Sociedade | 03-04-2024 07:00

Ex-autarca vive no Hospital de Santarém porque não tem para onde ir

Ex-autarca vive no Hospital de Santarém porque não tem para onde ir
Fernando Rodrigues, ex-autarca de Santarém, também conhecido por 'Salamanca', sofreu um AVC e está há cerca de três meses a viver no Hospital Distrital de Santarém uma vez que a sua casa não tem condições e não existe uma vaga num lar compatível com os seus rendimentos

Fernando Mendonça Rodrigues, também conhecido por ‘Salamanca’, sofreu um AVC que o atirou para uma cama do Hospital Distrital de Santarém.

Foi há três meses e, desde então, o antigo presidente da Junta de Freguesia de Santa Iria da Ribeira foi recuperando graças às sessões de fisioterapia que têm feito milagres. Já pode ter alta, mas a sua casa, onde vivia sozinho, não tem condições para receber uma pessoa com mobilidade condicionada e também não encontra vaga num lar compatível com a sua reforma. Enquanto não surge uma solução continua numa enfermaria do hospital, onde diz ser muito bem tratado.

Foi autarca de freguesia durante 45 anos, presidente de junta durante dez anos, tem o nome numa rua e hoje constitui um bom exemplo da dificuldade de resposta do sistema a pessoas que necessitam de cuidados continuados e de reabilitação e não têm suporte familiar nem habitação adequada à sua condição. Fernando Mendonça Rodrigues, também conhecido por ‘Salamanca’, foi presidente da Junta de Santa Iria da Ribeira até 2013 quando se deu a fusão de freguesias da cidade de Santarém. Depois disso ainda teve assento como vogal no executivo da União de Freguesias da Cidade de Santarém até 2021. Em 23 de Dezembro de 2023 foi internado no Hospital Distrital de Santarém (HDS) vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC) que lhe adormeceu o lado esquerdo do corpo. Homem de antes quebrar que torcer resistiu à doença súbita e empenhou-se na recuperação. Sem vaga numa unidade de cuidados continuados permaneceu no HDS e as sessões de fisioterapia ali realizadas têm dado excelentes resultados. Já anda pelo seu pé, embora com algum cuidado, e fala de forma pausada mas perfeitamente perceptível.
“Estou aqui porque não tenho onde ser colocado. Eles não me podem pôr na rua. Para sair daqui tenho que ter condições”, sintetiza. A sua casa na Ribeira de Santarém tem acesso por escadas que não está em condições de transpor, assinalaram os técnicos que visitaram a habitação. Só dispendiosas obras de adaptação, nomeadamente a colocação de um elevador eléctrico com cadeira, permitiriam contornar esse obstáculo, mas a parca reforma de 700 euros mensais não lhe permitem avançar para essa solução.
Fernando Rodrigues, que vive sozinho e não tem filhos, reconhece já estar internado no Hospital de Santarém há demasiado tempo e procura soluções. Elogia a forma exemplar como tem sido tratado no HDS e conta que está inscrito nas Misericórdias de Santarém e de Pernes e numa instituição em Alpiarça para tentar arranjar uma vaga em lar. Outra possibilidade é vender a casa e assim encaixar um pecúlio que lhe possibilite alargar o leque de escolha de um lar para o acolher. Mas isso significaria deixar a sua terra de sempre, a Ribeira de Santarém, e o convívio com os amigos que ali tem.
Um grupo de amigos sensibilizou-se com a situação de Fernando Rodrigues e tem procurado encontrar soluções. O ex-autarca destaca o apoio dessas pessoas, algumas figuras bastante conhecidas na cidade e no concelho com quem partilhou momentos da vida política e autárquica.

Autarca durante 45 anos
Fernando Rodrigues, 77 anos, foi autarca de freguesia desde 1976 até 2021, passando por diversos cargos, e profissionalmente foi trabalhador dos extintos Serviços Municipalizados de Santarém, que deram lugar à empresa municipal Águas de Santarém. Foi também dirigente do STAL – Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local - durante muitos anos. Admite ter saudades da política e, instado por O MIRANTE, diz que trocou a CDU pelo apoio a Moita Flores e ao PSD, no seu último mandato como presidente de junta, porque nesses tempos fez-se obra na Ribeira de Santarém, justifica. E enumera uma série de investimentos que aconteceram enquanto foi autarca da junta de freguesia, muitos deles reivindicados por si, como a Biblioteca Salgueiro Maia, a casa mortuária, o arranjo da imagem de Santa Iria, a renovação do Largo da Igreja de Santa Cruz e escadarias, o campo de futebol, as estradas rurais, a requalificação da Praça Oliveira Marreca ou o troço da Estrada da Estação. Como reconhecimento a Câmara de Santarém atribuiu o seu nome a uma rua na área da antiga freguesia de Santa Iria da Ribeira.
No seu longo trajecto político, Fernando Rodrigues foi filiado no MDP/CDE nos primórdios do poder local democrático, passou pela APU e pela CDU, coligações lideradas pelo PCP, e de 2009 a 2013 foi eleito presidente como independente com o apoio do PSD. Esteve ligado ao movimento sindical muitos anos. Considera que o sindicalismo tem vindo a perder força e que há alguma banalização da greve como forma de reivindicação e protesto: “Há greves a mais e as pessoas já nem ligam”.

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