Sociedade | 25-03-2024 10:00

Trilhos de Vialonga servem para exercício e visitas culturais

Trilhos de Vialonga servem para exercício e visitas culturais
Caminhantes à descoberta do património de Vialonga

Caminhadas começaram em 2022 e foram participadas por mais de meio milhar de pessoas. Cascatas, grutas e história da reconstrução da capela de Santa Eulália fizeram parte do primeiro percurso dos Trilhos de Vialonga deste ano.

A chuva não foi entrave para a realização da primeira caminhada de 2024 pelos Trilhos de Vialonga. Os caminheiros mais corajosos concentraram-se dia 9 de Março na Mata do Paraíso para fazer o percurso de cerca de quatro quilómetros. Antes de se fazerem ao caminho ficaram a saber que a Mata do Paraíso tem registos que remontam ao século XVIII. Pinheiros, zambujeiro, freixos e alfarrobeiras são alguns dos elementos arbóreos presentes e que foram resistindo aos entulhos e resíduos de obra que foram depositados ao longo dos anos.
O espaço verde faz fronteira entre o concelho de Vila Franca de Xira e o município de Loures e é atravessado por duas linhas de água. Os arqueólogos da câmara dataram do período paleolítico o sílex encontrado na mata, que terá pelo menos 12 mil anos. Movidos pela curiosidade das belezas naturais de Vialonga os caminhantes entraram pela mata dentro até darem de caras com a cascata e duas grutas.
No âmbito da operação integrada de Vialonga, obras com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o acesso à Mata do Paraíso será mais fácil. A reabilitação do Olival de Fora contempla uma ligação pedonal à mata. Em parte daqueles 19 hectares vai ser criado um futuro parque escutista.
Os Trilhos de Vialonga são uma iniciativa organizada pela Câmara de Vila Franca de Xira, através do Museu Municipal, com visitas guiadas pela Casa do Povo de Vialonga e apoio da Junta de Freguesia de Vialonga. O projecto começou em 2022 e até agora envolveu mais de 500 pessoas e 15 percursos pedonais. Pedro Marujo Canto, guia do trilho, explica que a ideia principal é divulgar o património histórico e cultural da freguesia de Vialonga. O objectivo é compilar os percursos em livro para que todas as pessoas possam fazer as caminhadas.
A organização inclui nos trilhos a visita a um imóvel que seja pouco acessível, porque é valorizado pelos participantes. “No ano passado lembro-me de uma visita que fizemos a uma propriedade na Quinta da Boca da Lapa. O proprietário para além de nos ter dado acesso ao exterior da quinta, abriu-nos a porta de casa e conseguimos visitar o palácio por dentro. Foi um momento único”.

O guardador da capela
de Santa Eulália
Saídos da Mata do Paraíso os participantes rumaram estrada fora até Santa Eulália. Na localidade pararam no alpendre da capela à espera que o senhor João Lourenço abrisse a porta. A igreja tem mais de sete séculos e é uma das mais antigas do concelho de Vila Franca de Xira. Só abre uma vez por ano por altura das festas anuais.
Reza a lenda que o rei D. Dinis caçava javalis nessa zona. À rainha Santa Isabel terá dito que sonhou com Santa Eulália e que esta lhe terá pedido para erguer uma capela em sua homenagem. João Lourenço, nascido e criado em Santa Eulália, é o único que tem a chave da capela. “Lembro-me de ser pequeno e a nave principal da igreja estar sem telhado. Isto parecia um curral de porcos. Nos anos 70 chegaram a fazer um restaurante na festa anual”, conta.
João Lourenço fez parte da Comissão para a Reconstrução da Capela de Santa Eulália nos anos 80. Na altura o padre dava a missa na escola e a população arregaçou as mangas para reerguer a igreja. Fizeram-se rifas e peditórios porta-a-porta. Depois de reconstruída, a capela voltou a encher aos domingos para a missa. As crianças frequentavam a catequese e faziam a comunhão. Mas depois os mais novos casaram-se e saíram da localidade. Os mais velhos foram partindo e a pandemia ditou o final das celebrações. “Agora a capela só abre para a festa anual e excepcionalmente para as caminhadas. Só eu é que tenho a chave. Quando a minha saúde já não o permitir entrego a chave à igreja”, diz.
A última paragem do percurso foi no Museu Etnográfico do Grupo Desportivo de Santa Eulália. No segundou piso da colectividade estão retratadas as vivências antigas através dos objectos que se usavam antigamente. Até ao final do ano vão realizar-se mais seis percursos. O próximo está agendado para 11 de Maio.

João Lourenço fez peditórios a favor da reconstrução da capela

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