Sociedade | 06-07-2024 10:00

Casa de São Pedro em Alverca enfrenta dificuldades financeiras e turbulência laboral

Casa de São Pedro em Alverca enfrenta dificuldades financeiras e turbulência laboral
Trabalhadoras dizem-se saturadas da situação que se atravessa na Casa de São Pedro

Trabalhadores fizeram greve queixando-se de pressão laboral, excesso de trabalho e de ainda não terem recebido os subsídios de férias. Direcção diz estar a tentar dar a volta à instituição que tem um passivo a rondar o meio milhão de euros.

Vivem-se dias tumultuosos na Casa de São Pedro (CSP) em Alverca, com um passivo de meio milhão de euros e os trabalhadores a queixar-se da forma como a associação tem sido gerida. Em protesto, um grupo de trabalhadores fez greve ao serviço no dia 26 de Junho, reclamando por melhores condições de trabalho e para dar visibilidade à situação da instituição que, avisam, “está falida”. Várias trabalhadoras foram de férias e não receberam o subsídio, os salários não estão actualizados, não há pessoal para trabalhar e, segundo Anabela Marques, uma das trabalhadoras, até colheres para alimentar os idosos não são em número suficiente.
A funcionária diz que a greve foi a forma encontrada para alertar a comunidade para o que se está a passar. “A casa está na falência. Neste momento temos ordenado porque os idosos pagam as mensalidades. A casa não tem verba para actualizar nem pagar ordenados. Não há dinheiro para pagar aos empregados mas há para outras coisas e essa é a revolta. É a maneira como falam com as pessoas. O clima está péssimo”, lamentam os trabalhadores.
A Casa de São Pedro tem cerca de 150 trabalhadoras mas muitas estão de baixa, o que implica um acréscimo de trabalho a quem fica ao serviço. “Há dias em que devíamos estar três pessoas numa unidade e está apenas uma”, alertam, criticando a duração dos turnos que dizem chegar quase a 16 horas. “Estamos a ficar saturadas. Fazemos esta greve por não aguentarmos mais, estamos a rebentar”, apela Anabela Marques.
Também Hugo Pina, que trabalha no centro de dia há oito anos, diz que a situação é complicada. “Desde que esta direcção entrou passam o dia a vigiar-nos. É inadmissível. Antigamente contratavam pessoas para assegurar as férias dos trabalhadores efectivos, agora não o vão fazer. Isso significa que vai haver um défice de trabalhadores para cuidar dos utentes e não há autorização para contratar ninguém. As equipas vão ficar muito desfalcadas novamente”, lamenta.

Direcção luta contra herança pesada
A direcção da CSP é actualmente liderada por Luís Coelho, que substituiu António Baguinho após a sua morte (ver texto nesta edição). A O MIRANTE, o dirigente confirma que a direcção, que tomou posse há ano e meio, está a lutar contra o passivo herdado na instituição e lembra que todos os dirigentes estão no cargo voluntariamente para tentar ajudar a CSP. “Estamos a recuperar e renegociámos com fornecedores e bancos. Existiam dívidas aos trabalhadores que não tinham sido pagas e nós pagámos este ano. Isso mostra que o nosso esforço de gestão está a ter resultados. Fazemos o que é possível. Não temos nenhum valor em atraso aos trabalhadores”, garante o dirigente, prometendo que a instituição vai tentar pagar o subsídio de férias. Luís Coelho lamenta que os protestos laborais prejudiquem a imagem da CSP.
“Isto não vem ajudar a dar a volta. Tivemos no início do mês uma reunião com o sindicato, acordámos fazer uma avaliação conjunta para estudar a reavaliação dos horários no final do mês e eles decidem marcar uma greve. Tudo bem, não podemos limitar estes direitos”, afirma o dirigente. Segundo o relatório e contas de 2023 da CSP, os 160 mil euros entregues pela Segurança Social no âmbito do Fundo de Socorro Social foram usados para pagar subsídios de férias das funcionárias que estavam em atraso de 2022, retroactivos salariais de 2022, retroactivos salariais de Janeiro a Agosto de 2023 e um pagamento de 27 mil euros em dívida a fornecedores.

Baixas sobrecarregam quem está no activo
“Percebo que temos uma taxa de absentismo elevada, há muitos funcionários de baixa o que provoca um sacrifício maior nos restantes mas não podemos ter mais funcionários do que aqueles que podemos pagar”, lamenta o dirigente, garantindo que ao dia de hoje a instituição está “a cumprir escrupulosamente a lei” e os rácios em vigor, algo que os trabalhadores contestam. Vinca que a CSP não está falida e até se encontram em curso obras de ampliação da estrutura para aumentar a oferta, o que permitirá crescer a receita. Parte das obras são apoiadas, em cerca de 80 mil euros, pelo município de Vila Franca de Xira através do Programa de Apoio ao Movimento Associativo.
O dirigente diz que a generalidade dos trabalhadores presta um serviço de grande qualidade e de amor à camisola “que não pode ser denegrido por causa de meia dúzia de pessoas que diz o contrário”. Luís Coelho admite que quem trabalha na CSP merece e precisa de ganhar um ordenado maior, “mas é preciso a instituição ter condições para pagar e neste momento não tem”.

António Baguinho. fotoDR

Morte de António Baguinho passou ao lado de autarcas

Presidente da Casa de São Pedro era uma figura conhecida na comunidade de Alverca e faleceu em Dezembro do ano passado na sequência de complicações cirúrgicas.

António Manuel Baguinho, de 77 anos, foi presidente da Casa de São Pedro de Alverca e morreu em Dezembro de 2023 na sequência de complicações cirúrgicas. Pela importância do seu percurso e papel na comunidade de Alverca teria merecido um voto de pesar em reunião de câmara que nunca aconteceu. Numa altura em que a Casa de São Pedro voltou a ser notícia devido aos protestos dos trabalhadores, O MIRANTE evoca a partida de um homem que liderou uma das principais instituições particulares de solidariedade social do concelho e que vivia em Alverca do Ribatejo há 60 anos. Pai de dois filhos, formou-se academicamente na Escola Industrial e Comercial de Évora e frequentou o Instituto Superior Técnico de Lisboa. Foi técnico industrial de engenharia e responsável dos sectores de produção, montagens e manutenção em empresas como a OGMA, MAGUE, ABB, ALSTOM e na SMM.
Colaborou no início da actividade do CEBI de Alverca, foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcáçovas, presidente do conselho consultivo da Casa de São Pedro de Alverca e dirigente do Futebol Clube de Alverca, onde também foi jogador e treinador tendo feito parte da equipa campeã distrital que, na época 1970/1971 levou pela primeira vez o clube ribatejano aos campeonatos nacionais. Era presidente da direcção da Casa de São Pedro e tinha mandato até 2026. António Baguinho é recordado pela comunidade como um homem afável, discreto e amigo do seu amigo, parecendo austero a quem não o conhecia. Os valores da honra, solidariedade e seriedade nunca o abandonaram.

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