Claudino Serrano é, aos 87 anos, um dos comerciantes mais antigos de Samora Correia
Em Samora Correia todos conhecem a Drogaria Serrano, aberta há 55 anos por Claudino Serrano. Um estabelecimento que mantém a traça original incluindo o balcão por onde passaram várias gerações de clientes.
Claudino Pernes Serrano tem 87 anos e é um dos comerciantes mais antigos de Samora Correia. Há cerca de 75 anos que trabalha na Avenida O Século, primeiro como empregado de uma drogaria, durante 19 anos e depois, até hoje, como dono da Drogaria Serrano, onde está há 55 anos.
Nascido e criado em Samora Correia, com mais dois irmãos, o pai era capataz da Companhia das Lezírias e a mãe dividia as lides domésticas com o cultivo de batatas num terreno de família. “Samora Correia era a rainha das batatas. Durante quatro meses vinham carros de Lisboa para levar batatas para a capital”, recorda o comerciante.
Claudino Serrano acabou a quarta classe e aos 11 anos começou a trabalhar no comércio. Aprendeu a manusear os produtos e a arranjar soluções para os clientes. Por isso, aos 30 anos decidiu aventurar-se por conta própria. Ainda esteve para emigrar mas o apego à terra falou mais alto e aceitou a proposta de um conhecido para ficar com a casa que até hoje é arrendada à Drogaria Serrano.
No meio da profissão conheceu a esposa, que trabalhava na casa de um médico. Foi a companheira de uma vida. “Faleceu aos 83 anos e faz-me muita falta. Tivemos uma filha e tenho um neto com oito anos. Fiquei abalado com a morte dela, foi repentino”, diz comovido.
Quem entra no estabelecimento dá de caras com uma balança antiga, em perfeito estado de conservação e funcional. O balcão, de madeira maciça, é o mesmo desde há 55 anos. Até o escadote, feito à mão, resistiu à passagem do tempo. Já o quiseram comprar, para levar para França, mas Claudino não cedeu.
Atendimento de excelência
A Drogaria Serrano chegou a ter três funcionárias, mais Claudino e a esposa. Hoje, o comerciante vai mantendo as portas abertas para escoar os produtos que tem em stock. Não faz mais encomendas a fornecedores. Nas prateleiras ainda tem loiças e artigos de ferragens que já raramente se encontram e isso faz com que continue a ter clientes. “Antigamente tinha clientes de Vila Franca de Xira, Salvaterra de Magos e outras terras, porque eu tinha produtos que não se encontravam noutros lados. O serviço que hoje é feito em casas como a minha não é igual ao das grandes superfícies porque quem está atrás do balcão há 20, 30, 50 anos tem conhecimento”, sublinha.
A O MIRANTE diz que nunca apanhou grandes sustos por ter o comércio aberto. Há quatro meses foi abordado por quatro mulheres na loja que tentaram vender-lhe fruta, mas era uma manobra de distracção para poderem roubar. Acabaram por levar três pratos de loiça. Noutros tempos chegaram a levar um alguidar sem pagar e no dia a seguir faziam as compras como se nada fosse.
A Drogaria Serrano está aberta de segunda a sexta-feira, e aos sábados até às 13h00. Fora da loja, Claudino Serrano gosta de ver televisão mas só “coisas alegres”. Não usa telemóvel e deixou de conduzir. Ainda recebe telefonemas pelo telefone fixo, de fornecedores e conhecidos curiosos em saber se mantém o negócio. Sem problemas de saúde Claudino Serrano sente-se acarinhado pela comunidade e gosta muito de Samora Correia.