Reorganização do tráfego aéreo motiva queixas na Póvoa de Santa Iria e Alverca do Ribatejo
O novo sistema Point Merge anunciado pela NAV pode ter benefícios para quem se desloca de avião e quem vive em Lisboa, mas em contrapartida parece estar a dar dores de cabeça a quem vive no sul do concelho de Vila Franca de Xira. Autarcas confirmam queixas da população e pedem uma reavaliação da medida. A NAV refuta a ideia de haver maior ruído.
A NAV, empresa prestadora de serviços de navegação aérea no aeroporto de Lisboa, implementou este mês de Maio um novo sistema de sequenciação para melhorar e reorganizar o tráfego no aeroporto da Portela mas a medida está a gerar revolta e dores de cabeça a quem vive no sul do concelho de Vila Franca de Xira. Tudo porque, queixam-se vários moradores a O MIRANTE, de um dia para o outro terão passado a sobrevoar o concelho mais aviões que o habitual e a altitudes aparentemente mais baixas, o que está a a afectar a qualidade de vida. “Sempre tivemos aviões a sobrevoar a Póvoa de Santa Iria mas passavam alto, quase não se ouviam. Agora temos dezenas de aviões por hora a aterrar e a descolar deste lado. Quando vão a descolar fazem um ruído imenso a todas as horas”, critica Pedro Conde, morador na Quinta da Piedade.
A queixa não é exclusiva dos moradores da Póvoa e o ruído também se sente em localidades vizinhas como Vialonga. Contactados pelo nosso jornal, os autarcas dizem que alguma coisa tem de ser feita. Cláudio Lotra, presidente da União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho, confirma a O MIRANTE um súbito aumento do tráfego aéreo sobre o seu território. “Temos recebido várias observações de moradores sobre isto e não fomos consultados pela NAV sobre esta nova medida”, afirma o autarca, que diz que a situação só vem dar força à posição assumida pela Câmara de Vila Franca de Xira de oposição à localização de um aeroporto em Alverca. Cláudio Lotra diz que é preciso que a NAV possa reavaliar a situação de forma a poupar os moradores aos incómodos que estão a ser sentidos, “sobretudo nas horas nocturnas”.
A vizinha autarca da União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, Ana Cristina Pereira, confirma os incómodos que este novo modelo de sequenciação de voos está a causar. “Ainda há dias estava na delegação do Forte da Casa e notei o estrondo dos aviões a passar muito mais perto por cima de nós. Isto é algo que nos está a preocupar imenso porque reduz a nossa qualidade de vida e perturba as pessoas”, critica.
A O MIRANTE fonte oficial da NAV confirma a criação de uma nova rota de saída dos aviões para Oeste, nas descolagens no sentido sul-norte para os voos que seguem rumo ao oceano, mas garante que essas alterações implicarão impactos mínimos para a população. A NAV lembra que muitas vezes as descolagens dependem das razões meteorológicas, já que os aviões devem levantar contra o vento e reage às queixas dos autarcas e de vários moradores dizendo que “em caso algum” as alterações do novo sistema produziriam tamanhos impactos. “Além disso as rotas de descolagem apresentam hoje esforços de subida idênticos ou inferiores às até então existentes e as rotinas operacionais associadas à descolagem em nada se alteraram”, refuta a empresa, acrescentando que nas aproximações finais (a partir de quatro mil pés) nas aterragens não se terão registado alterações.
Um sistema de dois milhões
O novo sistema, chamado Point Merge System (PMS), entrou em funcionamento após negociações com a Força Aérea Portuguesa e representa um investimento de dois milhões de euros, mudando a face do controlo do espaço aéreo de Lisboa, que inclui as bases militares de Cascais, Montijo, Sintra e Alverca. Promete, segundo a NAV, trazer “uma maior flexibilidade e previsibilidade na gestão do tráfego aéreo em toda a região”.
Além do novo sistema de sequenciação de voos, as alterações implementadas passam também pelo redesenho completo das rotas de entrada e saída das aeronaves do espaço aéreo de Lisboa. “Esta é a maior reestruturação de sempre do céu de Lisboa”, diz a empresa em comunicado. Agora, em caso de acumulação de tráfego, os aviões em espera pela sua vez de aterrar são alinhados em dois arcos e encaminhados para uma sequência de aterragem a uma velocidade constante. Uma solução diferente da anterior, onde os pilotos eram obrigados a esperar em círculos por cima da única pista da Portela em funcionamento, à espera de aterrar.
Outra das novidades do sistema envolve as rotas intercontinentais, por exemplo, em que agora os aviões passam preferencialmente a sair de Lisboa directamente para Oeste, sendo criada uma segunda rota para a saída das aeronaves com destino à Europa. Este mês, recorde-se, o Governo liderado por Luís Montenegro anunciou a decisão de construir um novo aeroporto em Benavente.