A Casa da Joaninha no Vale de Santarém é uma ruína irrecuperável
O edifício que ficou conhecido por Casa da Joaninha, celebrizado por Almeida Garrett no romance Viagens na Minha Terra, é hoje um amontoado de ruínas camuflado por matagal. Há duas décadas houve intenções de dignificar e valorizar aquele património, mas nada aconteceu e a degradação acentuou-se.
Da Casa da Joaninha no Vale de Santarém, celebrizada no romance Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, restam ruínas escondidas pela vegetação que cobre os escombros. Há duas décadas chegou a falar-se de um projecto para valorização daquele património, situado em propriedade privada, mas as ideias nunca saíram do papel e essa intenção saiu da agenda. Até porque já pouco resta da antiga casa de dois pisos localizada junto à estrada que liga o Vale de Santarém à antiga Estação Zootécnica Nacional e à Póvoa da Isenta.
“Nunca mais se ouviu falar em nada. Está tudo ao abandono”, diz o presidente da Junta de Freguesia do Vale de Santarém, Manuel Custódio, que gostava de ver aquele património dignificado. O autarca diz que chegou a falar com pessoas da família proprietária no sentido de que se fizesse ali qualquer coisa que evocasse a memória da obra de Garrett e a sua ligação ao Vale de Santarém, mas não se chegou a nenhuma conclusão. A quinta é actualmente propriedade de vários herdeiros e nenhum ali vive.
Manuel Custódio recorda que no mandato 2002-2005 até existiu um estudo prévio, do tempo em que a junta era liderada por Vítor Pinto da Rocha. “Pelo menos que se fizesse um protocolo de cedência do espaço para ser limpo e requalificado e se assinalasse a memória daquele património”, diz o autarca do Vale de Santarém, admitindo que o imóvel já não deve ter recuperação, pois encontra-se em ruínas.
O vereador da Cultura da Câmara de Santarém, Nuno Domingos, também disse a O MIRANTE que não tem conhecimento de qualquer projecto ou plano de intenções na autarquia no sentido de intervir naquele local.
Plano não saiu do papel
Em Fevereiro de 2004, O MIRANTE relatava que a casa de dois pisos, com algum valor histórico e cultural, estava abandonada há muito e em acelerada degradação. A situação tinha piorado no final de 2003, quando foi demolido um alçado por, segundo o Gabinete Municipal de Protecção Civil, “estar a pôr em risco a via pública”. Na altura, os proprietários solicitaram à Câmara de Santarém autorização para deitar abaixo o restante, manifestando interesse em construir ali um novo imóvel. Um cenário que não agradou à Junta de Freguesia do Vale de Santarém, que, em parecer datado de 5 de Janeiro de 2004, lembrava “nunca ter sido equacionada a demolição do edifício em causa na sua totalidade, mas tão só do alçado nascente, por ter ruído parcialmente”.
A posição da junta escudava-se nas intenções manifestadas anteriormente pelos herdeiros da família Rebello Silva, que apresentaram um ambicioso anteprojecto de recuperação do edifício e zona envolvente (conhecida como Quinta do Desembargador), baseado no seu valor histórico-cultural. “Apesar do estado de degradação do edifício, pelo menos o alçado sul não deveria ser demolido, mas recuperado”, defendeu na altura a junta de freguesia.
No anteprojecto apresentado então pelos proprietários, datado de Janeiro de 2003, mencionava-se a intenção de recuperar a casa. “Embora o estado de conservação deste conjunto seja bastante precário, impõe-se a sua recuperação pelo seu valor enquanto referência histórico-cultural”, lia-se na memória descritiva. E falava-se mesmo de uma possível utilização pública: “Prevê-se que a casa e o jardim possam vir a ser utilizados para acontecimentos sócio-culturais, no sentido de por um lado dinamizar culturalmente este lugar e por outro viabilizar financeiramente a sua recuperação e manutenção”. Aliás, “para dar cobertura às necessidades actuais da freguesia, propõe-se a inclusão neste programa de reabilitação da Casa da Joaninha a construção de um edifício de carácter cultural onde se instalarão um anfiteatro e uma biblioteca”. Boas intenções que nunca saíram do papel.