Aterro de Mato da Cruz continua a motivar queixas
Depois dos cheiros houve moradores de Arcena a dar conta da queda de flocos cinzentos nas habitações nos dias de maior vento. Impactos do aterro voltam a ser condenados por autarcas na Câmara de Vila Franca de Xira que pedem que a Valorsul tome medidas e pense no encerramento do equipamento.
O aterro sanitário de Mato da Cruz, situado no alto de Arcena, Alverca, continua a provocar incómodos à comunidade em especial nos dias de vento e os autarcas confirmam que é preciso que a empresa que o explora, a Valorsul, faça alguma coisa para minimizar os problemas. No topo das queixas da população que vive perto do aterro estão os maus cheiros que, diz quem ali reside, estão a ficar mais intensos com o passar dos anos e são particularmente sentidos em dias de vento. No início do mês houve também quem se queixasse de estar a ver cair nos quintais e nos passeios flocos cinzentos semelhantes a escórias.
“Parecia neve que vinha com o vento e muito provavelmente seria do aterro, porque já não é a primeira vez que isto acontece. Já houve gente a ver as escórias no aterro a céu aberto e sem protecção. Acho que já basta de sofrermos com este aterro e ele tem de ser fechado rapidamente”, lamenta a O MIRANTE Afonso Oliveira, morador. O vizinho, Alfredo Almeida, diz que está na hora do Governo e a Câmara de Vila Franca de Xira tomarem uma posição mais firme com a Valorsul.
O aterro sanitário de Mato da Cruz tem uma licença ambiental emitida até 2026 e já existe um projecto de encerramento e de alteração paisagística do aterro, mas ainda está a ser discutido com os serviços técnicos da Câmara de Vila Franca de Xira e a aguardar aprovação da Agência Portuguesa do Ambiente. O encerramento será quando for atingida a capacidade máxima das células do aterro, o que não estará longe de acontecer.
“Até ao dia de hoje não há perspectiva do que a nova ministra pensa sobre a mancha dos aterros sanitários. Se a perspectiva da ministra for aumentar a mancha do aterro de Mato da Cruz estaremos definitivamente contra”, refere a O MIRANTE David Pato Ferreira, vereador da coligação Nova Geração (PSD/PPM/MPT) na Câmara de Vila Franca de Xira. O autarca confirma ter recebido queixas da comunidade e defende o encerramento do aterro.
“A Valorsul diz-nos que toma medidas de mitigação sempre que os problemas acontecem mas nem sempre isso foi efectivo e as pessoas de Arcena sofrem com isso. É tudo pensos rápidos e (os problemas) vão continuar a acontecer enquanto o aterro existir, porque estamos a lidar com lixo”, critica, defendendo que os responsáveis da Valorsul saiam dos gabinetes e vão a Arcena fazer um ponto de situação. “Todas as empresas que impactam a vida dos munícipes devem fazê-lo. Mas neste caso não faz sentido que a Valorsul venha discutir um projecto de alteração do aterro de uma coisa que não estando aprovada pode nem vir a ser o projecto final”, nota.
Nem se pode abrir a janela
Já para o vereador do Chega, Barreira Soares, a Valorsul “tem de cumprir a lei” e lamenta que até agora, a dois anos do fim da licença ambiental, se continue sem saber onde vai nascer o sucessor de Mato da Cruz. “O ar está poluído, as ribeiras, os poços inviabilizados, em determinadas alturas do dia os munícipes reclamam dos cheiros do aterro e nem as janelas conseguem abrir”, critica, defendendo que a Valorsul deve adoptar melhores soluções biológicas de controlo de cheiros. “A empresa devia constituir uma comissão imediata que trace um plano de fecho e mostre alternativas ao aterro. Ontem já era tarde”, critica.
Também Anabela Barata Gomes, vereadora da CDU, alerta para os riscos de uma eventual contaminação de solos. “As respostas são sempre evasivas”, diz, lamentando a postura da Valorsul. “É por nada ter sido feito que esta bancada vai continuar a insistir nas perguntas até que o problema seja resolvido. Estamos para além do limite naquele aterro”, afirma.
O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, já disse estar a aguardar que, no mais breve espaço de tempo, a Valorsul faça chegar a versão final do projecto que visa transformar o aterro num parque verde e de lazer. “A preocupação com o aterro também é nossa”, afirmou o autarca da última vez que o assunto foi discutido. O MIRANTE contactou a Valorsul sobre este assunto mas não recebeu qualquer resposta da empresa.