Centro de recuperação de feridos da guerra em Ourém é exemplo para a Europa
Novo centro para feridos de guerra, da Associação Ukrainian Refugees UAPT, localizado na Aldeia Nova, em Ourém, já começou a funcionar para o primeiro grupo de 15 militares amputados. Projecto, que vai trazer nova vida à aldeia, é um exemplo para a Europa.
O novo centro de recuperação de feridos da guerra da Ucrânia, localizado em Ourém, é um exemplo para a Europa, sendo necessários muitos mais para tratar 70 mil amputados ucranianos, disse a associação portuguesa responsável pelo projecto. “É um projecto tão importante para a Ucrânia, que eles querem que sirva de exemplo para outros países e outras organizações não-governamentais acreditarem que é possível criar cinco, seis, dez centros destes na Europa. Dez centros como este podem atender quase mil feridos por ano”, disse à Lusa Ângelo Neto, da associação Ukrainian Refugees UAPT.
Em declarações a partir de Kiev, capital da Ucrânia, onde estava a acompanhar o primeiro grupo de 15 militares feridos, que chegou na sexta-feira, 14 de Junho, a Portugal, Ângelo Neto citou um responsável clínico de uma clínica de reabilitação local, que estimou que a guerra que se seguiu à invasão russa de Fevereiro de 2022 tenha provocado, até hoje, mais de 70 mil militares ucranianos amputados, a precisar de reabilitação clínica.
Com um total de sete hectares e 4000 metros quadrados de área edificada, o centro de recuperação localizado em Aldeia Nova, no município de Ourém, tem cerca de 50 quartos, resultantes da reabilitação do edifício principal, um antigo seminário, que estava degradado e abandonado – refeitório, cozinha, áreas de fisioterapia e de tratamentos diversos, bem como serviços complementares de atendimento psicológico e acolhimento de estadia. Segundo Ângelo Neto está também concluído o ginásio e uma área de lazer em redor do edifício, com vinha, jardim e hortas.
Por concluir estão a projectada piscina e, numa zona florestal anexa, 26 bungalows para famílias de refugiados ucranianos em Portugal, cuja edificação deverá começar durante o próximo Verão, disse. A equipa técnica da associação Ukrainian Refugees UAPT que irá receber os primeiros 15 militares ucranianos feridos (que chegam acompanhados por quatro fisioterapeutas do exército da Ucrânia), todos amputados, é constituída por dois fisioterapeutas, um fisiatra, dois psicólogos bilingues e dois cozinheiros, adiantou. “Os feridos que estiveram na frente de batalha estão muito abalados psicologicamente e não gostam de estar no hospital. Mas, face às ameaças constantes de bombardeamentos, só podem ser tratados nos hospitais e não conseguem [na Ucrânia] fazer um percurso tranquilo de estímulo dos seus membros na natureza, como vão poder fazer em Portugal”, notou Ângelo Neto.
Depois de terminada a reabilitação deste primeiro grupo – cuja duração será estipulada pelos médicos que os acompanham – e do seu regresso à Ucrânia, o dirigente da associação Ukrainian Refugees UAPT frisou que está prevista a chegada a Portugal de um segundo grupo, “já maior, com mais casos difíceis, e que vai precisar de alguma reconstrução plástica ou cirúrgica”, declarou. A reconversão do antigo seminário teve um custo estimado de 1,5 milhões de euros, contando com parcerias de diversas empresas nacionais, contributos de voluntários e da sociedade civil, assim como de uma organização cristã estrangeira.
Voluntários têm sido importantes para o projecto
O MIRANTE esteve no centro de reabilitação para feridos de guerra na Aldeia Nova em Dezembro de 2023. Na altura, Ângelo Neto confessou-se surpreendido com os voluntários que vão aparecendo e que ajudam a pintar paredes ou a envernizar as portas e os que mostraram a sua generosidade em pequenos gestos como levar café, fruta ou bolos para os trabalhadores da empresa que venceu o concurso da empreitada.