21,1%) do que nos homens com deficiência (18,9%).
Segundo o mesmo relatório, em Setembro de 2023 a maioria das pessoas com deficiência registadas como desempregadas eram adultas (89,7%) e estavam desempregadas há mais de um ano (55,5%). No sector privado, os dados do Balanço Social reportados pelas empresas com mais de 10 colaboradores mostram que, à semelhança de anos anteriores, a percentagem de trabalhadores com deficiência se mantém residual. Por outro lado, nas administrações públicas, os dados do Boletim de Estatísticas de Emprego Público elaborado pela Direção-Geral da Administração e do Emprego Público revelam que a prevalência de trabalhadores com deficiência nas administrações públicas tem vindo a aumentar de forma consistente desde 2015 (+ 54,8%) atingindo os 3% em 2022. No entanto, apesar do crescimento assinalado, a proporção actual de funcionários públicos com deficiência permanece ainda aquém do padrão de referência dos 5% determinado por lei.

O que diz a Lei?

Desde Fevereiro do ano passado que as empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas a preencher uma quota de trabalhadores com deficiência depois de um período de transição de quatro anos para se adaptarem. Este ano foram incluídas as empresas com mais de 75 trabalhadores que devem passar a admitir trabalhadores com deficiência, em número não inferior a 1% do pessoal ao seu serviço. Nos casos em que a contratação de trabalhadores cujas limitações funcionais impliquem a necessidade de adequação do posto de trabalho devem recorrer ao Instituto Nacional para a Reabilitação e ao Instituto de Emprego e Formação Profissional, aos quais cabe a indicação e prestação do apoio técnico necessário.

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