Sociedade | 16-06-2024 15:00

Octávio Moreira mantém a pesca tradicional na aldeia avieira de Palhota

Octávio Moreira mantém a pesca tradicional na aldeia avieira de Palhota
Octávio Moreira é um dos últimos pescadores da aldeia da Palhota, no concelho do Cartaxo

Octávio Moreira, 43 anos, é um dos poucos que ainda pesca na aldeia avieira da Palhota, no concelho do Cartaxo.

A propósito do Dia Nacional do Pescador, revela que “já não se consegue viver só da pesca”, ofício que herdou dos avós avieiros e do pai. É electricista e o peixe que vende a restaurantes e mercados é um extra para as férias ou para despesas inesperadas..

Octávio Moreira, 43 anos, é descendente de Avieiros e pescador na Palhota, no concelho do Cartaxo. Encontrámo-lo a entralhar uma rede de pesca no final de um dia de trabalho como electricista da área da telemática em Azambuja porque, garante, “já não se consegue viver só da pesca”. Empenhado em não deixar morrer a actividade piscatória em nome também das memórias de infância, está apreensivo quanto ao futuro da aldeia avieira.
Octávio Moreira vive na Palhota desde 2020 com o filho de 13 anos, na casa que era dos avós avieiros, que se deslocaram de Vieira de Leiria para se dedicarem à pesca nesta zona, que restaurou mantendo a fachada colorida. Tanto Octávio como o pai, António, a viver em Azambuja, onde Octávio vivia antes de se separar da ex-mulher, se dedicam à pesca na altura da lampreia e do sável. O pescador diz que este ano foi “muito fraco” e que o pai só apanhou cinco lampreias quando antes se apanhavam centenas delas. O sável também foi pouco e com a época acabada agora é a vez das enguias e alguns robalos que vão aparecendo.
São muitas as teorias dos pescadores para as espécies irem desaparecendo do Tejo, entre elas a poluição e o fecho das barragens no Verão que faz com que muitas das ovas sequem e não nasçam peixes. Octávio Moreira admite que a pesca é apenas um extra ao seu ordenado para umas férias ou gastos extraordinários. Tem compradores que vão buscar o peixe à Palhota e entrega em restaurantes, marisqueiras e mercados.
As melhores memórias de infância foram os Verões na casa dos avós na Palhota e a pesca. “Tínhamos tudo, não é mar é rio, jogávamos à bola, andávamos de bicicleta, todo o tipo de brincadeiras que não se fazem em cidades e até mesmo em vilas”, lembra, acrescentado os convívios em família que deixam saudades. Mas se antes se via crianças a brincarem na rua, o que encontrámos foi uma Palhota vazia em que, por sorte, vimos Octávio Moreira a trabalhar as redes como antigamente. Podia comprar feito, mas sai mais dispendioso e não tem o gosto do passado, refere.
A tempo inteiro na Palhota está a viver o seu primo Luís, uma tia que regressou do Luxemburgo e a restante população tem casa noutro lado e só vai à aldeia aos fins-de-semana. Octávio Moreira conta que por duas vezes foram os pescadores e quem tem barcos no cais que investiram na aldeia: “o cais em palafita já foi levantado com uma cheia e nunca ninguém cá veio arranjar nada. Demos cada um o que podíamos para pagar a uma máquina para o endireitar”. O caso mais recente ocorreu este ano devido ao assoreamento do rio: “escrevi e-mails para a junta de freguesia que me disse que não tinha meios. A junta disse que ia entrar em contacto com a câmara e estava-se a chegar a altura da pesca e não conseguíamos sair com os barcos”. Mais moradores, mais voz, seria melhor. A Palhota já merecia outro tipo de atenção por parte da câmara municipal e da junta de freguesia, mas como somos só dois ou três…”, termina em jeito de lamento.

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