Sociedade | 20-05-2024 12:00

Vialonga tem um beco onde não entram carros do lixo e bombeiros

Vialonga tem um beco onde não entram carros do lixo e bombeiros
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
José David (à esquerda), com Amália Martins e José Camilo Mendes que moram há quase 60 anos na Praceta Vila Lucas

Veículos de combate a incêndios e viaturas de recolha de lixo não conseguem entrar ou têm dificuldade em fazer manobras na estreita Praceta Vila Lucas, em Vialonga. Há quem defenda que um muro que fecha a rua pode ir abaixo para facilitar a circulação, mas os moradores idosos discordam por razões de segurança.

As ambulâncias têm dificuldade em fazer serviço e prestar socorro aos moradores da Praceta Vila Lucas, em Vialonga. O local é um estreito beco sem saída, vedado numa das extremidades por um muro, o que dificulta as manobras e muitas vezes impossibilita que as ambulâncias circulem naquela artéria. As viaturas dos bombeiros e recolha de lixo não conseguem ali chegar porque não têm espaço para circular. A recolha do lixo é feita pelo dumper da Junta de Freguesia de Vialonga às segundas-feiras e sextas-feiras. Os contentores de lixo mais próximos estão a 200 metros e muitos moradores são idosos e com mobilidade condicionada.
O único acesso à praceta é pela Calçada da Moira e também essa rua é estreita. Os moradores relatam ainda que duas autocaravanas estacionadas na curva ajudam a dificultar a vida aos automobilistas que querem circular. A solução para resolver o problema é deitar o muro abaixo e assim garantir outro acesso de viaturas e peões à Praceta Vila Lucas, mas as opiniões dos moradores dividem-se. Os mais idosos temem pela segurança durante a noite e por isso não querem abrir a rua, mesmo admitindo que a prestação de socorro é difícil.
Mas para José David não restam dúvidas de que em primeiro lugar está o socorro às populações e por isso defende que o muro seja deitado abaixo. Não reside na praceta mas é proprietário de uma casa com 70 anos, onde a esposa trabalha como costureira durante o dia, e conhece todos os idosos da rua. “A solução é deitar o muro abaixo e rebaixar o passeio. Os idosos não querem porque estão acostumados a estar na rua a conversar, sentados, e se passarem carros perde-se esse convívio. Mas eu privilegio a segurança. Neste canto da praceta moram oito idosos com mais de 80 anos e uma senhora com deficiência motora, totalmente dependente numa cadeira de rodas”, conta.
O proprietário alerta ainda para a antiguidade dos imóveis, com telhados em madeira e paredes finas, que são um rastilho caso haja algum incêndio. “Já fui à assembleia municipal reportar a questão e não disseram nada. Até me ofereci para partir o muro com as minhas máquinas e a câmara só removia os destroços”, conta.

Idosos têm medo
Amália Martins e José Camilo Mendes moram há quase 60 anos na Praceta Vila Lucas. De 15 em 15 dias o casal necessita de ambulância para transportar José ao hospital. Há um mês a ambulância teve de ficar na estrada principal de Vialonga porque não conseguia passar e os bombeiros levaram o idoso para casa de cadeira de rodas. Ainda assim o casal de idosos não quer que o muro seja deitado abaixo com receio de aumentar o movimento. “Com o antigo presidente da Junta de Vialonga chegou a falar-se de colocar uma porta no muro para podermos aceder às casas sem ter de ir dar a volta mas isso também não resolve o problema das ambulâncias. As pessoas queriam a porta para não terem de andar tanto a pé e poderem chegar com as compras do supermercado”, disse Amália Martins.
O casal de idosos contou ainda ao nosso jornal as dificuldades que tem para receber correspondência, uma vez que a Praceta Vila Lucas chamava-se Rua Vila Lucas. Apesar da alteração de nome e números de porta, não existe placa toponímica correspondente e os carteiros enganam-se na correspondência. “Tivemos de alterar a morada nas finanças, na luz, no posto médico e no hospital para quê? Os correios continuam a entregar as cartas noutros lados e nem sequer meteram aqui o nome da rua, é só para nos dar trabalho”, queixam-se.
Quando os carros da oficina localizada na Calçada da Moira impedem a passagem de viaturas são os próprios moradores que pedem “para dar um jeitinho” e convivem bem com o negócio. Mas se for o INEM relatam que não têm tempo para estar a pedir para os carros serem retirados para circularem. Da parte da oficina dizem que depende de quem conduz a ambulância se tem mais ou menos “habilidade” para fazer manobras.

Bombeiros sem queixas
O comandante dos Bombeiros de Vialonga, Gonçalo Guiomar, garante que até à data não tem registo de ocorrências que tivessem impedido a prestação de socorro naquela praceta. Se tal vier a acontecer a indicação que os bombeiros têm é para chamarem as autoridades. “Nenhum colega se queixou e até agora não tenho conhecimento de situações destas porque se não conseguem chegar ao local da ocorrência esforçam-se para socorrer na mesma a vítima e depois reportam à GNR e junta de freguesia. Até agora tem corrido tudo bem. Se algum dia correr mal a culpa nunca será dos bombeiros”, disse.
O presidente da Junta de Freguesia de Vialonga, João Tremoço reconhece o problema mas por respeito aos idosos e à sua vontade, uma vez que moram ali há muitos anos, não vai tomar nenhuma posição contra a vontade deles. O MIRANTE contactou ainda a Câmara de Vila Franca de Xira mas até ao fecho da edição não obtivemos resposta.

O derrube do muro permitiria ter novo acesso à Praceta Vila Lucas

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