Arquivo Distrital de Santarém é um dos símbolos da identidade da região ribatejana
Arquivo Distrital de Santarém está há 50 anos a trabalhar na valorização e preservação da identidade ribatejana. Com milhares de documentos cuidadosamente arrumados em três pisos, o arquivo continua a ser procurado por investigadores e pelas autarquias. O MIRANTE acompanhou uma visita ao espaço no âmbito do Dia Internacional dos Arquivos.
O Arquivo Distrital de Santarém comemora este ano meio século a trabalhar na salvaguarda, valorização e divulgação do património da região ribatejana. “Este arquivo é o fundamento da memória e provavelmente um dos grandes símbolos da identidade colectiva e individual da região”, explica Leonor Lopes, directora do espaço, durante uma visita guiada que acompanhámos no âmbito do Dia Internacional dos Arquivos, que se assinala a 9 de Junho.
A visita inesperada de O MIRANTE foi bem recebida pela equipa do arquivo, composta por uma dúzia de pessoas, entre técnicos superiores e assistentes. Ao longo do dia, mais de duas dezenas de visitantes quiseram saber mais sobre o espaço que alberga 430 fundos documentais em três pisos, cuidadosamente arrumados e preservados. O início da visita guiada começa com uma breve explicação do arquivo distrital, assim como das principais dificuldades. “O maior problema é o facto do espaço estar esgotado. Neste momento está em curso um processo de digitalização, no âmbito do PRR, assim como também se tem investido no balcão electrónico para eliminar as burocracias”, explica Leonor Lopes.
Um dos primeiros documentos expostos à entrada do arquivo dá conta do registo do nascimento dos filhos de Artur de Oliveira Santos, o administrador do concelho de Ourém nas aparições de Fátima de 1917, conhecido republicano que gerou polémica por ter mantido em “cativeiro” os três pastorinhos. Neste piso há milhares documentos, mas saltam à vista livros de registos do ano de 1.500, alguns deles em avançado estado de degradação. “Não há dados científicos que o provem, mas há livros que terão sido destruídos na altura das invasões francesas, em que destruíam tudo só porque sim”, revela a directora, acrescentando que alguns dos documentos vão ser restaurados pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
A visita guiada durou pouco mais de uma hora e foi muito rica em explicações históricas, assim como na interacção entre Leonor Lopes e os visitantes. Uma das salas que despertou mais curiosidade foi a que guarda o documento mais antigo do espaço: um pergaminho do ano de 1263 onde o rei de Portugal confirma o privilégio papal concedido ao Convento de Santa Clara de Santarém. Nessa sala há espólios pessoais, alguma tecnologia, recortes de jornais, entre outros artigos. Importa referir que o documento mais recente do Arquivo Distrital de Santarém é um livro do Cartório Notarial de Rio Maior. As despedidas dão-se com uma curta conversa sobre o percurso de Leonor Lopes no arquivo que remonta a 1997, embora esteja como directora desde 2003. Uma das últimas frases do “convívio” roubou sorrisos aos presentes. “Os arquivos distritais eram lojas do cidadão antes de existirem lojas do cidadão”, afirmou para sublinhar a importância do espaço que dirige.
A sala mais emblemática do arquivo
Uma das salas mais emblemáticas e procuradas do Arquivo Distrital de Santarém é aquela que contém o pergaminho onde o rei de Portugal confirma o privilégio papal concedido ao Convento de Santa Clara de Santarém. Nessa sala conhece-se um pouco da história da região ribatejana, como por exemplo, os tempos em que a indústria têxtil era o grande motor da economia da zona de Minde. Também há parte do espólio pessoal de algumas ilustres figuras, como Pedro Canavarro, Passos Manuel e o embaixador Teixeira Saramago. “Não é muito comum doarem espólio ao arquivo distrital. Existem muitas famílias na nossa região que podiam doar, mas preferem fazê-lo para a Torre do Tombo que, de certa forma, está muito endeusada, retirando alguma importância aos arquivos distritais”, explica Leonor Lopes.
As desigualdades salariais em 1870
Na mesma sala onde está parte do espólio pessoal de algumas personalidades da região, sobretudo do concelho de Santarém, está um registo que apresenta uma nota de despesa com pedreiros de uma empresa em 1874. O conhecimento dos números ficam para quem quiser visitar, mas o que salta à vista é um problema que ainda hoje, em 2024, está na ordem do dia. As mulheres que na altura trabalhavam na construção civil ganhavam três vezes menos do que os homens que recebiam o salário mais baixo.