Sociedade | 04-05-2024

No mundo das novas tecnologias ainda é possível conquistar pequenos leitores

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No mundo das novas tecnologias ainda é possível conquistar pequenos leitores

Em Azambuja nasceu um projecto para aproximar os alunos dos livros e incutir-lhes hábitos de leitura desde tenra idade. Na sala de aula, em voz alta, mas sem trabalho escolar associado, alunos dos seis aos 15 anos ouvem ler o livro que escolheram.

O MIRANTE foi conhecer o “Ler por Prazer” a duas escolas do concelho a propósito do Dia Mundial do Livro que se assinala a 23 de Abril.

Rúben Dias não tinha criado até aos 13 anos uma relação de amizade com os livros que o levasse a procurá-los para lhes conhecer as histórias. Lia somente os que a professora indicava e que, por norma, tinham uma ficha associada a contar para avaliação. Mas essa relação distante com a leitura mudou. Agora, este aluno do 7ºA da Escola Básica de Manique do Intendente é um leitor assíduo de livros de comédia e já não adormece sem passar os olhos por meia dúzia de páginas. E o responsável por esta mudança é o projecto municipal “Ler Por Prazer” que, através da Rede de Bibliotecas de Azambuja, oferece livros à escolha das turmas e lhes lança o desafio de, diariamente, promoverem pelo menos cinco minutos de leitura em voz alta.
Na sala de Rúben, a responsável por essa tarefa é a professora de Português, Isabel Silva, que no final de cada aula, com os alunos sentados em círculo a um canto, lê em voz alta “Os Meninos do Caminho de Ferro”, de Edith Nesbit. A escolha do livro, refere a docente, partiu dos alunos que também a nomearam para lhes ler. “Eles querem ouvir alguém a ler com fluidez e com expressividade”, não só por facilitar a compreensão e o interesse pela narrativa mas porque – pelo menos aos que tiveram essa sorte – lhes faz lembrar os tempos de infância em que os pais lhes liam antes de irem dormir. “É um hábito que muitos tiveram mas que se foi perdendo. Por isso é que este projecto é tão importante: fomenta a leitura que se perdeu também por causa das tecnologias dominarem a vida deles”.
Nas casas de Melissa Daniel e Leonor Pedro, à noite, os telemóveis “ficam a carregar” baterias e são os livros que ocupam lugar cativo na mesa-de-cabeceira. “Leio sempre antes de ir dormir, policiais, que são os que mais gosto. A minha mãe lia para mim quando eu era pequena e sinto que me ajuda a relaxar porque a ler podemos imaginar”, diz a aluna do 7ºB. “E cada pessoa pode imaginar um cenário diferente mesmo lendo as mesmas letras”, completa Melissa do 7ºA que lê “quase todos os dias pelo menos hora e meia” fora o tempo que investe a ler para a sua irmã mais nova, tal como a sua mãe lhe fazia quando tinha a mesma idade.
Para estas alunas, que já tinham hábitos de leitura, o projecto do município de Azambuja também lhes trouxe mudanças positivas: terem mais colegas com quem conversar sobre livros e literatura. “Dantes não tinha ninguém para conversar sobre livros e quando começámos a ler no fim das aulas vários colegas aproximaram-se mais de mim para falar sobre o livro e a gostar mais de ler. Agora já trazem livros na mochila para ler nos intervalos”, diz com satisfação.

Promover a leitura pelo simples prazer de ler
Iniciado no ano lectivo de 2017/2018, o “Ler por Prazer” “tem por objectivo promover a leitura pelo simples prazer de ler, sem qualquer trabalho associado”, começa por referir a O MIRANTE Joanna Whitfield, responsável pela Rede de Bibliotecas do Município de Azambuja. “Sabemos que no início da adolescência o hábito da leitura diminui” e com este projecto consegue-se demonstrar aos alunos que “ler pode ser divertido, cativante e interessante quando é realizado com vontade e por prazer”.
Mas não é só para os adolescentes ou pré-adolescentes que este projecto se destina, pelo contrário. Foi junto dos mais pequenos, os alunos de 1º ciclo, que começou a ser implementado. O motivo? “Quando começam a saber ler é normal gostarem de ler livros porque se entusiasmam e querem mostrar que sabem, e é precisamente nessa altura que se deve criar o hábito da leitura para que mais tarde não se perca”, explica a professora do 3ºH do Centro Escolar Boa Vida Canada, Azambuja, Sofia Gomes. Mas além deste há muitos outros benefícios como “fortalecer a capacidade de imaginação, a ortografia, a interpretação e o vocabulário” até porque “quando não sabem o significado de uma palavra nova perguntam”.

Relação com os livros também depende dos exemplos em casa

Nesta turma do 1º ciclo com 24 alunos reina a heterogeneidade: “há meninos para quem os pais lêem desde muito cedo e que criaram hábitos de leitura e outros cujos pais não sabem ler e que não têm livros em casa”. E é sobretudo a estas crianças que o projecto “quer e está a chegar”, sublinha a docente. Tomás Sousa, de oito anos, confessa que ainda não ganhou o hábito e o gosto desejável pela leitura mas, admite, gosta de ouvir a professora ler “O Livro dos Sonhos Roubados” de David Farr. Fora da escola, para já, vai continuar a preferir jogar à bola e fazer parkour até porque lá por casa não há estantes com livros ou leitores que pudessem servir de incentivo para lhes replicar a prática.
Uma realidade que ainda é a de muitas crianças e que contrasta com a de Alice Nobre e Lourenço Filipe, do 3ºH, dois leitores curiosos e sempre impacientes pelo desfecho das narrativas. Se ela prefere as aventuras, ele gosta mais de contos romanceados, mas ambos concordam que não é por terem oito anos que já não têm idade para que os pais lhes leiam antes de caírem no sono. “Eu até tenho problemas em dormir rápido e às vezes peço à mãe para me ler uma história. Assim penso que os personagens estão ao pé de mim e acalma-me”, diz Lourenço.
De facto, independentemente da idade “é muito importante ouvir ler em voz alta pela dicção, por exemplo, mas também porque sobra mais tempo para imaginar, ajudar a dormir bem e a criar laços [afectivos] entre pais e filhos”, conclui Joanna Whitfield.

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