Quando o jornal é a forma de os idosos estarem ligados ao mundo que os rodeia
No Centro Social da Meia Via há uma actividade que é ler o jornal e comentar as notícias. Quem não sabe ler ouve as informações que vêm nas páginas de O MIRANTE, lidas pela animadora cultural ou por outros utentes. Estar informado é uma prioridade.
O jornal é a única forma de os utentes se manterem informados sobre o que se passa na região, uma vez que não sabem usar a internet e a televisão não diz o que acontece nos concelhos de Torres Novas e Entroncamento, de onde são oriundos os utentes.
Todas as semanas Sílvia Alcobia, animadora sociocultural do Centro Social do Divino Espírito Santo na Meia Via, concelho de Torres Novas, folheia O MIRANTE e escolhe notícias para ler e debater com as cerca de três dezenas de utentes do Centro de Dia, dos 60 aos 98 anos. Entrou em funções em Outubro de 2023 e a iniciativa partiu de si por ser assinante e reconhecer a importância da informação para a população idosa, como os assaltos que têm acontecido na Meia Via, em plena luz do dia.
Maria Amélia Brites, 78 anos, vive na Meia Via e já não abre a porta a desconhecidos. Frequenta o Centro de Dia há cerca de três anos por recomendação dos filhos emigrados no Canadá. Só sabe utilizar o telemóvel para telefonemas e videochamadas com eles, sendo o jornal a única forma de estar informada sobre o concelho. José Gomes, 85 anos, de Lamarosa, está no lado oposto da sala a ler o jornal no “Canto da leitura” e contou-nos que se lembra de “roubar” o jornal ao genro para ler. Uma notícia que o marcou foi a que dava conta que a maioria dos jovens quer sair de Torres Novas devido à falta de emprego qualificado. Uma situação que, diz, se aplica aos seus netos.
José Gomes gosta de ler histórias de vida. Há um ano e meio sofreu um AVC e a leitura é uma forma de se manter activo. Além da leitura do jornal, os utentes têm três horas de ginástica por semana em conjunto com pessoas da comunidade que não frequentam a instituição. A expressão plástica é outra das actividades, mas uma das que mais contribui para que as pernas não fiquem perras é a dança espontânea com a música da animadora socio-cultural da instituição, Sílvia Alcobia, que é acordeonista.
Centro Social quer fazer lar de idosos
A instituição, a funcionar sete dias por semana 365 dias por ano, quer aumentar a sua capacidade de resposta e elaborou um projecto de residência para 20 idosos, que candidatou a financiamento do Estado, estando a aguardar a resposta. A ideia é alargar o edifício da antiga escola primária, que alberga a sua creche e berçário. Segundo a directora técnica, Andreia Queirós, há cada vez mais idosos a viverem sozinhos, essencialmente no Entroncamento, e o objectivo é aproximá-los. O Centro Social da Meia Via apoia desde pessoas com doenças oncológicas, a demências e doentes acamados, seja no Centro de Dia ou através de apoio domiciliário através do qual auxiliam 33 famílias com a higiene e alimentação. A área de intervenção é de Meia Via à Lamarosa e toda a cidade do Entroncamento, havendo também as valências de ATL, com 40 crianças, e Actividades de Animação e Apoio à Família (AAAF), no caso do pré-escolar, em que estão inseridas 23 crianças.
Para fazer face às despesas com salários de 36 funcionários, fornecedores, deslocações entre outros, a instituição tem um salão de festas onde organiza noites de fado, festas de anos e baptizados. Participa com um stand nas Festas do Divino Espírito Santo de Meia Via e para sábado, 29 de Junho, organiza a Marcha de São Pedro, em que se junta a população, as crianças e idosos da instituição e suas famílias. O presidente da direcção é o padre Ricardo Madeira, mas é António Neves, 70 anos, já reformado, que todos os dias, desde 2001, está na instituição para coordenar o trabalho. “Queremos criar dinâmicas que atraiam a comunidade para junto de nós”, afirma António Neves, responsável por muitas das ideias e projectos que nascem.