Suiniculturas ilegais na Coutada Velha são problema para a população e animais
População vive há décadas com cheiros insuportáveis provenientes da actividade das suiniculturas e diz-se agastada com a passividade com que o problema tem sido tratado. O prazo para o encerramento das empresas terminou há dois meses mas uma delas continua a receber novos animais. Autarquia garante estar a preparar acção para acabar com a laboração ilegal.
Há pelo menos duas décadas que os habitantes de Coutada Velha, no concelho de Benavente, se queixam dos maus odores provenientes da laboração de suiniculturas próximas das suas habitações. O problema é antigo e deveria ter tido o seu desfecho em Fevereiro com o encerramento das mesmas, mas tal não se verificou. Entre os moradores afectados há quem não se conforme e critique a passividade da Câmara de Benavente.
“Há 30 anos que moro na Coutada Velha e há 20 que as suiniculturas são um incómodo por causa do cheiro. Não se consegue estender roupa, estar na rua ou em casa de janelas abertas”, lamenta a O MIRANTE Ana Paula Jesus, garantindo que recentemente, já depois do término do prazo para o encerramento das suiniculturas, uma delas - “a que mais incomoda” - recebeu nova entrada de porcos. “A câmara já sabia que o prazo terminava em Fevereiro e devia ter pressionado, isto nunca mais se resolve”, lamenta a moradora.
A Câmara Municipal de Benavente, em conjunto com o departamento jurídico, garante estar a preparar uma acção para proceder à cassação das licenças dos edifícios na Coutada Velha onde as suiniculturas continuam a laborar ilegalmente. De acordo com o vereador Hélio Justino (CDU), essas diligências estão a ser desenvolvidas com a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), uma vez que a autarquia não tem forma coerciva de cessar a actividade de exploração de animais.
Segundo testemunhos de quem ali vive, além dos maus cheiros que denotam falta de limpeza, os animais não têm condições dignas para se manterem naquele espaço e passam o dia em cima das próprias fezes, sem espaço para se poderem mexer.
Hélio Justino diz que o operador sabe que está em incumprimento, mas alega, desde Fevereiro, que aguarda a disponibilização de um espaço no Montijo para se mudar e outro espaço noutra zona do concelho de Benavente. Recorde-se que terminou a 19 de Fevereiro o prazo legal de cinco anos para as suiniculturas encerrarem actividade ou deslocalizarem-se.
As queixas da população de Coutada Velha por causa dos odores nauseabundos libertados pelas explorações pecuárias instaladas junto a zonas habitacionais da localidade duram há duas décadas. Já em 2005 O MIRANTE noticiava a revolta da população daquela localidade da freguesia de Benavente contra uma das suiniculturas devido ao cheiro nauseabundo e poluição de cursos de água. Na altura a Comissão de Melhoramentos, União e Progresso da Coutada Velha referia que a situação era insuportável que tinha feito chegar o terceiro abaixo-assinado da população junto de várias entidades que regulam o sector. Em 2022, o presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho referia, depois de anunciar que 2024 era o ano para a cessação da laboração das suiniculturas, que permanência de empresas libertadoras de maus cheiros junto das populações “constitui uma situação inadmissível” geradora de “má qualidade de vida”.
Criação de porcos responsável por maior pegada ambiental
A criação de porcos é a actividade destinada à produção de alimento que mais impacta os recursos naturais no mundo, seguindo-se a pecuária bovina, o cultivo de arroz e o de trigo. Estas conclusões fazem parte de um estudo publicado em 2022 na revista científica Nature Sustainability, que analisou dados globais da produção de alimentos em 2017.
De acordo com o mesmo artigo, as actividades destinadas a gerar comida para a humanidade utilizam metade das áreas habitáveis e 70% da água doce do planeta, gerando entre um quarto e um terço dos gases de efeito estufa produzidos pelo homem, além de poluir com nutrientes as bacias hidrográficas e áreas costeiras.