Joaquim Júlio: o campino que nunca foi à escola e dormia com cavalos
Natural de Benavente, o campino Joaquim Júlio recebeu dois baptismos: o de nascença e a alcunha do jogador do Belenenses “Matateu”. Nunca foi à escola e começou aos sete anos a aprender a arte da campinagem. Deixou o trabalho no campo há dez anos mas agora vai fardar-se para ser homenageado na Festa do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira.
Joaquim Júlio Ruivo Correia, conhecido por “Matateu”, é aos 77 anos o campino que vai ser homenageado este ano na Festa do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira. O campino, natural de Benavente, disse a O MIRANTE que foi com surpresa que recebeu a notícia de que ia receber o Pampilho de Honra na festa maior do Ribatejo, em que só participou duas vezes.
Filho de Joaquim e Ilda Augusta, o mais velho de 12 irmãos nunca foi à escola e não sabe ler nem escrever. Começou a trabalhar com sete anos, com Ernesto Batateiro, na Quinta da Foz, em Benavente. Aos nove anos já estava na Ganadaria de Rafael Mendes Calado, na Herdade do Monte da Saúde, em Benavente, onde aprendeu a lidar os touros com o tio, João Garrafão, que era maioral.
Passou pela ganadaria Manuel António Lopo de Carvalho e por último trabalhou na casa de António Marques, em Benavente. “O meu pai avisava-me para ter cuidado e não me aleijar. Eu chegava a amarrar o cavalo a um pé para o animal me acordar. Hoje em dia a malta na campinagem trabalha com tractores e mota, os cavalos já são poucos. A tradição é mais bonita e devia manter-se”, relata ao jornal.
“Matateu”, nome de um jogador do Belenenses do século passado que lhe valeu a alcunha, deixou de trabalhar no campo há uma década, quando saiu da casa emblemática de David Ribeiro Teles, onde esteve 16 anos. Recorda o susto que apanhou quando um touro o despiu todo, só ficando as botas e o relógio de pulso. Em relação à campinagem é a favor que seja feita por imigrantes até porque muitos jovens não querem enveredar pela profissão. Os ordenados são baixos para o esforço físico que é exigido. “Já tivemos brasileiros a aprender e não vejo mal nenhum. Mas está tudo a acabar porque os campinos têm de ser também tractoristas”, diz.
Homem de pouco alimento, garante que fica bem com dois carapaus. Joaquim Júlio Ruivo Correia disse à família que nunca mais se fardava mas foi apanhado de surpresa e vai voltar a vestir-se de campino no próximo sábado, dia 6 de Julho, para ser agraciado às 16h00 na Praça Afonso de Albuquerque, na Festa do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira.