Sociedade | 07-07-2024 10:00

Uma família síria fugida da guerra procura refazer a vida no Cartaxo

Uma família síria fugida da guerra procura refazer a vida no Cartaxo
Ghalia Fátima: “gosto muito de ajudar, porque todos vamos precisar de ajuda um dia”

Ghalia Fátima é uma jovem síria com o sonho de ser médica ou arquitecta para salvar vidas ou ajudar a reconstruir o seu país. Chegou a Portugal em Dezembro de 2016 e tem sido um orgulho para os pais e para os professores da Escola Básica Marcelino Mesquita, no Cartaxo.

Ghalia Fátima, de 17 anos, fugiu da cidade de Alepo, na Síria, com os pais e o irmão, agora com 14 anos, no final de 2015. É aluna do oitavo ano na Escola Básica Marcelino Mesquita, no Cartaxo, pertence ao quadro de excelência e ao de valor pelas notas e boas atitudes para com os colegas e tem o sonho de ser médica ou arquitecta para salvar vidas ou reconstruir o seu país: “gosto muito de ajudar, porque todos vamos precisar de ajuda um dia”.
“O presente que posso dar aos meus pais neste momento são os meus bons resultados”, refere a jovem, que iniciou os estudos em Portugal no terceiro ano no Colégio Marista de Carcavelos. Ghalia Fátima fala fluentemente português, mas tem dificuldades em expressar-se sobre o passado. Não chegou a ver guerra ou mortos, mas recorda que vivia escondida com os pais na casa dos avós e lembra-se do medo que sentiam quando iam pelas ruas vazias visitar a própria casa. “Às vezes ia o meu pai sozinho e ficávamos com medo que não voltasse”, diz com tristeza.
Eman Assaf, de 33 anos, e Mohamad Fátima, de 43, estão a aprender português online e é com a ajuda da filha que explicam que a vida na Síria antes do conflito era muito parecida com a de Portugal. “Era cheia de paz, segurança e felicidade. A Síria era um dos países mais seguros do mundo. Tínhamos muita indústria e os nossos produtos circulavam pelo mundo”. Eman Assaf nunca trabalhou para se dedicar inteiramente à casa e aos filhos; Mohamad Fátima desenhava, fabricava e vendia móveis. Entretanto trabalhou num restaurante em Carcavelos e a família prefere não entrar em detalhes sobre a situação actual.
Ghalia Fátima acrescenta que os pais saíram do país ilegalmente e tentaram entrar na Turquia, uma viagem que incluiu um percurso a pé, de autocarro e de barco, tendo sido apanhados na primeira tentativa e deportados para a Síria. O objectivo era a Grécia, onde viveram nove meses. Chegaram a Portugal em Dezembro de 2016 e quando acabou o contrato da casa em Carcavelos, a família encontrou abrigo no Cartaxo, uma cidade que descrevem como tranquila e onde as pessoas “são muito queridas”. “Foi difícil por causa da cultura e da língua”, confessa Eman Assaf, reforçando que não gostam de ser apelidados de refugiados. Ghalia Fátima tem duas irmãs de nove e sete anos a frequentar a Escola Básica do 1.º Ciclo José Tagarro. Os pais estão bastante orgulhosos por em pouco tempo dominarem a língua e terem excelentes resultados. “Estaremos sempre ao lado deles”, concluem, acrescentando que o futuro passará por ficarem em Portugal.

Mais de um milhão de refugiados

A Síria enfrenta os níveis mais elevados de necessidades humanitárias desde o início do conflito, há 13 anos, alertaram as Nações Unidas (ONU) no dia 26 de Junho, numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, sendo que mais de 650 mil crianças com menos de cinco anos apresentam sinais de atraso no crescimento devido à desnutrição grave e um terço vive em situação de pobreza alimentar. Segundo o site do extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Portugal foi um dos estados-membros que desde o início se disponibilizou para receber refugiados que se encontravam na Itália e na Grécia. De acordo com a EuroDefense-Portugal, a evolução da Guerra Civil da Síria levou a que o conflito se tornasse o pior do século XXI, por ter retirado a vida a mais de 380 mil pessoas, entre as quais mais de 115 mil civis. Em 2015, mais de 1 milhão de pessoas fugidas do conflito encontraram na Europa uma oportunidade.

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