Vila Franca de Xira foi bastião de resistência na luta contra o fascismo
Executivo da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira homenageou figuras que considerou terem sido importantes para a construção do poder local democrático e luta contra o fascismo. Homenageados avisaram que as liberdades da revolução estão a desvanecer-se todos os dias.
O concelho de Vila Franca de Xira foi um importante bastião de resistência antifascista e não pode esquecer essa história e evocá-la apenas quando se celebra o 25 de Abril. Uma mensagem bastante presente na noite de 17 de Abril durante a homenagem que a Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira fez a sete pessoas e duas instituições da cidade, pelo seu papel ao longo dos anos na construção do poder local democrático e na luta contra o fascismo. Um momento integrado nas comemorações dos 50 anos da revolução do 25 de Abril e que aconteceu no final de uma reunião do executivo da junta. Foram entregues diplomas de mérito e emblemas da freguesia.
Os homenageados foram Luís Geordano Covas (deputado à Assembleia Constituinte de 1974 a 1976), José Pedro Soares (também deputado à Constituinte entre 1974 e 1976), António Alves Machado (presidente da Junta de VFX aquando da elevação a cidade) e quatro mulheres: Maria Eduarda Nobre, presidente da primeira comissão administrativa de freguesia em 1974; Ana Câncio, a primeira mulher presidente da junta de freguesia; Maria da Luz Rosinha, ex-deputada e primeira mulher presidente da câmara; e Sandra Marcelino, a primeira mulher a presidir à assembleia municipal.
Também foram homenageados o Núcleo de VFX da Liga dos Combatentes, em representação dos militares que fizeram o 25 de Abril, e a Associação Alves Redol, em representação dos movimentos cívicos e culturais que contribuíram para a revolução e a luta anti fascista.
“VFX foi uma terra de resistência, de anti fascistas, muitos deles a sofrer com muitos anos de prisão. Os passos que demos em democracia para que o poder local democrático pudesse servir as populações da melhor maneira não deve ser esquecido. É um privilégio ter sido presidente de junta e ter conseguido fazer obra e actividades que até então era impossível fazer”, lembrou António Alves Machado.
“O futuro tem de ser Abril”
Já Maria Odete Capucha, em representação da Associação Alves Redol, lembrou a “privação total de liberdades” que se vivia em 1971, quando a associação deu os primeiros passos. “Um grupo de pessoas inconformadas com a falta de resposta estatal para as necessidades culturais em VFX decidiu fundar o Centro Popular Alves Redol que ao fim de um ano foi mandado encerrar pela PIDE (polícia política). Foi reaberto com o nome Cooperativa Alves Redol, que continuou e manteve os mesmos valores apesar das condições adversas. Em 2016 passou a ser associação. Obrigámo-nos a continuar a ser cultura, liberdade e resistência, o que cada vez mais faz sentido, porque só assim podemos fazer frente aos movimentos fascistas em crescimento em todo o mundo incluindo em Portugal. O futuro tem de ser Abril”, defendeu.
O papel das mulheres na construção do poder local democrático foi também lembrado por Maria da Luz Rosinha, que confessou o orgulho pelo papel que VFX teve na luta contra o fascismo. A ex-autarca lembrou a “grande felicidade” que foi a revolução para a sua geração, lamentando que hoje, para quem nasceu em liberdade, seja uma coisa tão natural como o ar que se respira.
“São precisas mais mulheres, elas são mesmo para estes lugares, têm uma dedicação, empenho e entrega que faz a diferença. O poder local é a primeira marca que nos merece respeito. É quem está mais perto das populações e a quem as pessoas se queixam primeiro. Já disse a vários governos que não sabem o que se passa cá fora. As pessoas não se queixam ao ministro, queixam-se ao presidente de junta e de câmara”, notou. No final houve distribuição de cravos e cantou-se o Grândola Vila Morena.