Dulce Possante tem Parkinson e encontrou na pintura uma forma de lidar com a dor
Dulce Possante recebeu o diagnóstico de Parkinson em 2018 mas sempre manteve as actividades diárias e os afazeres domésticos.
O maior desafio é gerir as dores quando se levanta da cama para enfrentar o dia. Diz que a doença não é o fim e a prova disso é que começou a pintar e já expôs as obras em Samora Correia. O MIRANTE esteve à conversa com Dulce Possante no âmbito do Dia Mundial da Doença de Parkinson que se assinala esta quinta-feira, 11 de Abril.
Numa brincadeira Dulce Possante, 60 anos, deu conta que não mexia os dedos da mão do lado esquerdo tal como mexia do lado direito. Consultou um reumatologista e foi reencaminhada para o fisioterapeuta. Como tinha dores no pé esquerdo há três anos um primeiro diagnóstico apontava para que tivesse tido uma paralisia no lado esquerdo do corpo. Reencaminhada para a neurologista foi imediatamente diagnosticada com Parkinson. A doença não é detectada através de exames mas sim de movimentos que são solicitados aos pacientes.
Quando recebeu a notícia em 2018, aos 54 anos, não tinha noção do que era a doença. Começou a ser medicada e até hoje está a ser seguida na especialidade no Hospital de Santa Maria. “A doença já me acompanhava há muitos anos por isso não foi um choque. Tinha um nome para o sofrimento que me acompanhava desde os 15 anos. Dores generalizadas, cansaço, dores no pé, garganta, coluna, tendência depressiva e sempre com uma sombra negra por cima sem razão aparente”, conta.
Os primeiros cinco anos da doença são chamados “lua de mel” porque os sintomas físicos não são tão acentuados. Mas em 2020 Dulce Possante fracturou uma perna e teve de ser submetida a quatro cirurgias. Em 2021 partiu o tornozelo e passou mais de um mês engessada. Em todo o processo os médicos diagnosticaram fibromialgia.
Com duas doenças crónicas, o que lhe mais custa é levantar-se de manhã por causa das dores articulares. Toma dez comprimidos por dia, incluindo a Levodopa, que serve para evitar a lentidão de movimentos, mais um anti-depressivo, um protector de estômago e um comprimido para as dores. “Mesmo assim não páro. Tenho uma casa grande, com dois pisos, mais dois filhos, sou eu que trato de tudo. Era mediadora de seguros mas não gostava do contacto com o público e deixei a carteira de clientes em 2005”, revela.
“Quando pinto não tenho dores”
Inesperadamente, a pintura surgiu após o diagnóstico de Parkinson, em Abril de 2019. O filho mais novo foi estudar para a Polónia e com tempo livre comprou uma tela e tintas. Sem saber nada de pintura, tintas, pincéis e sem qualquer tipo de formação Dulce Possante começou a pintar dia e noite. Primeiro em blocos de folhas e cartolinas. Levantava-se às três e quatro da manhã, dirigia-se ao anexo no quintal e começava a pintar.
“Quando comecei a pintar deu-me um gozo extraordinário. Quando pinto não tenho dores, não tenho frio nem fome. Passo ali muito tempo. Só saio quando finalizo um quadro. Pinto sempre com muita cor e exteriorizo os sentimentos”. A família não fazia comentários porque não lhe conheciam dotes de pintora, mas dois amigos incentivaram-na. Daí a ter uma exposição de quadros em nome próprio foi um salto. Expôs na galeria do Palácio do Infantado, em Samora Correia, no mês de Março, e foi elogiada. Os quadros, assinados com o pseudónimo Maria Miguel, foram vendidos a preços simbólicos após a exposição “Parkieart – Parkinson e Eu”. Nas telas predomina a cor o que dá espaço para a imaginação cada um.
Dulce Possante conduz e faz questão de ir de férias e passear. O maior desafio é controlar as dores. Não treme muito mas involuntariamente tem sempre uma mão a mexer. Só se apercebe quando olha ao espelho. Um dos aspectos mais importantes para viver com Parkinson é fazer exercício físico. Por isso começou a seguir o grupo americano Power for Parkinson que diariamente dá aulas online ao vivo direccionadas para a mobilidade. Confessa que tem preguiça mas às vezes levanta-se de madrugada para fazer os alongamentos.