Em Azambuja é a brincar que se mantêm vivas as tradições
Ensinar aos mais novos o ciclo do pão, desde a moagem do cereal à feitura do alimento, e a saber fazer o típico ramo de Quinta-feira de Ascensão foram os objectivos da iniciativa da Câmara de Azambuja. O vice-presidente fez de padeiro e as crianças divertiram-se ao mesmo tempo que aprenderam mais sobre as tradições do seu concelho.
Sofia e Leonor, ambas de seis anos, metem pela primeira vez as mãos na massa à base de água e farinha enquanto o forno atinge a temperatura ideal para a cozedura. É a primeira vez que estão a fazer pão, assim como a maioria das três dezenas de crianças que participam na iniciativa Da Espiga ao Pão, promovida pela Câmara de Azambuja para assinalar o feriado de Quinta-feira de Ascensão, celebrado a 9 de Maio. O objectivo, explica a O MIRANTE o técnico da autarquia Nuno Nobre, é ensinar às novas gerações “a importância que o pão tinha antigamente”, sobretudo em terras como Azambuja, na lezíria ribatejana, onde abundavam as plantações de trigo e o “pão era sinónimo de riqueza”.
“É importante perceber como é que as coisas se faziam”, sublinha o vice-presidente do município, António José Matos, que orgulhosamente vestiu a pele de padeiro para ensinar aos mais novos a arte de amassar o pão, neste caso numa padaria improvisada: o Museu Municipal Sebastião Mateus Arenque que conta com um forno adquirido pela autarquia já com o propósito de ser utilizado neste género de acções lúdico-educativas. “Acaba por ser a temática do nosso museu: recordar, conhecer e aprender”, salienta o autarca que gere o pelouro da Cultura num concelho com fortes raízes no trabalho de campo e no pão, não fosse Azambuja conhecida por ser terra berço do torricado.
Entre os jovens participantes, cujas idades variam entre os seis e os 10 anos, há quem já tivesse feito pão com a avó ou noutras iniciativas do género organizadas pelo município. No entanto, para a maioria, é novidade a junção dos ingredientes que vão levedar, ganhar a forma que se lhe der e, por fim, entrar para o forno transportados pela longa pá de madeira para depois serem retirados, já cozidos, e degustados.
Fazer o ramo da espiga para trazer sorte e fartura
Além da feitura do pão e da transmissão do seu ciclo desde a moagem dos cereais, esta iniciativa cumpre simultaneamente o objectivo de ensinar a maior tradição desta quinta-feira: a apanha da espiga. E também nesta há ingredientes indispensáveis. São eles as três espigas de trigo, os três malmequeres amarelos, as três papoilas, um ramo de oliveira, uma esgalha de videira com cacho em formação e um pé de alecrim ou rosmaninho.
Mas desengane-se quem pensa que o mais difícil nesta tarefa é atar tudo com um cordel. Decorar o que cada “ingrediente” significa é bem mais complicado enquanto se tenta fazer um ramo bonito para se levar para casa para dar sorte e fartura. “A flor amarela é riqueza e a vermelha é o amor”, atira prontamente Mateus, de sete anos. “Eu não tenho bem decorado mas sei que a papoila é o amor, o malmequer é a riqueza e a azeitona é a paz”, tenta completar Alexandre, de 10 anos, que ficou a saber mais sobre esta tradição do concelho que com o passar dos anos tem vindo a decair, sendo já raras as famílias que se juntam para ir ao campo apanhar o ramo.