Ricardo Gonçalves luta pelo aeroporto em Santarém mas diz que há pouca vontade técnica e política
As recomendações da CTI apontam que Humberto Delgado+Santarém “pode ser uma solução” em complemento como aeroporto da Portela, mas o presidente da Câmara de Santarém não tem visto da parte dos técnicos e dos decisores grande abertura a essa solução.
O presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD), considera que existe falta de “vontade técnica e política” para construir o novo aeroporto no concelho, que o autarca considera ser a opção “mais benéfica e sustentada”. O autarca do PSD argumenta que os problemas de tráfego aéreo apontados pela Comissão Técnica Independente (CTI) em relação a Santarém são “ultrapassáveis”, referindo que questões semelhantes foram identificadas em Vendas Novas e em Alcochete, mas foram resolvidas por “vontade técnica e política”.
O edil discorda das conclusões da CTI sobre a impossibilidade de construir uma infraestrutura aeroportuária única em Santarém, argumentando que a região escalabitana apresenta uma série de vantagens “conhecidas por todos”, nomeadamente no que diz respeito às infraestruturas, que não é necessário construir porque já existem. “O projecto de Alcochete tem muitos milhões de euros de infraestruturas que ainda não foram construídas (…) ao passo que Santarém tem já uma série de infraestruturas construídas, nomeadamente a proximidade de diversos eixos viários e ferroviários”, argumenta Ricardo Gonçalves.
Santarém pode ser solução complementar à Portela
As recomendações da CTI apontam que Humberto Delgado+Santarém “pode ser uma solução”, mas apenas como “aeroporto complementar ao Aeroporto Humberto Delgado (AHD), com um número de movimentos limitado não permitindo satisfazer a capacidade aeroportuária necessária no longo prazo”.
A CTI, de acordo com o relatório final divulgado a11 de Março, considera que Santarém tem como vantagem a “coesão territorial a nível nacional, sobretudo na região Centro, embora com menos vantagem para a região de Lisboa”. Ricardo Gonçalves discorda desta consideração referindo que “tudo aquilo que beneficia Portugal beneficia Lisboa”. “Como é que as outras zonas do país olham para esta situação, em que uma comissão diz que é bom para Portugal mas não é bom para Lisboa sendo que Lisboa é a zona mais rica do país?”, questiona Ricardo Gonçalves.
Apesar de discordar de algumas conclusões o autarca referiu que o facto de a opção Santarém ser agora considerada como uma opção viável para complementar o aeroporto Humberto Delgado, reflecte “um reconhecimento da qualidade do projecto”. Em relação às preocupações levantadas sobre a rapidez de execução da opção Santarém, o autarca argumenta que a CTI “acredita ser possível construir o aeroporto em Alcochete em cinco anos, o mesmo período necessário para a opção Santarém, apesar de Alcochete não dispor das infraestruturas já existentes em Santarém”. Ricardo Gonçalves considera ainda que a opção Santarém continua a ser a única que “dará resposta à falta de capacidade aeroportuária de Portugal”, referindo que esta opção é aquela que mais beneficia Portugal e Lisboa, de forma clara e sustentada”.
CTI refere que Santarém nunca foi descartada mas não pode ser aeroporto único
A coordenadora da Comissão Técnica Independente do novo aeroporto considera que a opção Santarém está condicionada por questões de navegabilidade aérea mas teria as vantagens de permitir ultrapassar no curto prazo as condicionantes criadas pelo contrato de concessão e de ter financiamento privado.
A coordenadora da Comissão Técnica Independente do novo aeroporto disse que o projecto de Santarém nunca foi descartado, mas, segundo informações da NAV e da Força Aérea, não pode ser centro de conexão (‘hub’) intercontinental. “Santarém nunca foi descartado porque Santarém faz parte das opções estratégicas que constam da Resolução do Conselho de Ministros e, portanto, tinha de se manter na avaliação até ao final, o que acontece foi que nós, no relatório preliminar, quando considerámos Santarém inviável, era inviável para se constituir como um ‘hub’ intercontinental”, apontou Rosário Partidário.
Nesta solução a CTI refere Santarém como “aeroporto complementar ao AHD (Humberto Delgado), mas com um número de movimentos limitado, não permitindo satisfazer a capacidade aeroportuária necessária no longo prazo”, mas “teria a vantagem de permitir ultrapassar no curto prazo as condicionantes criadas pelo contrato de concessão tendo ainda como vantagem um financiamento privado”.
Os promotores de Santarém disseram à Lusa que a CTI “não deu a devida atenção ao trabalho desenvolvido sobretudo entre Dezembro e Janeiro com a NAV”, que, segundo os promotores, resultou num conjunto de soluções que permitem resolver os problemas de navegabilidade aérea pela proximidade à base aérea de Monte Real, apontados no relatório preliminar, e escalar para um ‘hub’.
A NAV confirmou à Lusa que teve “contactos informais” com os promotores do aeroporto em Santarém, mas rejeitou que os problemas de navegabilidade pela proximidade à base aérea de Monte Real estejam ultrapassados sendo necessários novos estudos. “De qualquer forma, e independentemente destes contactos, reitera-se que qualquer alteração de pressupostos requer novos estudos e análises a serem solicitadas pela CTI [Comissão Técnica Independente]”, realçou fonte oficial da NAV.
O relatório final, que está disponível na página aeroparticipa.pt, será formalmente entregue ao Governo a 22 de Março, juntamente com o parecer da Comissão de Acompanhamento, presidida por Carlos Mineiro Aires.