Sociedade | 15-07-2024 07:00

Sardoal trabalha para ser bom exemplo na gestão da floresta e prevenção de incêndios

Sardoal trabalha para ser bom exemplo na gestão da floresta e prevenção de incêndios
Miguel Borges, presidente da Câmara de Sardoal

Presidente da Câmara de Sardoal admite que foi preciso acontecer a tragédia de 2017 para que todos se convencessem que algo tinha que mudar no que toca à gestão do território. A substituição do solo florestal por solo agrícola é uma das medidas em desenvolvimento no concelho para minimizar o risco de incêndio e a sua gravidade.

Miguel Borges é presidente da Câmara Municipal de Sardoal há onze anos, mas foi só no ano passado que não vestiu o colete da protecção civil “uma única vez”. O autarca, eleito pelo PSD e que cumpre o último mandato, reconhece que não pode dizer que o facto inédito se deveu às faixas de gestão de combustível, mas acredita que ajudaram. “Nenhum incêndio nasce grande, todos eles nascem muito pequenos”, lembrou, em entrevista à Lusa, junto a uma plantação de cactos onde outrora havia eucaliptos e pinheiros, servindo agora de faixa de contenção de incêndio. “Se conseguirmos apagar o incêndio nos primeiros 15 minutos é sucesso, a partir daí o incêndio muitas vezes só se apaga quando ele próprio quer e, para que haja esses 15 minutos, é preciso que os terrenos estejam limpos, que existam essas faixas, para que a propagação não seja rápida”, sublinha.

No início, Miguel Borges foi muito crítico do programa “Aldeia Segura Pessoas Seguras”, criado em 2018 e ao qual já aderiram 38 dos 40 aglomerados do concelho de Sardoal (os outros dois só não o fizeram pelas suas dimensão e características). “Continuo a ser [crítico], mas de uma forma mais moderada, até porque o trabalho está a ser feito. Na verdade, […] até 2017 não sabíamos o que queríamos fazer da nossa floresta, andávamos todos ao engano”, diz. “Foi preciso uma tragédia” – a dos incêndios em Pedrógão Grande, que mataram 66 pessoas e feriram mais de 250, destruindo também meio milhar de casas e 50 empresas – para que todos se convencessem que “algo tinha que mudar”, reconhece.

Neste contexto, o autarca não consegue compreender como é que há câmaras municipais que ainda não aderiram ao “Aldeia Segura Pessoas Seguras”, defendendo que a adesão passe a ser “obrigatória”. No relatório de 2023, a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) registou uma adesão “substancialmente abaixo” das expectativas. O ano passado registou o menor aumento desde o início do programa: somente mais 12 aldeias aderiram, num total de 2.242, das quais menos de metade tem planos de evacuação para fogos.

Ao mesmo tempo, “o cadastro não está feito em todo o lado, há pessoas que têm terrenos e não sabem que são donos de terrenos”, realça Miguel Borges. Um dos desafios é agora convencer os proprietários a entregarem a gestão dos terrenos à AGIF. “Continuarão sempre a ser os proprietários, o que farão é entregar a gestão desse espaço a uma entidade que fará o tratamento”, explica o autarca, reconhecendo que “estas coisas não se mudam por decreto de um dia para o outro”.

Condomínio de Aldeia em fase inicial

Enquanto isso não acontece, no concelho de Sardoal dá-se mais um passo: está em curso a adesão ao Condomínio de Aldeia, um programa complementar, dirigido a aldeias localizadas em territórios vulneráveis de floresta, que passa por criar uma faixa de gestão de combustível de 100 metros em redor dos aglomerados populacionais (ou 50 metros em redor de habitações dispersas) e que financia a substituição do solo florestal por solo agrícola.

No concelho, 36 aldeias de três freguesias, com mais de duas mil pessoas, vão aderir ao programa, num investimento de mais de um milhão de euros. Uma parte já está a executar o programa, uma segunda já recebeu aprovação e uma terceira aguarda a aprovação da candidatura. A operação já é visível, faltando “arrancar alguns cepos e preparar o terreno” para a próxima época de plantação, a partir de Outubro, explica Nuno Morgado, comandante dos bombeiros municipais e coordenador municipal da proteção civil no concelho de Sardoal. “Nunca podemos dizer que estamos totalmente preparados”, reconhece o comandante, sublinhando que estes programas, criados para responder aos incêndios rurais, se aplicam a “todos os perigos”, desde um sismo a fenómenos climáticos extremos.

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