Sociedade | 03-04-2024 15:00

Ribeira de Rio de Moinhos: percorremos o caminho do projecto mais polémico de Abrantes

Ribeira de Rio de Moinhos: percorremos o caminho do projecto mais polémico de Abrantes
Moradores não desarmam e falam em atentado ambiental na aldeia de Pucariça

Obras de requalificação na Ribeira de Rio de Moinhos, em Abrantes, estão a ser contestadas por alguns populares, embora o município diga que a grande maioria da população está a favor das intervenções. O MIRANTE foi percorrer o caminho da discórdia de um dos maiores projectos ambientais de sempre no concelho que teve um investimento de três milhões de euros.

As obras de requalificação de um troço de cerca de cinco quilómetros da ribeira de Rio de Moinhos, em Abrantes, continuam a dar que falar. Os habitantes das aldeias envolventes, como é o caso de Pucariça, não desarmam e continuam a denunciar aquilo que consideram um verdadeiro “atentado ambiental” naquele que é um dos projectos de maior dimensão na história do concelho de Abrantes. “Está a ser destruída uma ribeira de água limpa e cristalina alterando o seu curso natural e transformando-a numa vala gigante de pedra e plástico. Tudo sem qualquer razão de ser. Estão a mexer numa zona que não traz qualquer perigo para a população, nomeadamente riscos de cheias. São três milhões de investimento para nada. É inconcebível”, sublinha a O MIRANTE João Carvalho, um dos proprietários dos terrenos confinantes com a ribeira e abrangidos pela empreitada.
O MIRANTE percorreu as margens da ribeira numa tarde de sábado em que a chuva não deu tréguas. O encontro com João Carvalho deu-se debaixo do viaduto da A23, onde passa a ribeira. “Esta é a zona que eventualmente poderia receber obras porque é onde há mais risco de cheia. Tudo o que está a ser feito, está a ser feito muito longe daqui, num local que não oferece qualquer perigo”, defende João Carvalho, economista de profissão. “Têm dito que os contestatários são meia dúzia de pessoas que chegaram agora à aldeia. É mentira. Vivo em Lisboa, mas venho cá quase todos os fins-de-semana e a minha família é toda de cá. Não precisamos de perder muito tempo com isso. Precisamos é de mostrar e convidar as pessoas a virem ver o que estão a fazer à ribeira”, vinca o proprietário.
Continuamos a subir, passando por Aldeinha, localidade onde está situada a histórica Quinta da Feia. Subimos mais algumas centenas de metros e, entre o Braçal e a Pucariça, paramos para ouvir o barulho da ribeira a correr e sentir a frescura da água. “Vai-se perder o som da água a bater nas pedras e todas as aves que fazem parte deste habitat. Não somos uma minoria. A obra parou lá mais acima porque não há autorização dos proprietários. Há hortas que vão ser destruídas, muitas árvores, por causa de uma obra que não tem qualquer sentido”, reafirma, acrescentando: “estamos a viver dos Invernos mais chuvosos. Está a chover há quatro dias seguidos de forma abundante. Vê aqui algum risco de cheia? Onde é que está essa água toda que eles dizem existir. O risco que esta ribeira tem é de secar, não é de cheias”, afirma. “Este vale sempre teve uma dinâmica de pessoas que gostam de natureza e de estar em contacto directo com ela. Vai-se perder tudo por causa de uma obra de fachada”, lamenta.
João Carvalho diz que se não conseguir salvar esta ribeira, pelo menos a luta que sirva de exemplo para salvar outras. “Convido os leitores a vir cá para olhar para isto de forma isenta. Curiosamente isto está a ser feito ao abrigo de fundos para o desenvolvimento ambiental e requalificação dos rios e ribeiras. É irónico”, conclui.

Presidente da câmara acredita no projecto
Numa conversa recente com O MIRANTE, Manuel Valamatos, presidente da autarquia, referiu que a Ribeira de Rio de Moinhos esteve abandonada durante vários anos e que era obrigatória fazer alguma coisa para a revitalizar. “Fui durante muito tempo pressionando o Ministério do Ambiente para que tomássemos uma posição de requalificação daquela linha de água (…) Fez-se o projecto e foi validado. Nós queremos proteger as pessoas, os seus bens, e requalificar um recurso natural que esteve muitos anos abandonado. A grande maioria das pessoas parece-me que está absolutamente de acordo e existe agora algumas que têm outra visão”, afirmou. O autarca teceu ainda elogios ao trabalho dos serviços municipais e do executivo relativamente à obra. “Os nossos serviços, e particularmente o vereador João Gomes, têm feito um trabalho absolutamente extraordinário de diálogo, sobretudo com as pessoas que têm ali os terrenos que confinam com a linha de água. A grande maioria dos proprietários está de acordo”, vincou, acrescentando: “estamos a servir a população de forma íntegra, com muito trabalho. Não tenho dúvidas de que a grande maioria da comunidade é a favor desta grande intervenção”, concluiu.

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