Sociedade | 08-04-2024 10:00

Guarda que tentou parar briga no Entroncamento volta à GNR cego de um olho

Guarda que tentou parar briga no Entroncamento volta à GNR cego de um olho
Rui Vicente, pai do GNR Duarte Vicente que foi agredido à porta de um bar no Entroncamento

O militar da Guarda que foi agredido quando tentava controlar desacatos à porta de um bar no Entroncamento, apesar de estar de folga, passou por um longo período de nove meses de recuperação.

Volta agora ao serviço com as sequelas das agressões que lhe cegaram um olho e com o risco de ter ataques epiléticos por causa da fractura do crânio em quatro sítios. O pai, que é polícia, conta agora a história que, apesar da gravidade, está a correr bem e a devolver aos poucos a tranquilidade à família.

Duarte Vicente regressou ao serviço na GNR nove meses depois da agressão que sofreu quando tentava controlar desacatos à porta de um bar no Entroncamento. O militar voltou ao trabalho a 1 de Abril, a três meses de fazer 24 anos, cego do olho esquerdo, a sequela mais grave e irreversível que sofreu quando foi agredido e caiu ao chão tendo batido com a cabeça e fracturado o crânio em quatro sítios. Para já vai fazer serviço interno no posto de Abrantes, sua terra natal, onde estava colocado há um mês depois de ter estado na segurança do Ministério dos Negócios Estrangeiros. O pai, Rui Vicente, polícia em Abrantes, que o quer preservar no regresso à sua vida normal, prevê que se tudo correr bem em Maio já estará a fazer a sua actividade profissional normal.
O jovem, que não se lembra de nada do que aconteceu naquela noite de 25 de Junho, já passa grande parte do dia no posto para se entreter e estar em contacto com os colegas, desejoso de voltar ao serviço. Aos 18 anos tinha dito ao pai que queria concorrer para as forças de segurança e foi seleccionado para a PSP e para a GNR tendo optado por esta última. O seu estágio dele, conta Rui Vicente, foi nos grandes incêndios de Ourém. Na altura em que aconteceu a agressão Duarte, que fica com uma desvalorização na casa dos 30%, estava a tirar a carta de condução, que entretanto já terminou depois de ter saído do hospital de Abrantes, onde esteve seis dias em coma.

As semelhanças com o jovem que morreu de acidente
Naquele dia Rui Vicente estava a gozar a sua folga no Baleal e tinha falado com o filho por volta da meia-noite. Eram cerca das 4h35 quando um colega polícia da esquadra do Entroncamento lhe ligou a dizer que o filho tinha ido para o hospital. Mais tarde chamaram-no à Unidade de Cuidados Intensivos de Abrantes para lhe comunicar que a gravidade era de tal ordem que não sabiam se Duarte iria sobreviver. O facto de ser polícia e de ver muitas situações não ajuda a superar uma situação destas quando se trata de um filho. Mas o caso fez com que Rui, polícia desde 1997, tomasse outra consciência do que é o sofrimento dos outros quando agora tem de ir a uma ocorrência. “Fiquei mais sensível aos problemas dos outros, mas também fiquei um pouco revoltado”, revela.
Dois meses depois houve um episódio que deixou Rui Vicente mais transtornado ao ponto de se ver na necessidade de pedir apoio psicológico. O polícia foi tomar conta da ocorrência do despiste de um Porsche que embateu contra o muro do quartel do Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME), em Abrantes, na madrugada de 30 de Agosto, na sequência do qual morreu um jovem de 22 anos. O polícia ficou em choque quando foi ao hospital e viu esse jovem no mesmo sítio onde tinha estado o filho, com um rosto parecido e com barba tal como Duarte. Uma imagem que lhe aparece às vezes no pensamento.

Pouca confiança na punição dos culpados
Têm sido meses desgastantes, confessa o progenitor que agora está sempre preocupado, ansioso, tal como a mãe de Duarte, de quem Rui está separado, sempre que ele sai com os amigos. Diz que o filho é uma pessoa que está bem com a vida e como nem tem memória do que aconteceu até costuma brincar com a situação de não ver de um olho. Rui Vicente não está confiante que os verdadeiros culpados venham a ser punidos e diz que no seu pensamento avoluma-se um dilema que é saber se é capaz de estar presente no julgamento. Na conversa com o jornalista que decorre numa pastelaria de Abrantes, perto da esquadra da PSP, Rui Vicente diz que há o risco de o filho poder ter ataques de epilepsia, em virtude dos traumatismos que sofreu.
O pai do jovem militar da Guarda diz que tem uma dívida eterna para com os médicos do hospital e as equipas da ambulância de Suporte Imediato de Vida de Torres Novas e da Viatura Médica de Emergência e Reanimação. Rui Vital confessa ainda que a GNR tem sido extraordinária no apoio ao seu filho.

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