Presidente do Supremo alerta para risco de ruptura do Tribunal da Concorrência em Santarém
Na última intervenção pública, pouco tempo antes de terminar o mandato, o juiz conselheiro Henrique Araújo, disse que é urgente encontrar soluções para a falta de meios e de especialização.
Na abertura das jornadas do Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão, a juíza presidente do tribunal instalado em Santarém, Susana Fontinha, falou em desinvestimento do Estado.
O presidente do Supremo Tribunal de Justiça alertou a poucos dias antes de terminar o mandato, para o perigo de o Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão, instalado em Santarém, entrar em ruptura devido à escassez de meios, à falta de condições para melhorar essa situação, e à insuficiente assessoria especializada. O juiz conselheiro Henrique Araújo, que fez a sua última intervenção pública na abertura das quartas jornadas do tribunal, no Convento de São Francisco em Santarém, na sexta-feira, 17 de Maio, disse que é urgente trabalhar na resolução destas situações, elogiando os profissionais deste tribunal de competência nacional que “têm lutado contra a falta de meios e resistido à pressão de apreciar matérias bastante complexas”.
Henrique Araújo sublinhou que pelo movimento de juízes não há condições imediatas para o reforço de magistrados no tribunal, que tem funcionado com três juízes, insuficientes para o volume processual. O presidente do Supremo, que vai ser substituído por João Cura Mariano, eleito na quarta-feira, 15 de Maio, diz que a solução para a falta de especialistas em determinadas áreas, para assessorarem os magistrados, pode passar pelo recrutamento de juristas. Considera ainda que se deverá estudar a realização de protocolos com universidades e institutos universitários para apoio especializado.
Antes, já a juiz presidente da Comarca de Santarém e do Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão tinha lamentado as condições de trabalho, acrescentando as limitações de espaço e de meios informáticos e tecnológicos numa área da justiça que envolve casos de grande complexidade. Susana Fontinha referiu-se à falta de recursos humanos como “gravíssima”, destacando ainda o seu crescente envelhecimento. A juíza chamou a atenção para outras questões que interferem na actividade do tribunal, como a “reduzida capacitação digital e tecnológica dos seus operadores, a insuficiência e desadequação dos meios materiais e técnicos e as limitações das condições físicas”.
Susana Fontinha considera que a situação em que se encontra o tribunal é o resultado do desinvestimento de anos do Estado na área da Justiça. A juíza realçou ainda que a desadequação de meios interfere na capacidade de resposta do tribunal que “alimenta uma percepção pública, porventura mal fundada e injusta, face aos indicadores disponíveis, de que os tribunais são ineficientes, ineficazes e pela sua morosidade de resposta um entrave ao desenvolvimento social e económico”.
A magistrada avisa que “esta percepção abre portas a que seja possível que, sem reflexão séria e profunda quanto ao que colectivamente pretendemos para futuro, ganha lastro e se popularizem de forma fácil, dispersa e não congruente, ideias avulsas de desjurisdicionalização, intervenção mínima, discricionariedade, oportunidade e agilização de procedimentos”.