Sociedade | 09-04-2024 21:00

Da tragédia das cheias nasceu uma associação que dinamiza aldeia em Vila Franca de Xira

Da tragédia das cheias nasceu uma associação que dinamiza aldeia em Vila Franca de Xira
Associação das Quintas tem visto uma renovação geracional nos seus corpos sociais o que permite aos mais novos beber experiência dos mais velhos e dar continuidade ao legado da colectividade

A Associação Cultural e Recreativa do Lugar das Quintas, na Castanheira do Ribatejo, celebra este ano 32 anos de actividade ao serviço da aldeia que fica às portas de Lisboa e que foi palco, em 1967, das piores cheias da história. Associação nasceu como centro de convívio na altura da tragédia.

Com quatro centenas de sócios, a Associação Cultural e Recreativa do lugar das Quintas, na freguesia de Castanheira do Ribatejo, trabalha para unir as gentes da terra, sarar as feridas da tragédia das cheias de 1967 e ao mesmo tempo promover iniciativas que animem os moradores. A aldeia do concelho de Vila Franca de Xira, situada a poucos minutos do nó de acesso à Auto-Estrada do Norte (A1), tem vindo a aumentar a população com pessoas em busca da calma e do silêncio. O factor de união na aldeia é a associação, diz o seu vice-presidente, Bruno Teixeira.
A colectividade desenvolve mensalmente actividades para a população, como noites de fados ou espectáculos de música dos anos 80. Para Bruno Teixeira, que tem 21 anos e é o elemento mais novo dos órgãos sociais, as associações são imprescindíveis para a modernização e apoio às comunidades e sem elas a região seria muito mais pobre. O dirigente também considera que os jovens precisam, cada vez mais, de se envolverem com a causa do associativismo. A associação celebra este ano 32 anos de actividade e nasceu como consequência das cheias de 1967, que vitimaram mais de metade da população da aldeia. Primeiro como centro de convívio e só em 1992 formalmente constituída como associação.
“As pessoas precisavam de um sítio onde pudessem juntar-se e fazerem um luto colectivo. Ainda hoje as cheias são uma ferida aberta na comunidade. Quem passou por aquilo ainda sente a perda sobretudo nas homenagens e no aniversário”, lamenta. Para o dirigente a ferida da noite de 26 de Novembro de 1967 em que morreram 83 pessoas nunca irá sarar, mesmo com o passar das gerações. Bruno Teixeira diz que não é suficiente evocar-se a data uma vez no ano, defendendo que deve ser feita uma homenagem maior e diferente, mais apelativa e com maior abrangência. “A associação tem-se envolvido cada vez mais nessas homenagens e todos os anos tentamos fazer algo diferente. O ano passado fizemos uma vigília e há dois anos uma exposição”, recorda.

Viver com as contas em dia
A associação vive com contas em dia e diz não precisar de andar a pedir donativos para realizar as suas actividades. Acabou o último ano com um saldo positivo de seis mil euros e, com o apoio da câmara, realizou obras de 20 mil euros para recuperar e modernizar as casas-de-banho do edifício. A colectividade já teve várias modalidades, como futebol ou futsal, mas agora tem apenas o ioga e uma banda rock que usa o espaço para ensaiar. O foco principal é manter o café com porta aberta à comunidade e mensalmente organizar eventos que mobilizem a comunidade. “A importância da associação não se mede pela quantidade de actividades, mas pelo papel que tem na aldeia. Dar algo a fazer aos que são de cá. Se não existíssemos seria uma perda para todos”, refere Bruno Teixeira.
Os jovens, lamenta o dirigente, nem sempre aparecem para o voluntariado nas associações. Bruno Teixeira culpa a elevada burocracia que ainda existe no movimento associativo. “Não é só estar atrás de um balcão a servir cervejas numa festa”, exemplifica. “A aldeia precisa de mais crianças. Para mim isso também é fundamental”, defende o dirigente, lembrando que a única escola primária que ali existia fechou em 2010 por falta de crianças.

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