Uso de telemóveis nas escolas é muitas vezes incentivado pelos pais
A Associação de Pais do Agrupamento de Escolas de Marinhais dinamizou uma sessão sobre os perigos da Internet e de como evitá-los.
Apesar da importância do tema, apenas sete pais e professores marcaram presença. Houve quem se pronunciasse contra o uso do telemóvel nas escolas e acusasse alguns pais de não darem o exemplo de que as regras são para cumprir.
A Associação de Pais do Agrupamento de Escolas de Marinhais (APAM) promoveu recentemente a acção informativa “Perigos da Internet: perigos no namoro” no Mercado de Cultura, em Marinhais, mas a iniciativa acabou por ter pouca adesão quer de alunos quer de encarregados de educação, apesar do tema estar na ordem do dia. A iniciativa foi realizada em colaboração com a Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário (antiga Escola Segura) do Destacamento Territorial de Coruche da GNR, representada pela cabo Paula Gonçalves e o guarda Hugo Cordeiro. Esta foi a primeira iniciativa do plano anual de actividades da APAM e tinha como público-alvo jovens e encarregados de educação, mas apenas sete pais e professores marcaram presença.
Pais e professores presentes mostraram-se preocupados com o uso do telemóvel nas escolas, defendendo mesmo a sua proibição. No recreio, revelou a cabo Paula Gonçalves, que vai há 20 anos às escolas, as crianças chegam a estar lado a lado a trocar mensagens umas com as outras, sendo que nas salas de aula, contou uma professora, muitas vezes são os pais a telefonar, sabendo que estão em aula, e a incentivar ao uso do telemóvel. “Nós somos exemplo para eles e todos os dias a maioria transmite que as regras não são para cumprir”, defendeu a cabo, acrescentando que “eles estão sempre à frente para fugir ao controlo dos pais”, dando o exemplo de conversas por fotografia de visualização única em que adicionam caixas de texto.
“O pior sítio para se ter um computador é no quarto”
Paula Gonçalves revelou um caso de duas adolescentes de 16 e 17 anos que a fotografaram de costas fardada, fizeram um gesto obsceno e publicaram nas redes sociais, o que, somado, resultou em 11 crimes, desde o fotografar em espaço escolar à publicação. “A presença online é uma extensão da presença no mundo físico com efeitos reais. Tudo o que é enviado corre o risco de sair para público”, diz. A cabo da GNR lamentou que “quando os pais vão à escola não vão à procura de saber o que aconteceu, mas pedir justificações daquilo que os filhos disseram que aconteceu”. A inteligência artificial e consequentes ameaças à privacidade também foi uma preocupação transmitida pelos pais. “O pior sítio para se ter um computador é no quarto”, garante a militar, aconselhando para que os dispositivos estejam em espaços onde a família passe.
A GNR alertou para perigos como os da existência de predadores virtuais, principalmente nos jogos online onde estão as crianças, a disseminação de informações falsas que geram alarme social ou phishing, mensagens em nome de entidades credíveis para roubar informação ou extorquir dinheiro. A publicação de informação privada como rotinas diárias e detalhes do interior da casa é também desaconselhada, tendo sido sublinhado ainda que o excessivo uso da Internet causa instabilidade emocional, perda de desempenho académico e falta de empatia, por culpa da deturpação da realidade na Internet, expectativa irrealista de padrões de beleza e estilo de vida e algoritmo.
Organização lamenta falta de adesão
A presidente da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas de Marinhais (APAM), Patrícia Gouveia, pronunciou-se sobre a falta de adesão à iniciativa, onde estiveram sete pessoas, entre professores e encarregados de educação. “Pelo que vamos falando com outras associações é algo comum, o que nos deixa tristes. Vamos acreditar que os pais não estão desligados da educação dos filhos e que a falta de comparência será por motivos profissionais”, afirmou.
A iniciativa, marcada para as 18h00 de dia 8 de Maio, foi divulgada nas redes sociais em meados de Abril e inclusivamente na escola. Para breve está prevista uma sessão sobre violência no desporto, em data a anunciar. O Agrupamento de Escolas de Marinhais tem cerca de 1.300 alunos.