Maioria dos jovens quer sair de Torres Novas devido à falta de emprego qualificado
Estudo demonstra que a falta de oportunidades de trabalho competitivas, a sustentabilidade ambiental e mobilidade são algumas das preocupações mais sentidas pelos jovens do concelho de Torres Novas. A segurança é valorizada e a taxa de ligação ao voluntariado e associativismo fica aquém das expectativas, revela ainda o trabalho levado a cabo pelo movimento Novas Raízes.
A maioria dos jovens de Torres Novas a frequentar o 11º e 12º anos de escolaridade admite querer sair do concelho por falta de oportunidades de formação superior e de emprego qualificado, embora considere que é um lugar seguro para se viver e que tem qualidade de vida valorizada pelos espaços verdes existentes. Apesar disso, a juventude está preocupada com as alterações climáticas e gostava que a comunidade torrejana estivesse mais desperta para esse problema. Estes são alguns dos resultados do Diagnóstico Jovem Torres Novas, realizado pelo movimento Novas Raízes a uma amostra de 123 jovens de todas as freguesias do concelho.
“O objectivo deste diagnóstico, através da auscultação de jovens na iminência de ficar ou sair do concelho, foi perceber o que os levava ou não a sair, quais são as suas principais preocupações, o que mais valorizam e gostavam de ver mais desenvolvido”, explica a O MIRANTE Afonso Borga, um dos elementos do movimento e um dos jovens que deixou o concelho para prosseguir estudos no ensino superior e trabalhar. Licenciado em Serviço Social, com mestrado em Estudos do Desenvolvimento vive com a namorada no Montijo e trabalha em Lisboa.
Afonso Borga refere que “gostava de voltar e viver” no concelho de Torres Novas, onde “a qualidade de vida é completamente diferente [para melhor] da de uma grande cidade”. Não o faz, explica, precisamente pela falta de emprego qualificado na área de responsabilidade social corporativa, em que trabalha. No entanto, ressalva, tanto ele como os jovens que integram o Novas Raízes e saíram em busca de “melhores oportunidades de emprego e formação” consideram “importante manter ligação à comunidade” onde nasceram e cresceram.
“O concelho está limitado ao que existe. É difícil chamarmos e retermos empresas com outro tipo de valor dada a nossa proximidade com Lisboa”. Mas sair das fronteiras concelhias “não é propriamente um mau indicador, o que interessa é que haja depois esta vontade de manter uma ligação com a comunidade e de verem em Torres Novas a possibilidade de poderem vir a desenvolver o seu futuro ou poderem ajudar a comunidade a desenvolver-se”, afirma o jovem de 29 anos numa conversa que decorreu no Jardim das Rosas, em Torres Novas.
Pouca participação no voluntariado e no movimento associativo
De acordo com os dados recolhidos, um dos pontos menos positivos que os jovens identificam no concelho é a falta de transportes públicos regulares e em todas as freguesias do concelho. “Por exemplo, os Transportes Urbanos Torrejanos (TUT) não chegam a todas as aldeias e os jovens sentem isso como uma necessidade. É certo que já existe a gratuitidade, mas falta chegarem a todo o lado e passarem com mais regularidade”, nota, acrescentando que também foi abordada pelos inquiridos a necessidade de existirem transportes públicos que os levem para fora do concelho. Outro ponto negativo é a falta de dinâmica cultural, ou seja, “há de facto oferta mas os jovens entendem que devia ser mais diversificada e que há espaços que podiam ser mais aproveitados” para a realização de eventos culturais.
O diagnóstico confirma ainda que a taxa de jovens que fazem voluntariado é diminuta (5%) assim como a dos que estão ligados ao movimento associativo local (6%). “Enquanto movimento sentimos a responsabilidade de promovermos melhor essa participação”, afirma Afonso Borga. Por seu turno, mais satisfatória foi a percentagem de jovens que pratica desporto (53%).
Jovens precisam de ser ouvidos com regularidade
As gerações mudam, os interesses alteram-se, assim como as preocupações que assaltam os jovens. É por isso necessário, defende Afonso Borga, que os jovens sejam escutados com mais regularidade por quem tem voz ou poder de decisão. Foi nesse sentido, completa, que o Novas Raízes realizou uma sessão pública de apresentação do diagnóstico, na qual estiveram presentes jovens, elementos do executivo municipal e representantes das forças políticas com assento na assembleia municipal.
Dessa apresentação, sublinha, o movimento espera que “as entidades tenham retido, acima de tudo, a importância de fazer estes momentos de auscultação de forma mais regular. Nas [eleições] autárquicas, porque não antes da construção dos programas políticos haver estes momentos de auscultação aos jovens? É importante haver proximidade e perceber-se o que os jovens querem para o concelho”, acautela, acrescentando que os autarcas locais podem - e devem - “pegar nestes resultados e propor medidas” que vão ao encontro dos interesses e preocupações das novas gerações.
Novas Raízes nasceu com missão bem definida
O movimento Novas Raízes surgiu por um conjunto de jovens de diferentes percursos e freguesias do concelho de Torres Novas, com o objectivo de sensibilizar e mobilizar os da sua geração para uma participação mais activa na comunidade. Além do Diagnóstico Jovem - projecto mais recente tornado público em Abril deste ano - o movimento criou o Programa de Apoio ao Estudo, que decorreu nos anos lectivos 2019/2020 e 2020/2021 e consistiu na criação de uma bolsa de voluntários que tiveram como missão dar explicações a alunos “com carências sociais” do Agrupamento de Escolas Gil Paes. Desenvolveram também o projecto Quartas Universitárias, que teve como objectivo informar melhor os jovens sobre as universidades e institutos aos quais podiam candidatar-se tendo em conta a área de estudo que queriam seguir e, ainda, o Passaporte das Festas de Verão, através do qual divulgaram e incentivaram a juventude a participar nas festas e romarias de todas as freguesias do concelho.
“Todos somos gratos pelo nosso percurso no concelho e sentimos a responsabilidade de dar algo de volta à comunidade. Este é um pensamento que deve estar presente nas sociedades desenvolvidas” e é isso que o Novas Raízes pretende transmitir. “Não nos podemos só queixar de que não há desenvolvimento e não fazermos nada para mudar isso. Todos podemos fazer algo por muito pouco que seja”, conclui Afonso Borga, sublinhando que o movimento está de portas abertas para receber mias jovens que queiram abraçar esta missão.