Sociedade | 13-04-2024 10:00

É preciso sensibilizar os jovens para a dádiva de sangue e combater os mitos associados

É preciso sensibilizar os jovens para a dádiva de sangue e combater os mitos associados
Afonso Ferreira e Amândio Rocha são sócios do Grupo de Dadores Benévolos de Sangue da Portela das Padeiras, Santarém

Amândio Rocha tem 63 anos e deu sangue 60 vezes. Afonso Ferreira tem 19 anos e fê-lo três vezes.

Se todos lhes repetissem o gesto no Dia Nacional do Dador de Sangue não haveria alertas para as baixas reservas. Mas parece haver ainda muito desconhecimento, como ter medo de vir a ter problemas de saúde por se fazer uma dádiva, alerta Jorge Periquito dos Dadores de Azambuja.

Corria o ano de 1982 quando Amândio Rocha deu sangue pela primeira vez. A cumprir serviço militar, respondeu ao pedido para ajudar um familiar de um oficial que estava doente. Nessa altura, como incentivo à dádiva, tinha direito a dez dias de dispensa mas não foi essa benesse que o tornou dador regular. Fê-lo repetidas vezes ao longo dos seus 63 anos, consciente de que dar sangue é contribuir para salvar vidas. “Um dia podemos ser nós a precisar”, vinca a O MIRANTE numa conversa a propósito do Dia Nacional do Dador de Sangue que se assinala a 27 de Março, acrescentando que já contribuiu para as dádivas de familiares de amigos que estavam doentes e de uma tia diagnosticada com cancro.
O antigo agente da PSP, que já deu sangue 60 vezes pelos registos oficiais, refere que tem por hábito convidar outras pessoas para fazerem uma dádiva mas, reconhece, não é tarefa fácil sobretudo entre os mais novos. Afonso Ferreira é, talvez, uma excepção. Com 19 anos deu sangue três vezes e tenciona continuar a fazê-lo. Explica que desde criança que acompanha os pais, dadores no grupo da Portela das Padeiras, e que sempre pensou em repetir-lhes o gesto quando tivesse idade para o fazer, embora lhe causasse impressão ver as enfermeiras colocarem a agulha numa veia da mãe ou do pai.
Estudante de Ciências da Comunicação, Afonso Ferreira diz que sempre viu, na televisão e redes sociais, casos de pessoas que precisavam de sangue ou de medula óssea e, por isso, faz questão de ajudar. “O sangue é algo que se repõe automaticamente no organismo e não há que ter medo. Saber que com uma dádiva podemos ajudar mais do que uma pessoa é muito gratificante”, refere o jovem que se empenha em convencer os amigos a juntarem-se à causa e tem conseguido que alguns se tornem dadores. No entanto, na sua opinião, faltam mais campanhas de sensibilização para mobilizar as pessoas sobretudo os mais jovens. “Podemos estar a mexer no telemóvel, consultar redes sociais ou falar com amigos enquanto damos sangue. É preciso tirar a ideia de que é uma coisa que custa”, defende o jovem garantindo que participou na dádiva dos Dadores da Portela das Padeiras, a 6 de Abril.

“Falam do medo das agulhas
mas depois fazem tatuagens”
O Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) e a Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue apelaram, no Dia Nacional do Dador, à dádiva de sangue para fazer face às baixas reservas dos grupos sanguíneos A+, A-, O+ e O- que duram, no máximo, cinco dias. Um alerta que vem sendo habitual e que, na opinião do presidente do Grupo de Dadores Benévolos de Sangue do Concelho de Azambuja, Jorge José Periquito, até poderia deixar de ser necessário se as dádivas de sangue passassem a ser remuneradas. Mas passar um cheque a quem dá sangue não seria, no seu entender, uma forma de motivar a comunidade a ser mais altruísta. “Além de ser proibido não concordo com isso. O sangue deve ser dado benemeritamente. Doar não nos causa problema nenhum, pelo contrário, renova-nos o sangue”, sublinha.
Presidente do Grupo de Dadores de Azambuja desde 2019, lembra que já existem benefícios para os dadores, como a isenção de taxas moderadoras na saúde e que, mesmo assim, parece não ser suficiente para chamar novos dadores. “Vejo que há muito desconhecimento entre as pessoas, que têm medo de vir a ter problemas por dar sangue. Não acho que estejam a ser egoístas por não quererem dar. Muitas vezes é por desconhecimento e é preciso combater isso e quebrar os preconceitos”, defende.
O Grupo de Dadores de Azambuja celebra 44 anos de existência e todos os anos, em média, consegue captar 450 dádivas nos vários núcleos existentes pelo concelho, que são cada vez menos. “Infelizmente, os núcleos de Manique do Intendente e Aveiras de Baixo tiveram de fechar por falta de dadores”, lamenta, vincando que “é importante as pessoas perderem o medo” até porque antes da dádiva são observadas por um médico.
Jorge Periquito tem 66 anos e pertenceu ao corpo de fuzileiros da Marinha, onde serviu durante 31 anos. Está no seu segundo mandato como presidente do Grupo de Dadores de Azambuja. Acredita na importância da missão dos dadores e celebrar os dias nacionais e internacionais dos dadores de sangue é, no seu entender, muito importante, para esclarecer, informar e sensibilizar a comunidade para a importância da causa. “Não diria que as pessoas são egoístas, mas a juventude não sei porque não aparece mais. Falam do medo das agulhas mas depois fazem tatuagens. Acho isso uma aberração”, condena. Depois acrescenta: “São os doentes nos hospitais que precisam e todos juntos conseguimos salvar vidas e sentimo-nos melhores com isso”.

Jorge José Periquito com José Marques, de Azambuja, uma das pessoas que deu sangue na recolha promovida em Vila Nova da Rainha

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