População do Bom Sucesso alheada do processo de elevação a vila
Proposta de elevação do Bom Sucesso a vila foi aprovada por unanimidade em assembleia de freguesia onde não apareceram moradores para assistir. Eleito do Bloco de Esquerda lembrou que a reunião devia ter tido lugar no Bom Sucesso e não em Alverca.
Não houve um único morador que tivesse aparecido para assistir ao vivo à Assembleia de Freguesia de Alverca do Ribatejo e Sobralinho que deliberou, por unanimidade, aprovar a proposta de elevação do Bom Sucesso a vila na noite de sexta-feira, 14 de Junho. A sessão realizou-se no auditório da Escola Secundária Gago Coutinho, em Alverca. Uma das novidades foi o anúncio, por parte do presidente da junta, Cláudio Lotra, de que serão os professores e alunos do Agrupamento de Escolas do Bom Sucesso a desenhar o futuro brasão da vila, caso a proposta venha a ter aprovação em reunião de câmara, assembleia municipal e no Parlamento.
“O estatuto de vila vai dar peso institucional, administrativo e emocional que eleva a auto-estima e sentimento de pertença de quem lá reside. O Bom Sucesso merece ser vila. Não temos medo de ouvir as pessoas e a população terá oportunidade de se pronunciar quando o processo estiver em consulta pública”, notou o autarca, lembrando que se o pai da proposta é o executivo da junta, ela pode ter vários padrinhos, que são as bancadas da assembleia. Cláudio Lotra notou que a elevação a vila, só por si, não é garante de resolução de todos os problemas nesse aglomerado urbano.
João Fernandes, do Bloco de Esquerda, lembrou as lacunas nos horários dos transportes públicos que servem a povoação, o planeamento urbano sem racionalidade, a falta de estacionamento e de limpeza dos espaços públicos e a falta de uma rotunda na Estrada Nacional 116 como os principais problemas do Bom Sucesso. “É preciso valorizar o espaço público e adaptar a calçada nas zonas mais íngremes para evitar deslizes. É sobre estes problemas que a população deveria estar a falar. Esta sessão deveria ter sido realizada no Bom Sucesso. A proposta não vem anunciar nenhuma obra que marque a diferença, o que o executivo faz é o apelo ao sentimento de pertença, de orgulho da terra em que vivemos, que é legítima e enche o olho mas daqui a um ano as populações continuarão a enfrentar as mesmas dificuldades”, criticou.
“Precisamos de saber se a população está de acordo”
Também Carlos Gonçalves, da CDU, lembrou que a ideia é semelhante a querer elevar o bairro da Mouraria, em Lisboa, ao estatuto de vila e que o facto da população não ter sido ouvida no processo foi um retrocesso. “Precisamos de saber se a população está de acordo. É uma proposta inócua. O Bom Sucesso não terá autonomia própria, os problemas em estacionamento, mobilidade e espaços verdes não serão resolvidos. O presidente e a junta serão os mesmos, os problemas os mesmos, a razão é boa quando os fins são bons em si”, criticou.
Também Rui Valadas, do CDS, criticou a proposta lembrando que os problemas do Bom Sucesso vão manter-se apesar de ser vila. “ De resto reconhecemos que tem uma identidade muito particular e própria. É o reconhecimento simbólico do crescimento e desenvolvimento social e cultural e da identidade de uma população e do seu movimento associativo”, lembrou. Hélder Careto, da coligação Nova Geração (PSD/PPM/MPT), também defendeu que seria importante ter sido ouvida a população. “Essa auscultação traria resultados positivos. Não vejo como a população poderia estar contra ou a forma como isso poderia ferir a identidade cultural do Bom Sucesso”, notou. Por último, Pedro Sá, da bancada socialista, diz que a proposta é o reconhecimento justo da identidade, história e valorização do Bom Sucesso.
À margem/opinião
Desinteresse ou desconhecimento?
É certo que se tratava de uma sexta-feira à noite numa zona da cidade de Alverca onde chegar a pé é longe para quem vive no Bom Sucesso, como é a Secundária Gago Coutinho, mas seria de esperar que a discussão de uma proposta que visava elevar aquele povoado ao estatuto de vila tivesse captado o interesse de pelo menos alguns moradores. Longe disso. A assembleia de freguesia foi mais do mesmo, ou seja, uma sessão às moscas no que diz respeito à presença de público, que raramente aparece. Resta saber se a culpa disto é dos autarcas que, ano após ano, falham em resolver os problemas de quem vive no Bom Sucesso, ou dos próprios moradores, que cada vez mais se recolhem nas suas bolhas e evitam todo e qualquer compromisso cívico e de comunidade e perceber que escolhas, decisões e medidas são tomadas para as terras onde vivem.