Manuel Antunes sente na pele as marcas do estacionamento abusivo em Santarém
Cidadão invisual diz que é uma aventura circular a pé pelas ruas do centro histórico de Santarém, devido à falta de civismo dos automobilistas, que ocupam os passeios com as suas viaturas.
Na segunda-feira apanhou mais um susto que podia ter acabado mal. As queixas sobre o estacionamento irregular já se ouvem há muito, mas têm faltado respostas assertivas para acabar com os abusos.
O estacionamento abusivo em algumas ruas do centro histórico de Santarém é um tormento para Manuel Antunes, um invisual de 46 anos que tem sentido literalmente na pele e nos ossos o resultado de civismo de muitos automobilistas. Na segunda-feira, 27 de Maio, voltou a passar por isso ao ser abalroado por um automóvel que estava a estacionar de marcha-atrás no passeio na Rua João Afonso. O condutor não o viu e só parou a marcha após Manuel ter gritado e batido na viatura. O automobilista saiu do carro e foi à sua vida sem questionar se o peão necessitava de auxílio, conta.
Manuel Antunes ligou para a Polícia de Segurança Pública (PSP) a participar o caso e diz que lhe responderam que não tinham meios para se deslocarem ao local, pois o único carro ao serviço estava destacado para um acidente. O MIRANTE contactou a PSP para pedir esclarecimentos, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição, no final da tarde de terça-feira, 28 de Maio.
Andar pelas ruas do centro histórico de Santarém é uma aventura diária para Manuel Antunes, referindo que lhe custa andar nas ruas devido aos carros estacionados em cima dos passeios e passadeiras, o que o obriga muitas vezes a circular pela faixa de circulação automóvel. As ruas João Afonso e Teixeira Guedes são os pontos mais críticos, aponta. “Todos os dias passo por estas situações. Tenho as pernas todas feridas de bater nos carros. Se para uma pessoa normal já é complicado andar nessas ruas, quanto mais para um invisual…”, afirma com desalento o homem que ficou cego aos 40 anos, devido a uma doença genética. Hoje vive de uma pensão de invalidez.
Pilaretes podem ser solução
O estacionamento sem regras tem sido objecto de debate político em Santarém, nomeadamente na assembleia municipal, onde se têm ouvido críticas à inércia das autoridades, à falta de civismo de muitos automobilistas e se têm pedido soluções ao município. Tal como O MIRANTE noticiou, na sessão de Abril da Assembleia Municipal de Santarém, confrontado com essa questão, o presidente da câmara, Ricardo Gonçalves (PSD), anunciou que estão a tramitar para colocar pilaretes na Rua João Afonso, um dos acessos rodoviários ao centro histórico, para dissuadir o estacionamento abusivo que, nessa artéria, já impossibilitou inclusivamente a circulação de veículos de socorro. “É uma entrada do centro histórico e não podemos deixar que isso aconteça”, vincou o autarca.
A questão foi levantada pelo eleito do Chega, Luís Peralta, que mencionou casos como o da Rua Teixeira Guedes, onde os passeios estão constantemente ocupados por automóveis, obrigando os peões a circular na rodovia; ou da Avenida D. Afonso Henriques, que classificou como “um desastre”, onde uma das faixas de rodagem está também quase sempre ocupada com carros parados. Luís Peralta disse que nem a Rua Tenente Valadim, onde se situa o quartel da GNR, escapa ao estacionamento caótico, que por vezes atrapalha mesmo a circulação de veículos da Guarda. Na resposta, o presidente do município reconheceu que existem situações de “falta de civismo” que diz não entender, nomeadamente na Rua Teixeira Guedes, e revelou que teve uma reunião com a Polícia de Segurança Pública onde pediu que as autoridades actuassem de forma mais assertiva.