População de Valhascos dividida por causa do nome de um largo
Grupo de cidadãos de Valhascos promoveu um abaixo-assinado com mais de uma centena de subscritores pedindo a alteração do nome do Largo Lobato Correia para Largo das Tílias, havendo quem associe essa personalidade à ditadura salazarista.
Do outro lado da barricada, mais de duas centenas defendem que a designação seja mantida. Comissão de Toponímia e Câmara de Sardoal consideram que não há argumentação suficiente para alteração.
O nome de um largo dividiu a população de Valhascos, no concelho de Sardoal. Um grupo avançou com um abaixo-assinado pedindo a alteração do nome do Largo Lobato Correia para Largo das Tílias e reuniu 113 assinaturas. Do outro lado estão os que querem que o nome seja mantido e foram 203 os que assinaram em defesa dessa decisão. A Comissão de Toponímia e o executivo da Câmara de Sardoal foram apanhados entre dois fogos e consideram que não há argumentação suficiente para a mudança de nome.
O assunto foi tema na última reunião camarária, onde ficou aprovado por unanimidade a manutenção do nome do largo. Segundo o presidente da câmara, Miguel Borges (PSD), parte da população que pretendia a mudança de nome do largo não apresentou motivos para o pretendido enquanto o grupo que defendia a manutenção do nome argumentou que “é importante manter a memória e história de um indivíduo notável que tanto contribuiu para o bem-estar e desenvolvimento local da comunidade”. O autarca saudou a forma cívica como ambos os grupos de cidadãos defenderam os seus interesses, elogiando a participação na vida pública do concelho.
Maria Pinheiro, uma das residentes de Valhascos que defendeu a mudança de nome do largo, esteve na assembleia municipal de 27 de Junho onde lamentou não lhe ter sido entregue cópia da acta da reunião da comissão de toponímia, realizada dia 15 de Abril, acusando o executivo de não estar a prestar a devida informação, criando “meandros obscuros” em torno do processo. “Estou perplexa como o executivo aprovou por unanimidade a manutenção do nome de um fascista para o largo”, atirou.
Miguel Borges explica que, apesar da reunião ter decorrido a 15 de Abril, a munícipe apenas solicitou a acta a 24 de Junho, estando perfeitamente dentro do prazo até à data da assembleia e que lhe seria enviada na manhã de 28 de Junho. “Devemos ter os pés assentes na terra e perceber que vivemos em democracia quando acusamos alguém de alguma coisa, como meandros obscuros. Haverá outras oportunidades para debater o assunto e não irei entrar nesse diálogo aqui, mas uma das melhores coisas que a democracia tem é todos termos direito a diferentes opiniões e termos de as aceitar”, diz o autarca.
Quem foi Lobato Correia?
A O MIRANTE, Miguel Borges explica que a posição do executivo se deve ao facto de o grupo de populares que pretende a mudança do largo nunca ter apresentado nenhuma razão nem um porquê da mudança. “Nunca descreveram Lobato Correia com adjectivos negativos. Por sua vez, o grupo que pretende a manutenção do nome apresentou argumentos a favor da pessoa de Lobato Correia, mostrando respeito e apreço pela sua memória”, diz.
Miguel Borges explica que Lobato Correia dá nome ao largo há várias dezenas de anos e que, mesmo recorrendo ao arquivo municipal, não conseguiu encontrar registos sobre o porquê de ter sido dado o nome. “Não sei se foi fascista ou se não, o que fez de bem, ou de mal. Sei que um grupo de populares soube justificar, com apreço, o seu respeito e apreciação por Lobato Correia, enquanto o outro apenas solicitou a mudança de nome, sem motivo aparente”, afirma Miguel Borges.