Sociedade | 05-06-2024 12:00

Vítor Tomé: o homem que engraxou sapatos a presidentes da República

Vítor Tomé: o homem que engraxou sapatos a presidentes da República
O percurso profissional de Vítor Tomé como engraxador de sapatos inspirou um livro

Durante anos foi presença habitual junto à porta do Café Central, em Santarém, e mais tarde no W Shopping. Vítor Tomé foi o último dos engraxadores da cidade e pelas suas mãos passaram muitos sapatos de gente ilustre. E não só. A sua vida inspirou um livro.

Vítor Tomé faz parte da história contemporânea de Santarém e se a sua vida como engraxador na cidade não deu um filme pelo menos inspirou um livro, agora lançado. Distinguido em 2018 com o prémio Carreira Profissional pelo Rotary Club de Santarém, dedicou grande parte da sua vida ao ofício de engraxar sapatos, junto ao emblemático Café Central, no centro histórico da cidade, e mais tarde noutros locais, como o W Shopping.
Começou a aprender a engraxar e a reluzir os sapatos dos clientes em criança, com o seu pai, José Tomé, que também já se dedicava ao ofício, tal como os tios. Em meados de 1940 começou a engraxar sapatos no Café Central, ainda hoje situado na Rua Guilherme de Azevedo. Grande parte da clientela do reconhecido estabelecimento, assim como as pessoas que estavam de passagem na rua, entregavam os sapatos à arte de Vítor Tomé. Pelas suas mãos chegaram a passar os sapatos do general sem medo, Humberto Delgado, dos presidentes da República Mário Soares e Cavaco Silva e do capitão Salgueiro Maia, figuras incontornáveis da História de Portugal da segunda metade do século XX. Junto ao café chegou a trabalhar das sete da manhã à meia-noite.
Com a sua arte, Vítor Tomé obtinha rendimentos que lhe permitiram fugir à pobreza. De acordo com o historiador José Raimundo Noras, convertido à actualidade, o valor ganho por Vítor Tomé nos tempos áureos como engraxador seria aproximadamente de 1.800 euros mensais. Um salário que faria hoje a alegria de muitos portugueses.
No dia 23 de Maio foi apresentado o livro “O último engraxador de Santarém - Memórias de Vítor Tomé” no Café Central, em Santarém. Por motivos de saúde, Vítor Tomé, que habita actualmente numa valência gerida pelo Centro Social Interparoquial de Santarém, não esteve presente na apresentação. Porém, um dos seus três filhos, Francisco Tomé, esteve em representação do pai tendo levado para a homenagem a caixa de engraxar de Vítor Tomé. Segundo o autor do livro, João Monteiro Serrano, o engraxador abria um espaço de escuta com o cliente e entendia que a aparência social era importante e, nesse capítulo, os sapatos engraxados eram um bom indicador. O autor disse existir no livro um fio condutor quanto ao espírito humanista de Vítor Tomé, uma personagem que considerou de dimensão exemplar. Vítor Tomé foi casado com Maria de Lurdes Tomé, já falecida, com quem teve três filhos.

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