Da tragédia das cheias nasceu uma associação que dinamiza aldeia em Vila Franca de Xira
A Associação Cultural e Recreativa do Lugar das Quintas, na Castanheira do Ribatejo, celebra este ano 32 anos de actividade ao serviço da aldeia que fica às portas de Lisboa e que foi palco, em 1967, das piores cheias da história. Associação nasceu como centro de convívio na altura da tragédia.
Com quatro centenas de sócios, a Associação Cultural e Recreativa do lugar das Quintas, na freguesia de Castanheira do Ribatejo, trabalha para unir as gentes da terra, sarar as feridas da tragédia das cheias de 1967 e ao mesmo tempo promover iniciativas que animem os moradores. A aldeia do concelho de Vila Franca de Xira, situada a poucos minutos do nó de acesso à Auto-Estrada do Norte (A1), tem vindo a aumentar a população com pessoas em busca da calma e do silêncio. O factor de união na aldeia é a associação, diz o seu vice-presidente, Bruno Teixeira.
A colectividade desenvolve mensalmente actividades para a população, como noites de fados ou espectáculos de música dos anos 80. Para Bruno Teixeira, que tem 21 anos e é o elemento mais novo dos órgãos sociais, as associações são imprescindíveis para a modernização e apoio às comunidades e sem elas a região seria muito mais pobre. O dirigente também considera que os jovens precisam, cada vez mais, de se envolverem com a causa do associativismo. A associação celebra este ano 32 anos de actividade e nasceu como consequência das cheias de 1967, que vitimaram mais de metade da população da aldeia. Primeiro como centro de convívio e só em 1992 formalmente constituída como associação.
“As pessoas precisavam de um sítio onde pudessem juntar-se e fazerem um luto colectivo. Ainda hoje as cheias são uma ferida aberta na comunidade. Quem passou por aquilo ainda sente a perda sobretudo nas homenagens e no aniversário”, lamenta. Para o dirigente a ferida da noite de 26 de Novembro de 1967 em que morreram 83 pessoas nunca irá sarar, mesmo com o passar das gerações. Bruno Teixeira diz que não é suficiente evocar-se a data uma vez no ano, defendendo que deve ser feita uma homenagem maior e diferente, mais apelativa e com maior abrangência. “A associação tem-se envolvido cada vez mais nessas homenagens e todos os anos tentamos fazer algo diferente. O ano passado fizemos uma vigília e há dois anos uma exposição”, recorda.
Viver com as contas em dia
A associação vive com contas em dia e diz não precisar de andar a pedir donativos para realizar as suas actividades. Acabou o último ano com um saldo positivo de seis mil euros e, com o apoio da câmara, realizou obras de 20 mil euros para recuperar e modernizar as casas-de-banho do edifício. A colectividade já teve várias modalidades, como futebol ou futsal, mas agora tem apenas o ioga e uma banda rock que usa o espaço para ensaiar. O foco principal é manter o café com porta aberta à comunidade e mensalmente organizar eventos que mobilizem a comunidade. “A importância da associação não se mede pela quantidade de actividades, mas pelo papel que tem na aldeia. Dar algo a fazer aos que são de cá. Se não existíssemos seria uma perda para todos”, refere Bruno Teixeira.
Os jovens, lamenta o dirigente, nem sempre aparecem para o voluntariado nas associações. Bruno Teixeira culpa a elevada burocracia que ainda existe no movimento associativo. “Não é só estar atrás de um balcão a servir cervejas numa festa”, exemplifica. “A aldeia precisa de mais crianças. Para mim isso também é fundamental”, defende o dirigente, lembrando que a única escola primária que ali existia fechou em 2010 por falta de crianças.